A lagoa do Campelo é típica de restinga. Já foi maior do que a área ultimamente informada de 9,5 Km². Suas águas originam-se da chuva, de lagoas menores ao seu redor e do rio Paraíba do Sul numa comunicação feita através de um canal. A vegetação marginal é de taboa e aguapé que hoje se expandiu excessivamente provocando a redução visual da área de lâmina d’água, assim como a redução da profundidade e também a formação de pequenas ilhas.
Estima-se que até pouco tempo havia cerca de 100 pescadores profissionais distribuídos em cinco núcleos rurais situados à margem da lagoa que atuam especialmente na época da entressafra da cana-de-açúcar.
As maiores interferências feitas neste ecossistema foram a construção de um dique-estrada e três comportas no canal de ligação com o rio Paraíba. Este canal já foi algumas vezes dragado, mas a situação normal é de assoreamento ampliado pela enorme quantidade de aguapé. Há uma comporta próxima à Usina São João. Reclama-se que o fechamento desta comporta impede a entrada, durante as enchentes, de piaus, cumatãs, caximbaus, robalos, corvinas e pitus. Alega-se que na época das cheias, quando ocorre o processo da piracema, as comportas não podem ser abertas para não causar inundações em alguns bairros de Campos, que se situam abaixo do nível da lagoa.
Por conta desta interferência no dia 13 de agosto de 1980 ocorreu uma manifestação onde os pescadores da lagoa do Campelo arrancaram as comportas instaladas no canal do Cataia, que ligava esta lagoa ao rio Paraíba do Sul. O DNOS realizou na época obras de drenagens em torno da lagoa do Campelo acabando com os rios Ponte e Pires, restando o canal Cataia, que era um canal natural. Simultaneamente, foi construído um dique na margem esquerda do rio Paraíba do Sul, a fim de impedir seu transbordamento e, por cima desse dique, construíram uma estrada, que, ao cruzar o canal Cataia, recebeu a colocação de três manilhas com três tampos com dobradiças voltados para o rio, como se fossem comportas automáticas. As comportas se abriam ou fechavam de acordo com o nível d’água do rio Paraíba do Sul em relação ao nível da lagoa. A entrada de água do rio Paraíba do Sul para a lagoa, controlada até então pelos ciclos de cheia do rio Paraíba do Sul, passou a ser regulada por comportas.
Para os pescadores interessava a manutenção do canal aberto, pois junto com a água do rio vinham os peixes, melhorando significativamente o rendimento da pesca na lagoa do Campelo. Assim, no dia mencionado anteriormente, arrancaram as comportas instaladas pelo DNOS, permitindo a passagem da água. Por sua vez, aos proprietários rurais interessava o controle das comportas de forma a não inundar suas plantações. Daí o conflito. Vale ressaltar que a expansão da atividade agrícola na área do entorno da lagoa do Campelo se deu após as obras do DNOS, enquanto a pesca, por sua vez, é uma atividade tradicional na localidade de Mundéus.
Fonte: Marcelo Corrêa Bernardes (1) e Lisia Vanacôr Barroso (2); (1) Pesquisador da Universidade Federal Fluminense e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (2) Funcionária do Ibama - Revista Ecologia e Desenvolvimento n° 58 Ano 95.
PS.: Veja um Álbum com 33 fotos da Lagoa do Campelo e o seu entorno clicando aqui.
Um comentário:
obrigado por essa informação
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