O transporte público em nosso município precisa de um tratamento de choque. Não adianta blá-blá-blá que vai limitar o transporte alternativo e proibir o clandestino. Isto já se fala há algum tempo e nada. Muito menos, dá para ter crédito a proposta populista de unificação da passagem a um real. O buraco é mais embaixo, ou melhor, o trilho pode ser por cima.
Há hoje no município, quem vê o mapa de nossa área urbana, pode atestar. Com o tamanho da população urbana em torno de 400 mil pessoas não há como deixar de tratar de um transporte coletivo decente.
Duas grandes ações devem ser pensadas como alternativa. A instalação de um metrô de superfície ou trem ligando os principais eixos de fluxos de pessoas no município tendo a partir dele linhas para os ramais.
Esta alternativa se encaixa naquela premissa, de que os melhores investimentos para Campos com o dinheiro dos royalties são aqueles, cuja instalação só é viável, com estes recursos e sua manutenção é possível de ser feita com o orçamento menor que o município terá no futuro.
A segunda proposta também radical de quem está disposto a resolver o problema: o município poderia absorver todas as empresas, readequar e reordenar as linhas e depois, lá para o final do mandato, fazer as licitações para devolver a concessão às empresas que apresentarem condições para bem atender o município.
Só assim se pode pensar em resolver o problema do transporte público coletivo com ônibus caindo aos pedaços, concorrência predatória do transporte clandestino, etc. Atualmente há grandes reclamações sobre: oferta de linhas (trajeto); qualidade dos veículos; número de veículos (constância e tempo de espera do usuário) e preço da passagem.
Quatorze empresas operam o transporte público coletivo em Campos com a utilização de cerca de 150 ônibus (há quatro anos eram cerca de 200 ônibus) em 87 linhas urbanas. As 45 linhas distritais são operadas por cerca de 70 ônibus.
Estima-se que estas empresas, mesmo com a concorrência do transporte alternativo e clandestino transportem, aproximadamente 2 milhões de passageiros por mês nas linhas urbanas e distritais.
As soluções apresentadas podem vir junto de outras que hoje afligem o setor como: os passes de estudantes, a gratuidade para idosos e servidores municipais, etc. É bom lembrar que o valor de ISS cobrado a estas empresas até dezembro de 2003 era regido pela lei 6.297/96 com alíquota de 6%. Em dezembro de 2003, ela foi substituída pela lei nº 7.529 de 19/12/2003 do ISSQN (Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza) que abaixou a alíquota para 3%.
É conveniente ainda lembrar que não é difícil, a obtenção de parcerias e financiamentos para estes projetos com o governo federal, através do Ministério das Cidades que tem a Secretaria de Transporte e Mobilidade exatamente para este fim. Não se pode deixar de dizer que o problema do trânsito, na área urbana da cidade, não terá boa solução, sem que o transporte coletivo seja decente e de boa qualidade. Nesta linha, que já é outro assunto, embora interligado, bom seria pensar uma rede de ciclovias, transporte ecologicamente viável e tradicional em nossa planície.
Bom que esse fosse o debate qualificado para escolher quem seria a melhor pessoa para liderar este processo em nosso município, mas não, a regra é enquadrar a turma nos partidos, para depois dizer que todo mundo é igual. Sigamos em frente, o município necessita de mudanças urgentes. Campos merece mais!
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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6 comentários:
Excelente proposição Roberto!Enfim algo toca neste assunto! Há muito tenho pensado nisso. O problema do transporte é algo que traz muitos impactos na vida da sociedade, a despeito dos problemas diretos que tem. Um sistema de transporte precário favorece o aumento da especulação imobiliária em alguns Barrios, acentua os impactos da desigualdade social etc! Campos merece mais!!!!
Concordo com a preocupação e que Campos merece mais. Acho só que antes de pensar nisso seria interessante pensar em acabar com a corrupção, que além de ganhar com o transporte alternativo irregular faz com que o transporte público campista seja o caos que conhecemos bem.
Sem mais...
Rafael Bretas
Prof. Roberto Moraes e amigos do blog: saudações...
É sabido por todos, que o transporte coletivo em nossa cidade é impraticável. O mesmo apresenta divergências e inadequações que o torna fruto de um serviço mas estruturado e mal pensado nos ditames que regem a boa prestação do mesmo em prol de seus usuários. Sempre defendí em minha consciência a idéia que serve até como sujestão aos futuros governantes de nossa terra: a criação de uma "empresa municipal de transporte coletivo", que seria responsável pelo transporte coletivo de idosos, estudantes e todos os abrangidos pela gratuidade e direitos garantidos em Lei em todo o município de Campos. Em resumo: seria uma empresa municipal responsável pelo transporte público em nossa cidade que seria a responsável pelo transporte àqueles cuja gratuidade é garantida por Lei.
Poderiam tornar isso possível, visto que quando bem administrado, um município é capaz de promover ganhos imensuráveis no que diz respeito à qualidade de vida de seus habitantes. Um dos grandes problemas de nossa terra é a questão do P R E C O N C E I T O com relação ao uso do transporte público, principalmente pela "elite" de nossa cidade. Triste ilusão pensar assim, visto que em países como a Alemanha, Dinamarca, Noruega, Bélgica, e outros mais, o transporte coletivo é usado por toda a classe social, independente da posição que ocupem na sociedade.
Agora: É necessário repensar a possibilidade de investimento em ciclovias na nossa cidade, pois as mesmas são uma urgência na necessidade da qualidade de vida de seus usuários, principalmente no que diz respeito à contribuição que o uso das bicicletas promovem com redução à poluição atmosféria e a promoção de saúde aos seus praticantes, sem falar na possibilidade de garantir maior fluidez no trânsito que devido ao aumento do número de veículos, que facilitado pelo crédito fácil, contribui para os problemas do trânsito.
O que falta é enchergar, pois ver, todos vêem, mas enchergar é faculdade de poucos.
Abraços.
Muito bem professor, como podemos ver a cidade necessita de projetos e pessoas pensantes, pois muitas vezes o recurso (R$) se encontra disponível necessitando apenas de bons projetos para que seja liberado.
Precisamos olhar a cidade com esses olhos, pessoas competentes nos lugares certos e mão na massa.
abraço!
lsmota.
Este é mais um daqueles temas que merecem atenção redobrada...o atraso da cidade é magnífico em vários segmentos...
Teve um tempo que eu achei que os Conselhos Municipais paritários fossem fazer emergir idéias e propostas inovadoras e criativas, mas acho hoje que eu estava enganado...boa parte dos nossos articuladores de plantão tem uma visão muito provinciana e tacanha, além de uma enorme dificuldade de conceber a cidade numa dinâmica evolutiva mais amplificada...fazer o quê?!
Acredito que os governos continuarão, por um longo tempo, perversos e populistas por aqui, mas mesmo assim podemos nos empenhar para criar na estrutura governamental municipal, o que eu chamaria de Comitê ou Comissão Técnica Permanente de Desenvolvimento Sustentável do Município - não atingida e alterada pelos processos eleitorais periódicos -, formada por profissionais técnicos de carreira e ou privados contratados por tempo determinado, cujos objetivos seriam de identificar as prioridades, traçar e acompanhar planos e metas, etc , - tudo em fino acordo com a Lei Orçamentária do Município -, com vistas para os próximos 10 a 15 anos.
Essa Comissão Permanente, seria subordinada diretamente ao Prefeito, mas com mandato previamente regulado por lei municipal, de tal forma que a mudança dos seus membros se daria no meio da mandato do Prefeito em Exercício, tentando assim, evitar ao máximo, atrapalhar e interromper os planos e as metas aprovadas em andamento.
Pode parecer utópico, mas também poderia funcionar enquanto não temos por aqui uma melhor estratégia para ocupar de fato os Poderes com melhores perfís!!!
É claro que esta proposta precisaria de uma melhor elaboração e análise mais aprofundada.
Roberto,Já a algum tempo em conversas com os amigos tenho defendido a idéia de uma empresa municipal de transporte coletivo.E pela mais elementar razão:não confio nas atuais empresas para um processo de recostrução do transporte em Campos.Além de considerar que este processo teria que começar do zero com novos ônibus ,novos termináis e novas linhas com um investimento que dificilmente poderia ser feito pela iniciativa privada a não ser sob compromisso de altas tarifas.Então acho que deveriamos ter estudos sérios sobre o assunto e debates mais aprofundados sobre o tema.Um abraço.
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