65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
segunda-feira, junho 02, 2008
Voto? Parem de falar mal do povão!
Certa vez, assisti no Rio de Janeiro a uma peça muito boa com a não menos comeptente Elisa Lucinda, que tinha como título “Parem de falar mal da rotina”. O blog vai hoje, parodiar o título da peça com esta nota. Chega de falar mal daqueles, que enxergam nos que lhe dão alguma atenção, mesmo que com o próprio dinheiro do povo, como é caso do orçamento do município, aqueles que eles acabam escolhendo para representá-los.
Não só estes. Nossos últimos governantes chegaram ao posto maior do nosso município com o voto dos diversos segmentos da população e não exclusivamente com um ou outro. Ninguém chegará lá apenas com uma parcela da população.
A dona de casa que tem dificuldades de sobrevivência e de sustentação dos filhos escolhe seu governante, da mesma forma que um empreiteiro. Analisa o que seria melhor para a cidade, sem deixar de observar qual deles poderá me ajudar nas minhas agruras mais urgentes.
O jovem que quer fazer uma universidade pensa na bolsa para seus estudos, da mesma forma que o médico ou o dentista á formado quer o emprego ou a ajuda para credenciar sua clínica como prestadora de serviço para qualquer, e se possível, os três níveis de governo.
A jovem trabalhadora que precisa de uma vaga na creche para poder deixar seu filho, durante o seu tempo de trabalho, precisa e luta tanto pelo seu escolhido para prefeito ou vereador, quanto o dono de uma empresa de remédios e produtos de saúde que deseja ter o governo como principal cliente.
A mãe que cuida de um filho com doença hereditária, olha a eleição como oportunidade de ver uma assistência como o direito de cidadão de ter acesso a uma política permanente de atendimento, quanto um diretor de faculdade que vê no financiamento público de seus alunos, a oportunidade de viabilizar uma expansão de cursos na universidade que poderá, segundo seu discurso, promover a emancipação destes jovens.
Entre todos estes, alguns são seus vizinhos e suas demandas e dificuldades são quase divididas cotidianamente com você e por isso, merecedoras, a seu juízo de todo apoio governamental. Os outros, mesmo que inadvertidamente, acabam sendo vistos, por você, como números. Viram aqueles a que se chama de “coitados” que na condição de sem escolaridade e indigentes, vendem os seus votos, para os espertalhões.
Precisamos acabar com esta falsa polêmica. O voto e as escolhas têm interesses diversos, dos mais nobres, aos mais inescrupulosos e estão presentes nas classes alta, média ou baixa, nos escolarizados e nos sem escolaridade, nos religiosos e nos ateus. Nos patrões e nos empregados. A decisão do voto tem naturezas distintas. Quem nunca deu um voto mais por gratidão ou por um pedido de um amigo que atire a primeira pedra.
Acabemos com esta hipocrisia de ser o dono da verdade e de jogar o erro para o outro, que pode ser o vizinho, o parente, o amigo, a empregada doméstica, etc. O voto é sagrado, individual e de propriedade de cada um, independente das posses, poder e sabedoria. Daí, que por conta disso, cada um faz dele o que bem entender. A lei me impede de vendê-lo, ou barganhá-lo com inescrupulosos que oferecem facilidades por conta de dificuldades de qualquer natureza. Mas, jamais vão poder impedir a quem quer que seja de definir critérios para minha escolha.
Por favor, só não venham com este blá-blá-blá de que só o pobre e desinformado trocam favores na hora de votar. Eu preferiria que discutíssemos o reforço à visão cidadã, que, independentemente das minhas demandas, propõe a definição do voto por questões mais coletivas que individuais, por análise das opções, pela campanha dos candidatos, do que pelos pedidos daqueles que têm interesses diversos do coletivo.
Enfim, parem de dizer que o problema do voto é do outro e não seu. E que ao final, não só façamos boas escolhas, como trabalhemos para que melhores candidatos se disponham a enfrentar a batalha da tão desgastada representação popular.
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5 comentários:
É a mesma lógica dos que dizem "esta cidade não tem jeito", como se tudo o ruim que Campos tem fosse produto de uma emanação diabólica da terra, em vez do comportamento (ativo e passivo) dos seus habitantes.
Não, eu não sou corrupto, apenas defendo meus interesses...
Não, isso não é sonegação é gestão tributária a serviço da vantagem competitiva...
Não sou racista, mas deus me livre minha filha casar com um negro...!
Esse povo não sabe votar, era melhor na ditadura...!
Política é tudo igual...!
Político é tudo ladrão...!
Polícia é corrupta, mas se vc precisar de algo eu tenho um primo policial que pode te ajudar...!
Você conseguiu aquela certidão negativa com aquele seu amigo...?
O diabo...o diabo são os outros...
O texto é perfeito. Pode ser publicado num grande jornal ou revista ou virar peça para aulas de ética. O erro é apenas um: falta nele uma única palavra, meu caro professor. Falta no texto, pode ser no título, pode ser no encerramento.
Falta a palavra HIPOCRISIA.
Nós somos todos hipócritas. De cabo a rabo.
Certa vez falei isso com uma determinada Juíza de Direito e ela esperneou. Disse que duvidaria que ela não tivesse sequer um equipamento, software ou filme PIRATA.
Ela ficou tão brava que eu tive que ir mais longe, pedi que pudesse olhar o computador dela.
Logo de cara constatei que o software não tinha licença. Ela alegou ignorância, tudo bem.
Assim é na hora do voto.
Todos temos nossos interesses e somos uns hipócritas mesmo!
PARABÉNS!!!
Infelizmente tenho que concordar com o bom senso do prof. Roberto, com o pragmatismo seco do Gustavo, com a já conhecida ironia do Xacal e com a visão hobesiana de ser humano apresentada pelo Souto. A complexidade do comportamento humano realmente não cabe em simplificações maniqueístas e positivistas.
Por outro lado, não podemos ignorar que com o aumento do vazio de boas opções entre os candidatos, os interesses pessoais do eleitor tendem a falar cada vez mais alto.
Em nome de que o eleitor sacrificará suas conveniências?
Existirá alguma escolha que verdadeiramente signifique um ganho coletivo para o conjunto da sociedade?
O raciocínio humano é complexo e difícil de esquadrinhar, mas, acredito que diante de uma opção crível, que traga a esperança de uma significativa mudança para melhor, o povo campista saberá fazer a escolha certa. Não por nobreza e pureza de caráter, já questionadas aqui, mas, simplesmente, por instinto de sobrevivência e inteligência.
A questão é: Existe ou existirá esta opção????????
O professor Roberto foi muito feliz em sua observação. Na verdade eu vou além, professor, e considero que as classes mais abastadas são as únicas passíveis de julgamento negativo, uma vez que lhes foi dado as condições de escolher seus representantes, o que aos pobres foi negado.
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