65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
sexta-feira, janeiro 11, 2008
O cheiro
O blogueiro usou o espaço semanal no jornal Folha da Manhã, desta sexta-feira, para falar de coisas pessoais, ou nem tanto...
O cheiro
De todos os sentidos humanos guardo maior simpatia pelo olfato. Não quero com isso dizer que abriria mão, de algum dos outros, em prol do cheiro. Trata-se de simpatia mesmo, ou quem sabe, de personalidade. Através dele volto ao passado, revivo ambientes, pessoas e situações mais até mesmo, do que com a visão e a audição usados, por exemplo, para ver fotos e vídeos.
Já devem ter percebido que prefiro referir ao cheiro ao seu sinônimo: o olfato. É mais claro, direto e simples. Pois bem, o cheiro me transporta a momentos da infância, da adolescência, da juventude e a situações vivenciadas que qualquer um dos outros sentidos.
Já me peguei rindo sozinho, diversas vezes, ao passar por determinado local que me fizesse entrar neste túnel do tempo. Cheiro de Natal, cheiro de bolo na cozinha da infância. Cheiro de bola de couro nova. Cheiro de figurinhas. De pão assado direto na boca do fogão. O aroma (outro apelido sofisticado do cheiro) de pipoca na praça, etc.
Tem gente que associa cheiro apenas às comidas. Verdade que muita gente usa o olfato para escolher comidas. Algumas até são mais saborosas no cheiro do que no sabor. O melão campista talvez seja o exemplo mais evidente. Também já me peguei relembrando a juventude com cheiro de flores presentes no jardim da casa dos meus pais no Turfe. Cheiro de terra no início da tempestade. Cheiro da madrugada e dos primeiros minutos da manhã.
Quem nunca invejou o cheiro de churrasco feito pelo vizinho? Por falar em inveja lamentei por um amigo quando ele comentou, durante um almoço, ter perdido quase que completamente seu olfato numa cirurgia para correção dos problemas de uma sinusite crônica. Cheiro de dinheiro novo, de carro novo, de roupa velha, etc. levam aos questionamentos sobre a riqueza e a miséria... Cheiro do ralo, do sexo, do neném são buscas que ficam cada vez mais longe do que se procura.
O cheiro tem esta outra virtude. A maioria deles é difícil de ser buscada ou comprada como um perfume. Eles aparecem sem serem chamados ou desejados. Surgem numa esquina, num almoço, durante uma aula ou uma pregação religiosa e aí se instalam como trailers de filmes já protagonizados. Quase sempre são segredos que cada um de nós guarda com certa vergonha de expor. Fora os bons odores, não há como deixar de registrar o crescente mau cheiro exalado em torno dos royalties na nossa cidade. Xô, catinga!
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