65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
sexta-feira, abril 14, 2006
Voltando ao tema da escolha de Itaboraí
Vou também me fazer de vítima e assumir logo o papel de Judas que o dia sugere. O que não vou é depois dizer, conforme a nova versão que circula, de que como Judas agi a pedido do "mestre". Assim, reescrevo o que já havia aqui dito em nota logo no dia seguinte ao anúncio do local da sede, mais propriamente, no dia 29 de março:
Saindo do discurso único
Embora discordando, prefiro os que tiveram a coragem de assumir a posição contrária à vinda para cá do pólo petroquímico pelos receios e/ou certezas das conseqüências ambientais e sociais que o investimento do porte do pólo petroquímico trariam para a região do que daqueles que hoje dizem que é saudável e uma boa política pública a de repartir a riqueza gerada pela cadeia produtiva do petróleo aqui gerado.
A priori vejo nesta argumentação pelo menos duas inconsistências:
1) A defesa da desconcentração da riqueza da cadeia do petróleo sem considerar o estímulo a concentração de investimentos na já congestionada região metropolitana do estado gerando mais migração a partir do interior e conseqüente desordem urbana;
2) Na era pós-petróleo na Bacia de Campos, no futuro daqui a vinte ou trinta anos, não haverá, por melhor que sejam investidos os recursos dos royalties do petróleo, como substituir esta atual receita, lembrando que os impostos municipais que os investimentos em agricultura, indústria ou serviço gerarão são infinitamente menores do que esta receita.
Óbvio que é preferível o desenvolvimento regional baseados nas suas potencialidades do que mega-investimentos externos. Porém, a teoria, não pode ser aplicada ou interpretada de forma tacanha que desconsidere a situação de uma região sem similaridade no tempo e no espaço tanto no Brasil quanto no exterior. O debate que agora é só acadêmico porque a decisão que vale já foi tomada passará para a história e poderá ser motivo de estudos, teses e artigos, mas, precisa ser mais centrado na realidade do que no discurso único do desenvolvimento local desfocado do diagnóstico de cada situação.
Complementando o que foi dito antes, acrescento mais dois pontos:
a) A luta pela boa utilização dos recursos dos royalties nada, ou pouco tem a ver com a escolha de Itaboraí. A necessidade de intervenção é antiga e há muito esquecida ou abandonada inclusive pelos setores mais informados da sociedade. Porém, por mais que se avance nesta desejável participação da sociedade nesta discussão e se consiga uma utilização “ótima” em termos de democratização do acesso a estes recursos com inclusão social ela nunca conseguirá nem de perto se aproximar no futuro das receitas que adviriam deste outro empreendimento;
b)Não há porque imaginar que em Itaboraí haverá mais ou menos planejamento para redução dos impactos gerados pela implantação de empreendimento do porte do pólo petroquímico. Julgar que por lá estará democratizando o acesso a recursos da cadeia produtiva do petróleo é avaliação calcada em “achismo” e não na análise, mesmo que superficial, dos fatos.
Enfim, pelo menos, para isso pode ter contribuído a hipótese da cidade vir a ser sede do pólo: acordar parte da sociedade que, se não olhavam para seus umbigos, contemplavam as estrelas, isso sem falar naqueles que buscavam uma “verbinha” para suas pesquisas e outros menos respeitáveis que corriam mesmo atrás das bolsas de estudos.
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