65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
domingo, julho 01, 2007
Gol contra
No Brasil é costume, a cada escândalo, se falar mais mal dos corruptos que dos corruptores. No caso do Roriz então é mais que perceptível, a forma como a mídia vem escondendo Sr. Nenê da Gol. Como professor durante um bom tempo usei em minhas aulas, uma entrevista da jornalista Thaís Oyama, feita em setembro de 2000, para revista Veja, com o Constantino de Oliveira, Sr. Nenê.
O tema da aula em que usava o texto de quatro páginas como detonador do assunto era: “a ética nos negócios”. O texto tem filigranas interessantíssimas. Na época, a Gol Linhas Aéreas S.A. ainda era um projeto do dono de uma frota de 6.000 ônibus, empregava 24.000 funcionários, transportava 1,2 milhão de passageiros por dia e comprava 9 milhões de litros de combustível por mês.
A reportagem começava dizendo: “Ele é um self-made man. Mas, se alguém chamá-lo disso não vai entender”. Prosseguia: “Aos 18 anos, adquiriu o primeiro caminhão, com seu nome pintado na boléia e um ditado enigmático no pára-choque: “Da vida só levarei ela”. Hoje já com 76 anos e com a disposição de continuar a ganhar dinheiro, provavelmente Sr. Nenê tenha mudado a maneira de pensar que possuía à época.
No entanto, as passagens mais interessantes desta sua entrevista é uma em que ele diz como descobriu o nicho de mercado do transporte de passageiros:
“Eu tinha um Chevrolet ano 49 e fazia frete para São Paulo e para o Rio de Janeiro. Carregava, madeira, gasolina, cebola. Uma vez, peguei uma carga de manteiga para levar para o Recife. Cheguei lá e depois de trinta dias e falei para o chapa (empregado contratado para descarregar o caminhão): “O que eu levo para o Sul?” Aí, o chapa disse para levar pau-de-arara. Eu perguntei o que era isso. Ele falou: “Uai, é gente. Põe aí umas tábuas no caminhão e escreve no pára-brisa: Rio-São Paulo”. À noite, o caminhão estava lotado. O povo chegava com o dinheirinho no bolso e já me dava na hora. Eu passei a pensar: passageiro é melhor que carga, porque ele entra e sai sem eu pôr a mão nele. Achei a coisa melhor do mundo”.
É provável que o fato acima tenha acontecido um pouco antes do presidente Lula, junto com a mãe e alguns irmãos usar o mesmo meio de transporte para chegar até São Paulo. Outro ponto da matéria mostrava a forma de Sr. Nenê se relacionar com os políticos:
“Nenê Constantino credita seu sucesso a Deus e muita persistência no trabalho. Um certo jeitinho mineiro também ajudou, como se vê nesta entrevista, primeira que o empresário deu em sua vida: Veja: Patrocínio a sua cidade natal possui três candidatos a prefeito. O senhor está apoiando algum? Nenê – ih, minha filha, eu apoio é todos. Eu vou até lá no final deste mês que é para apoiar eles todos. Veja: São concorrentes, adversários políticos. Nenê: Mas é que é cada um melhor que outro! Se eu pudesse, votava nos três. Como não posso, vou votar em um, falar para a Áurea votar no outro e um dos meus filhos vota no que sobrou”.
Não preciso dizer para o leitor deste blog, o sucesso, o debate e a discussão que tal matéria provocava em sala-de-aula. Depois que a Gol surgiu então, a curiosidade sobre a história de vida do Sr. Nenê e a forma como conduzia os negócios faziam os alunos se dividirem quase sempre, meio a meio, em relação a uma pergunta final que eu gostava de fazer: se eles julgavam viável criar um negócio e crescer sendo ético e cumprindo suas obrigações com trabalhadores, fornecedores, clientes e com os impostos governamentais?
Por tudo isso, não resisti à tentação de trazer para este blog os trechos desta matéria da revista Veja e partir deles, proponho que você se pergunte: por quê será que a mídia, até agora, não se interessou em tratar deste personagem?
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Um comentário:
É Roberto,
Esse "personagem" é pai daquele executivo que, após comprar a VARIG, deu a estranha declaração que as bandeiras teriam administração "autônoma" e estabeleceriam "concorrência" entre elas.
Imagino como este clã, que pela declaração do dileto pupilo se propõe a revolucionar o capitalismo, contribui com seu empreendedorismo pós-moderno para resolver os problemas do transporte aéreo do Brasil!
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