Uma entrevista concedida no dia 13 de fevereiro no Jornal, Folha Dirigida, pelo professor da Uerj, João Moderno, que também é presidente da Sociedade Brasileira de Filosofia vem sendo considerada uma ofensa à Uenf e à comunidade regional. Ela foi rebatida por uma carta do professor Raimundo Braz, reitor da Uenf.
Veja abaixo alguns trechos da entrevista do Moreno e depois outros da resposta do Raimundo Braz que eu endosso. A visão do Moreno é similar à de um grupo de educadores que tentaram, durante os dois governos de FHC, implantar no país, os chamados “Centros de Excelência” as quais seriam dada, toda a estrutura de uma universidade do quilate das melhores do mundo, em detrimento das demais.
Pelo raciocínio do João Moreno, a Unicamp, que é uma universidade estadual não atingiria o patamar da USP, outra universidade estadual. O equívoco dele é o de interpretar que só cabe uma universidade, bancada pelo governo estadual, no Rio de Janeiro é hoje uma visão superada e minoritária na academia. O estado de Santa Catarina há muito já é o recordista em instalação de universidades estaduais nos pólos regionais, do próspero estado da região sul do nosso país. As interferências político-partidárias têm que ser rechaçadas, mas não à custa de visões centralizadoras e exclusivistas como a que o presidente de uma entidade científica passou em sua entrevista. Por outro lado, é saudável que a Uenf enquanto instituição regional sinta, mais uma vez, a importância de estar próxima à sociedade, porque diante de situações como esta será quem poderá defendê-la.
Veja trechos da entrevista do João Moreno e depois trechos da fala do reitor Raimundo Braz:
João Moreno:
"...Eu estou decepcionado porque, no governo anterior, aprovou-se a criação da Uezo. No governo do Brizola, Darcy Ribeiro conseguiu a construção da Uenf. Você começa a tirar dinheiro da Uerj, do estado. Quem está financiando as instituições é a verba do ICMS, que deveria ser toda da Uerj. Então estes recursos estão sendo retirados da Uerj. Você não consegue transformar nunca a Uerj em uma universidade de Primeiro Mundo, porque começa a retalhar o dinheiro por motivos político-partidários, para favorecer candidatos do Norte Fluminense em Campos. Na época era o Garotinho e deu no que deu, e no caso da Uezo certamente isso está sendo feito, certamente para privilegiar algum político da região. Então, o problema não é privilegiar o ensino público do estado. O problema é fazer demagogia, populismo com o dinheiro público. Toda a verba da Uerj é retalhada por um monte de penduricalhos, em uma universidade aqui, outra ali..."
"...Tem que acabar com todos estes penduricalhos políticos para eleger deputados federais e estaduais nestes grotões do estado e reforçar a Uerj. Eu fecharia todos estes centros, privatizaria a Uenf. Você vai criar uma universidade no Norte Fluminense para atender a uma estatal de economia mista que não rende dinheiro para o estado, mas sim para os acionistas, e mal paga ICMS. A Petrobras é uma das piores pagadoras de ICMS do estado, retira 83% do petróleo do estado do Rio e não investe aqui. Ou você opta em ter uma universidade a custo reduzido, a Uerj está cheia de espaço vazio, ou vai gastar dinheiro construindo prédios gigantescos em vários pontos do estado. Isso é um custo de maluco..."
"...Não há planejamento estratégico, você precisa de um para o ensino superior do estado do Rio. E pela Constituição Estadual isso é a Uerj. É ela quem tem que liderar isso. Já existe Uerj em algumas localidades. Você, assim como a construção de outras instituições, vai criar um sistema medíocre, um monte de pequenas universidades sem a menor importância, fazendo pesquisa boba, que não dará resultado nenhum, ao invés de criar uma instituição de força internacional, criando patentes, desenvolvimento de ciências humanas, naturais. Você está abrindo quitandas universitárias, franquias com dinheiro público. Se você quiser fazer isso com dinheiro privado, problema de quem quer fazer. Mas ao se fazer com dinheiro público, isso vira um ciclo vicioso que não vai gerar nada além de mandatos de deputados, senadores. Isso é muito bonito, as pessoas vão lá, se matriculam. Agora, o recolhimento do ICMS não é infinito e dizer que isto não vai diminuir recursos das instituições existentes, eu quero saber que mágica é essa. Se o dinheiro não está entrando na Uerj, está saindo. Se não está tirando o dinheiro de lá, tira-se de onde? Outra coisa..."
Resposta do reitor da Uenf, Raimundo Braz:
"A Uenf surgiu de um movimento social de educadores de Campos e somente depois os políticos se envolveram para viabilizar o projeto. E tem mais, não sofremos qualquer tipo de interferência política e partidária. Temos a nossa autonomia administrativa e ela funciona na prática."
"...Em 23 de outubro de 2001, através da Lei complementar nº. 99, a Uenf conquistou sua autonomia jurídica, separando-se da instituição mantenedora, passando a se chamar Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro e incorporando, desta forma, o nome de seu fundador, em consonância com a Lei nº. 2786, de 15 de setembro de 1997. É de se registrar que as eleições para reitor e vice-reitor da Uenf são realizadas por voto direto e secreto dos três segmentos da comunidade universitária (docentes, discentes e técnicos-administrativos, nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e que não há mecanismo de listas tríplices. Por força do Estatuto da instituição, apenas o nome do candidato mais votado pela comunidade universitária é enviado ao governo do Estado para nomeação. Este fato bastaria para demonstrar que a Uenf é uma instituição de estado — autônoma, pluralista e laica — e desmentir o que levianamente se afirma na referida matéria sobre supostas motivações político-partidárias para sua existência."
"A Uenf conta hoje com 283 docentes — todos com título de doutorado e dedicação exclusiva — e um total de 5.082 alunos. Destes, 4.132 são estudantes de graduação (2.132 matriculados nas Licenciaturas e Bacharelados e outros 2 mil no ensino a distância, pelo consórcio Cederj) e 950 de pós-graduação (465 alunos de mestrado, 285 de doutorado e outros 200 incluídos na modalidade alunos especiais, cursando disciplinas avulsas)."
"Até janeiro deste ano, foram defendidas 1.170 teses. A Uenf possui 89 grupos de pesquisa do CNPq, que mobilizam 300 pesquisadores, 460 estudantes e 140 técnicos, totalizando 271 linhas de pesquisa. Grande parte deste aparato de pesquisas está voltado para a investigação de temas de interesse regional."
"A interiorização do ensino universitário e da produção científica é uma das nossas bandeiras de luta, de modo que repudiamos a idéia retrógrada segundo a qual o Estado deve concentrar apenas na capital o ensino público universitário. Temos, inclusive, tentado viabilizar cada vez mais a interiorização da própria Uenf nos municípios do Norte/Noroeste Fluminense."
"Restringir o ensino universitário à capital do Estado é deixar fora dele milhares de jovens que não têm recursos para se manter em uma cidade grande. Por outro lado, sabe-se que a realidade do interior é muito diferente daquela observada na capital. Temos problemas e questões que certamente não chamariam a atenção dos pesquisadores sediados no Grande Rio. Situações onde a presença da universidade, realizando pesquisas e atividades de extensão, é fundamental para colaborar com o Estado na superação de suas mazelas sociais e econômicas."
"Por fim, queremos dizer que a luta por mais verbas para as universidades jamais deve criar um conflito entre as instituições. O momento é de união, não de divisão. O caminho para a melhoria das condições financeiras das universidades não passa pela recusa em tornar o ensino universitário mais acessível a todo o território fluminense, mas por ações específicas visando ao aumento dos recursos. Sabemos o quanto a educação é importante para o desenvolvimento social e não podemos, jamais, abrir mão disto.”
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