65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
quinta-feira, fevereiro 14, 2008
O que diz o Bill Gates brasileiro
O ricaço Eike Batista, sócio majoritário do grupo empresarial MMX que está construindo o Porto do Açu, concedeu entrevista à jornalista Claudia Siqueira, na edição de janeiro, da revista Brasil Energia. Dali o blog retirou alguns trechos, que no entender deste, servem para a turma da região conhecer mais detalhadamente a figura que por aqui literalmente aportou.
“Eike Batista: O petróleo está se tornando um energético finito, muito devido ao crescimento brutal da China e da Índia. Acredito que haverá uma alteração dramática da matriz energética no mundo. E vai começar pelos EUA. Mesmo assim, quando são agregadas 2 bilhões de pessoas ao mercado de consumo, como atendê-las, se os grandes campos estão explorados? E o mais incrível é que aceitamos com a maior naturalidade a descoberta de Tupi (campo da Bacia de Santos), que está a 7.000 m do fundo do mar. Cinco anos atrás, isso era uma barreira tecnológica”.
Brasil Energia: Esse é o momento de ganhar dinheiro com petróleo?
Eike Batista: Não necessariamente se descobre grandes campos. Petróleo é risco.
No fundo, nossa estratégia é entrar num negócio no qual o produto está em ascensão. Obviamente há altas e baixas, mas a tendência é de aumento.
Brasil Energia: E quando foi tomada essa decisão?
Eike Batista: Há aproximadamente um ano. O Rodolpho Landim (ex-Petrobras e atual diretor-geral de Relações com Investidores da MMX, empresa do Grupo EBX da área de mineração) começou a me contar sobre o potencial que as bacias brasileiras tinham. Nunca havíamos mexido com petróleo no Brasil, porque acreditávamos que a Petrobras tinha um monopólio. Nós, brasileiros, tínhamos essa visão.
Brasil Energia: A ida de Landim para a empresa fez parte desse intuito de ingressar no setor petróleo?
Eike Batista: Não. Foi uma surpresa de conversa. A história da companhia é de exploração de ouro. A taxa de acerto para se descobrir uma mina de ouro é de 17.000 para um. O risco do petróleo em offshore no mundo é de 18 ou 19 para um. E no Brasil é acima de 30.
Brasil Energia: Então, é um negócio seguro?
Eike Batista: Só saberemos isso depois da pesquisa. Estamos muito otimistas. Essas bacias onde a OGX arrematou áreas nos leilões foram avaliadas por um pessoal técnico, que estima um número determinado de barris. Se for utilizada a taxa de 30% de acerto nessas áreas, poderemos achar 2 bilhões de barris.
Brasil Energia: Quem são os investidores financeiros da OGX?
Eike Batista: Sou o maior, com 70%. Mas não tenho direito de divulgar o nome dos outros. Os demais 30% são formados por um mix de investidores nacionais e estrangeiros. Isso para um capital de US$ 1,4 bilhão.
Brasil Energia: Qual é o faturamento do grupo?
Eike Batista: Estamos numa fase pré-operacional. O valor de mercado da MMX é de aproximadamente US$ 8 bilhões. O valor da LLX (logística) é de cerca de US$ 2 bilhões. O da MPX (energia elétrica), que abriu o capital em dezembro, gira em torno de US$ 4 bilhões. E o da OGX está entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões. Esse valor inclui o nosso portfólio, porque com ele faremos associações, faremos a sísmica 3D e atrairemos outros sócios.
Brasil Energia: Há uma meta de faturamento?
Eike Batista: A OGX pode se tornar a maior empresa do grupo. No petróleo são necessários três anos para apurar o resultado e mais quatro para colocar em produção. São sete anos, é o ciclo. Acreditamos que em 2015 essa pode ser uma empresa de US$ 30 bilhões a US$ 40 bilhões.
Brasil Energia: É uma bela projeção para uma empresa que começou agora.
Eike Batista: No Brasil, as pessoas não arriscam esse volume de dinheiro e ninguém pensa em sete anos. Pensamos em 50 anos, 100 anos. A estrutura que a LLX está montando em logística apóia a OGX. Os portos do Açu e Brasil estão na frente das bacias de Campos e Santos, onde adquirimos blocos. Existe uma sinergia colossal no grupo. Esse valor vai ser capturado. Há toda uma retaguarda de suporte à operação.
Brasil Energia: Quase toda a logística de operação do setor está nas mãos da Petrobras. Qual é a estratégia para a área?
Eike Batista: Na produção de petróleo, é colocado um navio ao lado da plataforma. É uma commodity. No gás não é assim. Para trazer um gasoduto para o nosso porto é necessário logística. A LLX está na frente do campo. Temos sítio para instalar pipelines ou mesmo gerar energia e passar um cabo elétrico ou usar o gás para consumo de nossas térmicas.
Brasil Energia: Depender da Petrobras assusta?
Eike Batista: Não. Faziam a mesma brincadeira em relação à MMX. Somos donos de toda a logística. Mina, estrada de ferro, pipeline e porto. Os portos que a LLX está construindo servirão de base para a OGX. E a MPX está sendo construída dentro dos portos, que receberão carvão e gás. Há uma sinergia entre essas empresas. E em escala gigante. Na MMX estamos investindo US$ 2,5 bilhões no projeto Minas-Rio. Tudo em caixa. A LLX vai investir US$ 3 bilhões nos portos. Tudo financiado. A MPX acabou de levantar US$ 1,2 bilhão para tocar seus projetos energéticos. E a OGX está com US$ 1,4 bilhão em caixa.
Brasil Energia: O grupo tem intenção de abrir o capital da OGX futuramente?
Eike Batista: Sim. Pode ser no fim de 2008.
Brasil Energia: Qual a sua avaliação sobre o primeiro portfólio da petroleira?
Eike Batista: Considero excepcional, porque compramos áreas nas quatro bacias talvez mais promissoras do mundo: Campos, Santos, Espírito Santo e Pará-Maranhão. Já largamos grande...
...O Brasil já era para estar jorrando mais petróleo. Com relação ao gás, de fato há o fator tempo. Vai acontecer daqui para a frente. Mas o potencial dessas bacias todas é gigantesco...
Brasil Energia: A OGX vai brigar pelas áreas do pré-sal, se elas forem disponibilizadas?
Eike Batista: Estamos aí.
Brasil Energia: Na sua avaliação, alguma coisa deu errado nesse ingresso?
Eike Batista: Absolutamente nada. Para ser sincero, foi o contrário. Ganhamos mais áreas do que esperávamos. Imaginávamos uma concorrência maior.
Brasil Energia: Com quem?
Eike Batista: Com todos. Quando o governo tirou as 41 áreas de pré-sal, o investidor achou que foi mudança de regra. Não foi. O mundo inteiro faz isso. Com informação nova, o governo tinha de tomar uma decisão, não podia deixar isso ir a leilão.
Brasil Energia: A OGX veio para desmistificar o setor petróleo?
Eike Batista: Sim, de certa maneira. Há outros grupos que estão muito bem. A Queiroz Galvão, por exemplo, com a descoberta de Manati.
Brasil Energia: Há planos de aquisição de sondas próprias para atender a campanha?
Eike Batista: Teremos talvez uma sonda própria, e o resto seria arrendado. Mas temos de desenhar uma que seja flexível, multiuso. Precisaremos de umas três sondas e devemos começar a perfurar no segundo semestre deste ano.
Brasil Energia: E a mão-de-obra? Vocês vão buscar mais pessoal na Petrobras?
Eike Batista: Feliz o empresário que trabalha num país onde existem profissionais qualificados em vários lugares. Não sei se na Nigéria ou em Angola existe isso. A área de petróleo nos próximos dez, 20 anos será uma grande mola de crescimento no Brasil.
Brasil Energia: A OGX apresentou proposta até mesmo para blocos onde a Petrobras, com a atual equipe da OGX, perfurou poços secos. Há uma interpretação nova dessas áreas?
Eike Batista: Com o ouro fizemos o mesmo. Já compramos minas de ouro com alguém que tinha identificado um sinal pequeno, fomos lá e encontramos uma jazida gigante. Geologia é um assunto interpretativo. Principalmente porque houve uma evolução da tecnologia, os dados sísmicos são diferenciados. A cada seis meses é possível ter uma interpretação diferente.
Brasil Energia: A OGX tem excelente corpo técnico, trazido da Petrobras, que inclui o Paulo Mendonça, ex-gerente Executivo de E&P da estatal. Comenta-se que o passe dele teria custado R$ 1 milhão. Isso procede?
Eike Batista: Para qualquer empresa, um bom corpo técnico é o que vale. Mas não pagamos R$ 1 milhão.
Brasil Energia: O fato de a OGX ter "roubado" os principais executivos da Petrobras fez com que o sr. se tornasse persona non grata por lá. É possível a OGX e a Petrobras formarem parcerias no futuro?
Eike Batista: Claro. Sou de uma natureza altamente associativa.
Brasil Energia: A OGX quer ser a Petrobras do setor privado?
Eike Batista: Por que não?
Comentários:
1)Preocupação básica em ganhar dinheiro. O que não é nenhum mal numa sociedade capitalista. Porém, não esperem dele preocupações para além do seu objetivo de em cinco anos ser o homem mais rico do mundo;
2) Perspectivas de investimentos da empresa OGX, o segmento de exploração de petróleo do grupo MMX, serem tão ou mais importante, que a exportação de minério no projeto Minas-Rio, a geração de energia elétrica com as térmicas a carvão e uma siderúrgica em consórcios com outros parceiros;
3) Os resultados da prospecção nos poços da Bacia poderão demandar logística de dutos e outros;
4) Um grande jogador. Que vislumbra estratégias de entradas e saídas de negócios, sem o menor constrangimento, de forma a atingir a meta de ser o Bill Gates brasileiro. Fiquem de olho!
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Um comentário:
Um grande jogador sem duvidas.Poderia ser uma grande ameaça para toda aquelas cidades onde suas empresas sao instaladas, mas felizmente temos nossos governantes que sabem como manter o capitalismo selvagem bem controlado.
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