sábado, agosto 04, 2007

Por quê e para quê escrever?

Escolhi ontem como assunto para o artigo semanal no jornal a Folha da Manhã o significado do ato de escrever. O que ali está pensado vale para o espaço do jornal e também para o blog. Ele é mais uma provocação. Leia e não deixe de dar a sua opinião. Por quê e para quê escrever? Ultimamente venho pensando muito sobre a arte de escrever e sobre o poder das palavras. Muito antes da informática e da facilidade de comunicação que os tempos modernos trouxeram, a humanidade já tinha a ilusão de que o ato de escrever, de expor e tentar formar opiniões, convicções era uma forma de melhorar mundo. Qual o quê. Nem antes e nem agora isso ocorre. O mundo muda para melhor ou para pior independente das idéias que são escritas e expostas à reflexão dos outros. No máximo o ato de escrever serve para deleite do próprio e de alguns poucos que lhe passam a acompanhar a variação de opiniões. Mesmo um Rubem Braga que escrevia e era admirado por muitos, uma vez disse: “escrevi milhares de crônicas e não creio que tivessem qualquer influência na vida política do meu país”. Sem querer me comparar ao Rubem, lembro que quando passei a escrever neste espaço, mesmo que involuntariamente, acreditei nesta antiga ilusão de que escrever e ser lido poderia, de alguma forma ajudar a melhorar minha região. Pura infantilidade e presunção. Hoje, volto mais uma vez a concordar, com Braga quando ele diz que “no Brasil escreve-se para os colegas”. Como não sou escritor, acho, que nem para os “colegas” escrevo. Acho que escrevo apenas para aprender, para aprofundar, conhecer e guardar. Fernando Sabino disse a Clarisse Lispector em entrevista reproduzida no livro com este título da escritora que “a verdadeira inspiração é aquela que nos impele a escrever sobre o que não sabemos, justamente para ficar sabendo”. Perfeito para mim, porque explica que a ânsia de escrever deriva do esforço do eterno aprender. Não abandonei por completo, a idéia de melhorar as coisas e as pessoas através da escrita, mas hoje só vibro quando a escrita provoca reações, especialmente, as de discordâncias, pois assim, ela alimenta o debate, as discussões, a procriação de idéias e de críticas e mais que tudo: o antigo e eterno sonho que faz a gente insistir em ter um mundo que seja, ao menos, um pouco melhor. Escrever pode ser relatar, mas também pode ser refletir em voz alta, pensar, propor e revisar, conceito e opiniões. Por isso, hoje vejo que este exercício serve menos aos “colegas” e mais para nós mesmos, porque através do que escrevemos conseguimos descobrir quem somos.

Um comentário:

FÁBIO SIQUEIRA disse...

É Roberto,
Bela reflexão, boa provocação.
Fiquei com ela na cabeça e não dá pra fugir da polêmica. O notícia que fechou a edição de hoje do Fantástico foi uma nova pesquisa de opinião que comprova que a popularidade do governo não foi abalada pela tragédia de Congonhas. Zeca Camargo repete o que para mim é óbvio: apenas 8% da população se utiliza regularmente de transporte aéreo. Em que pese todo nosso pesar e consternação diante do drama pessoal dos familiares das vítimas do acidente, ficam as perguntas: O que explica o peso do chamado "apagão aéreo" na pauta da grande imprensa nos últimos meses? Por que se escreve - e se fala - tanto sobre um problema que afeta parcela tão pequena da população? Que interesses pautam a mídia?