quarta-feira, novembro 08, 2006

"Nitroglicerina pura"

Em 1996, na condição de presidente do Conselho dos Diretores dos Cefets e das Escolas Técnicas Federais eu estava junto de alguns outros dirigentes e assessores do Ministério, em uma reunião no gabinete do então ministro da Educação, Paulo Renato Souza. Discutíamos uma questão delicada para nossas instituições. O governo estava decidido a proibir que estas instituições ministrassem também a parte de educação geral, também chamada de propedêutica.
O ministério tinha uma leitura, feita a partir de um estudo de diagnóstico, que induzia ao entendimento de que nossa rede tinha um custo muito alto para formar bons alunos que, ao invés de, irem para o mercado de trabalho estavam indo, na sua maioria, especialmente nas regiões metropolitanas mais avançadas do país, para as melhores universidades em graduações muitas das vezes bastante diferentes daquelas cursadas na rede federal de ensino.
Resistíamos à mudança com um diagnóstico distinto. Considerávamos que o diagnóstico do Ministério não levava em consideração, o que ocorria em diversas outras regiões do país, onde estas escolas serviam de referência de qualidade e muitas vezes era, a única opção, para uma matrícula em ensino médio e público de qualidade.
Outro receio que tínhamos é que depois disso, o governo FHC, a partir daí, quisesse se desincompatibilizar, em todo, ou em parte, do financiamento desta importante rede. A reunião foi tensa e durou dois turnos, encerrando-se ao final da tarde. O ministro participou da primeira metade e da parte final quando bateu o martelo.
Na verdade, o ministério já tinha algumas decisões, mas, apenas estava evitando uma grande resistência e alegação de falta de diálogo. Na tentativa de validar o seu diagnóstico, os assessores do ministério jogavam pesado, tanto nas argumentações técnicas, quanto naquelas de ordem política. Em dado momento, na falta de argumento técnico, um deles chegou a dizer que o governo havia sido eleito com tantos milhões de votos para implementar o seu programa e que não iria deixar de fazê-lo.
Os ânimos se acirraram. De pronto, aleguei que se eram esses os argumentos, que eles deveriam então implementar o que achavam melhor, sem querer dizer que havia tido diálogo e que assumissem a responsabilidade pelas resistências que elas certamente criariam. Seguiram-se, os apelos de calma, vamos conversar e coisa e tal e a conversa voltou ao normal.
Neste momento, lembro-me perfeitamente, que usei novamente da palavra e disse que compreendia o interesse deles em fazer reformas, que compreendia que algumas eram necessárias, que não julgava nosso custo-aluno caro, quando comparado ao mesmo tipo de ensino em outros países e também aos melhores colégios particulares no Brasil. Mais, falei que se era para fazer uma reforma profunda, deveríamos propor um Fundo Nacional de Manutenção da Rede de Educação Tecnológica do país, aí incluído os chamdos “S”, do Senai, Senac, Sest, Sebrae, etc.
A partir daí, o ministro propôs um meio termo em sua proposta num prazo de cinco anos, que está se transformando em dez e também "sugeriu" que dialogássemos sobre outros pontos, porque esta questão era muito profunda e explosiva. Nas suas palavras: esta discussão era “nitroglicerina pura”.
Lembrei-me de tudo isso, ao ver, o atual ministro da Educação Fernando Hadad, levantar proposta semelhante na segunda-feira, na 1ª Conferência Nacional de Educação Profissional e Tecnológica que foi encerrada hoje em Brasília. Haddad defendeu a destinação de 30% dos recursos das contribuições sociais do sistema ao ensino profissionalizante da rede pública, especialmente ao ensino médio. A proposta é interessante sob o ponto de vista da inclusão social, mas aguardem e vejam o estouro que produzirá.

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