terça-feira, setembro 12, 2006

Veríssimo questiona a moralismo

"O objetivo do moralismo não é, necessariamente, a moralidade" Aproveito a ocasião da divulgação das prestações de contas dos candidatos locais para trazer à tona trechos de um dos últimos artigos do magnífico Luiz Fernando Veríssimo que foi muito feliz ao abordar os usos do moralismo que a gente tem visto em alguns discursos e bate-papos, veja:
“A imoralidade endêmica brasileira nem exige que a gente viva em permanente estado de indignação, o que impossibilitaria a vida, nem absolve imoralidades menores ao ponto de nada nos indignar”. “O objetivo do moralismo não é, necessariamente, a moralidade. Como o colesterol, existe moralismo ruim e moralismo bom, com efeitos diferentes no organismo nacional, com perdão da metáfora médica prolongada. Já foi em muitos momentos da nossa História. Ajudou a eleger o Jânio Quadros, que iria varrer toda a sujeira deixada pelo governo Juscelino, e cuja renúncia inaugurou um dos piores períodos da nossa vida institucional. Culminando com o golpe militar de 64, que também nasceu do moralismo, ou da cooptação de valores cristãos ameaçados pelo demônio vermelho. Foi o moralismo que elegeu Collor, para acabar com a pouca-vergonha dos marajás do serviço público. O moralismo mal usado tem um prontuário quase maior do que o da corrupção na História destes últimos 60 anos”. “O pior do moralismo é o oportunista, para uso de acordo com a conveniência política”. Veríssimo encerra de maneira ainda mais brilhante com a análise da situação atual: “O fato das denúncias de corrupção do governo Lula não estarem, aparentemente, afetando o julgamento da maioria dos eleitores sugere uma de duas coisas, dois pontos. Ou o moralismo já não tem o poder político que tinha nas nossas eleições (suspiros de alívio ou de decepção à vontade), ou os eleitores declarados do Lula estão sabendo distinguir o moralismo de ocasião, cujo objetivo é tudo menos a moralidade, do moralismo legítimo. Ou claro, estão votando contra a imoralidade maior”.

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