segunda-feira, maio 28, 2007

Espremendo o açaí – taí o balanço!

O que sobrou do encontro da Anpur em Belém? Além das belas imagens, da história e dos desafios desta magnífica cidade que fervilha contrastes, este blogueiro posta abaixo, um pequeno balanço com três observações que se inicia, com a que trata do tema das compensações financeiras pela produção mineral - motivo de sua praticipação - e as outras duas de ordem geral sobre a diversidade de apresentações e debates:

A “Maldição Mineral” atinge diferentemente territórios e populações
Sobre os municípios produtores que recebem as compensações financeiras pela extração de minério há duas observações numa comparação com os municípios produtores de petróleo:
a) A magnitude de suas receitas são infinitamente menores que os valores recebidos por aqui;
b) Para se ter uma idéia dos valores, o município de Paraopeba que é o maior recebedor em 2006 arrecadou como receita pela extração mineral a quantia de R$ 77 milhões, aproximadamente dez vezes menos que Campos com o petróleo;
c) As dificuldades em monitorar os valores repassados pela cobrança pelo DNPM (Departamento Mineral de Produção Mineral) que faz o papel de órgão regulador semelhante à ANP é imensamente maior, tanto pelos diferentes tipos de minerais explorados (ferro, níquel, manganês, bauxita, etc.), mas também, pela suas cobranças se darem sobre os valores líquidos e não, apenas pelo volume de produção e seu preço no mercado internacional como no petróleo;
d) O drama da extração e as conseqüências ambientais e sociais da extração por grandes ou pequenas empresas são terríveis tanto para o território como, conseqüentemente para suas populações. Como comparativamente, sempre é muito mais fácil entender, o que esse está falando, a realidade sobre a qual vivem estes municípios mineradores, especialmente no Pará é muito mais grave, por exemplo, do que a que vive Macaé como base das operações off-shore para exploração petróleo em nosso litoral. Enquanto brasileiros, não há que se considerar que cada um deve viver o seu problema, como o modelo municipalista brasileiro tem induzido. Floriano Godinho está certo quando insiste numa instância regional menos patrimonialista. Porém, esta é por enquanto, apenas, mais uma discussão.

Distância entre pesquisa & ação
Mais uma vez este blogueiro se impressiona ao ver que a academia (universidade) – ou melhor, os seus pesquisadores – elabora estudos interessantíssimos sobre a realidade em que vive milhões de pessoas e a maior parte deste conteúdo fica encarcerado, entre os próprios com raras pontes de diálogo com o objeto da pesquisa, que são as pessoas, as comunidades e as regiões;

O interesse crescente sobre a cidade
O significativo crescimento que o tema “cidade” desperta em diferentes áreas de estudo com os quais ele tem interface e diálogos. Desde especialistas em: cinema, arte, psicologia passando por engenheiros e economistas indo até, aos tradicionais interessados no tema, como arquitetos, geógrafos e outros cientistas sociais. A modernidade vem intensificando de forma - pode-se até dizer arrebatadora, a urbanização sobre o território, especialmente no último século.

A vida urbana que Jaques Le Goff já dizia que atraía as pessoas pelo convívio que oferece, agora parece impor, o “modus vivendi”, onde grupos ou tribos convivem, dividem, concedem e disputam a ocupação do território (como tanto gostam de conceituar os geógrafos e urbanistas) num processo de complexas relações.

Um olhar um pouco mais afastado dos conceitos permite até julgar, que talvez, mais nesta área que em outras, quanto mais se sabe, mais se descobre que o que se aprendeu até aqui é pouco para dar conta da complexa relação entre tempo e espaço. Isto sem falar nas virtualidades de contatos, redes e até cidades como o do “Second Life” que se ampliam, para além do espaço físico em velocidade e formas inimagináveis até então.

Por fim, há que se registrar que embora não conheça a produção científica de muitas associações de pós-graduação, a da Anpur, mesmo com alguns problemas, há que ser reconhecida, como extremamente eficiente, em termos de apresentação, publicação e organização de debates e, sobretudo, sobre a democracia respeitada na convivência de diferentes opiniões e idéias.


Sobre a vaidade dos intelectuais e suas idiossincrasias, há que lembrar, que se trata de humanos. Vale, para verdadeiramente encerrar lembrar Fernando Braudel que traduziu o tema desta forma: “as cidades são como transformadores elétricos: aumentam as tensões, precipitam as trocas, caldeiam constantemente a vida dos homens”.

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