65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
sexta-feira, fevereiro 29, 2008
Quando a vítima é o piloto
É muito comum, especialmente em acidentes aeronáuticos se culpar o piloto. É como se quisessem dizer, com uma máquina sofisticada como esta, cheia de comandos automáticos, etc., só tem problemas se fizerem besteiras. Como também na maioria dos casos o piloto acaba morto, também como vítima do acidente, a conseqüência acaba até sendo vista pelas partes envolvidas, como a conclusão de um mal menor.
Lembrei-me hoje disso, ao ver a fatídica coincidência de, no mesmo dia vir à tona, que o único corpo ainda desaparecido, do acidente com o helicóptero da BHS, na terça-feira, na Bacia de Campos é o do piloto Paulo Roberto Calmon e, neste mesmo dia, praticamente se confirmar que umas das principais causas do acidente ter sido, um defeito no rotor de cauda e não um erro de manobra que teria jogado o helicóptero dentro do mar. Além disso, a coincidência se amplia quando os primeiros depoimentos dos sobreviventes identificam o piloto como herói, por ter pago com a própria vida, o esforço de tentar retirar dois passageiros que ainda se encontravam dentro do aparelho, antes dele afundar.
Os pilotos são humanos e também são trabalhadores. Ao arriscar algo que por ventura compromete a vida de alguém, também o faz em relação à sua própria e ninguém faz isto por vontade própria a não ser sob muita pressão.
Pois bem, é exatamente esta a principal reclamação deles, as pressões que norteiam sua atividade profissional. Assim precisam ser frios para seguir um check-list de emergência, ao mesmo tempo em que precisa decidir se voa ou não. Se segue, ou se volta no meio do itinerário de uma viagem, cujas condições climáticas tornaram o vôo, um perigo e não mais um risco calculado.
Não refiro exclusivamente às pressões das chefias por produtividade que naturalmente cobra resultados e atendimentos dos planejamentos, mas também cito os passageiros que desejam embarcar ou desembarcar para cumprir suas funções, ou ver suas famílias depois de duas semanas de trabalho e que, voluntária ou involuntariamente, também exercem pressões verbalizadas e registradas em relatórios ou não. Nestes casos, quando os pilotos prosseguem ou suspendem vôos têm sempre que enfrentar relatórios e gente a favor e contra suas atitudes.
O duro é saber que um acúmulo temporal destas micros e outras macros pressões, aliadas à necessidade de diagnósticos precisos, sobre as condições técnicas do aparelho, para execução de um vôo com segurança contribuem para o aumento de um risco que aos olhos do leigo, só ocorre devido às condições climáticas ou por defeitos técnicos.
Difícil que estas causas sejam levadas em conta na apuração de todo e qualquer acidente. Neste caso, não é necessário que os incidentes sejam aeronáuticos. Quando é este o caso, mesmo com evidências fortes em contrário, não é difícil também culpar o piloto e dar um ponto final ao “pouso forçado” que na verdade pode ter sido um tombo que levou as vidas que nem mais ocupam as manchetes dos principais dos jornais.
Com mais ou menos evidências sobre as causas deste acidente é preciso registrar e enaltecer, que mesmo numa época em que valores éticos têm tido muito pouco valor, o piloto Paulo Roberto Calmon cumpriu corajosa e solidariamente, a tarefa de tentar socorrer a todos, tendo como custo, a sua própria vida e desta forma levar à termo, outro ponto em desuso, o de ser o comandante, o último a abandonar a embarcação. Homenagem à memória do comandante extensivo aos seus familiares e aos companheiros de profissão.
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