65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
quinta-feira, novembro 06, 2008
Vale para o debate!
Depois de eleições municipais por aqui e do acompanhamento das eleições americanas, o texto é um bom aperitivo para o debate sobre campanhas eleitorais, representação política e partidos. Por incrível que possa parecer veio junto do e-mail de ontem do ex-blog de César Maia:
"Cidadãos e consumidores: aos primeiros há que convencê-los, aos outros há que seduzi-los!”
"Trechos da entrevista do sociólogo Rafael Roncagliol (ex-Le Monde Diplomatique, ex-Interviú) ao La Nacion.
1. Em todo o mundo há uma crise de representatividade dos partidos. Os partidos políticos tradicionais se converteram em máquinas eleitorais que só funcionam quando há eleições. Isso é parte de uma mudança, na qual a relação cara a cara foi transformada em relações midiáticas. Isso justifica o ressurgimento, nos últimos anos, de uma política baseada em caudilhos.
2. Ao congressista não lhe interessa a repercussão do que diz no Parlamento, porque o que interessa é a repercussão do que diz no espaço midiático. Isso é, claramente, uma deterioração da ação do Congresso. Desapareceu a relação cara a cara com a célula partidária.
3. Não pode haver democracia se não existam instituições que estejam encarregadas do trabalho de representação política e que compitam por esta representação. Diz-se que os partidos funcionam como as garagens, porque apenas se retira o carro do estacionamento para competir e, depois, volta-se a guardá-lo...
4. As democracias na América Latina estão funcionando muito bem como democracias eleitorais. A democracia contemporânea nasceu com base no pressuposto de que os eleitores são cidadãos que precisam ser convencidos. Então, a democracia institui um mercado eleitoral, no qual os políticos fazem suas ofertas, que são suas propostas, e os cidadãos escolhem entre essas propostas. Este é o pressuposto básico da democracia.
5. As transformações tecnológicas dos últimos tempos determinaram que os eleitores não fossem considerados cidadãos, mas sim consumidores. A diferença é que, quanto aos cidadãos, é preciso convencê-los e, quanto aos consumidores, é preciso seduzi-los. Neste cenário, as ofertas dos políticos deixam de ser propostas e passam a ser mecanismos publicitários de sedução do eleitor. Isso destrói o pressuposto básico da democracia.
6. É óbvio que os candidatos não mais têm interesse sobre os temas a debater. Interessa a eles os aspectos formais do debate, como a luz, a ordem da exposição, os tempos e a disposição das câmeras. Ou seja, a vida política passou a ser controlada por novos especialistas.
7. Hoje, é preciso estar nos meios de comunicação de massa para existir. Os meios não têm êxito no momento de dizer quem ganha, mas sim ao estabelecer quais os que estão na competição. Pode-se dizer que os meios substituíram os políticos no papel de fixar a agenda. Então, não são mais dirigentes, voltados para oferecer uma direção aos cidadãos, mas sim dirigidos, no sentido de que o bom político é o que melhor interpreta as pesquisas e que faz o que o público pede.
8. Isso não significa que os meios de comunicação possam fazer o que quiser com a opinião pública, mas sim que alguns deles têm um papel desmedido. Os legisladores foram substituídos por líderes midiáticos em sua influência sobre a opinião pública. Por outro lado, não quero deixar de reconhecer a tarefa de fiscalização e de transparência que levaram a cabo os meios mais sérios em nossas democracias".
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
É um tema muito interessante. Li um livro do Antonio Negri e Michael Hardt, "Multidão", que levanta a questão da crise da democracia representativa. Talvez com o aprimoramento da tecnologia e da democracia, resolvendo problemas graves como a exclusão social e a questão ambiental, poderemos chegar perto do tão sonhado auto-governo.
Postar um comentário