Concepção de cidade

O ex-prefeito de Bogotá (1998-2001), Enrique Peñalosa Londoño, tem sido muito entrevistado pelos principais jornais e revistas do Brasil, sobre o plano de transporte coletivo, Transmilênio, que implantou na capital colombiana que tem 7 milhões de habitantes. Até a Fetranspor, a famosa Federação de Tansportes do Rio de Janeiro gostou das suas idéias pela importância que confere aos ônibus, até em detrimento do metrô e dos trens que considera muito caro. Porém, mais interessante, ou, tão quanto este debate é a concepção que o político colombiano com visão de urbanista vem passando. Leia abaixo algumas de suas ideias: “A maneira como construímos nossas cidades determina por séculos nossa qualidade de vida, nossa felicidade. O valor da preservação de um espaço público para um parque, por exemplo, não pode ser medido matematicamente, deve ser sentido na alma. Parques e outras áreas públicas são essenciais para a felicidade da cidade”. “Calçadas são parte do sistema de transporte, porque a jornada começa quando saímos de casa. Uma calçada boa é símbolo de que o cidadão que caminha tem o mesmo valor de outro que tem um carro de US$ 30 mil. É símbolo de democracia. O que diferencia uma cidade boa de uma ruim é a qualidade das calçadas”. “É possível medir a democracia analisando como o espaço público é distribuído entre pedestres, ciclistas, ônibus e carros. Quanto mais tender para os primeiros, mais democrática será. É uma questão política, não há nada técnico nisso. Se houver mais espaço para carros, haverá mais carros; menos espaço, menos carros.As cidades ricas, há 15 anos, decidiram não fazer mais vias para melhorar o trânsito”. “Uma cidade verdadeiramente avançada é aquela em que os ricos usam transporte público, caminham e vão a parques. O contrário disso é quando os ricos usam helicópteros, vão a clubes fechados, a shoppings, moram em condomínios”. "Uma boa cidade é aquela na qual as pessoas querem estar fora de suas casas, nos shoppings, nas calçadas, nos parques, nas praças... Uma boa cidade é aquela que atende aos cidadãos mais pobres. Numa cidade traçada, os ricos se isolam em helicópteros, carros, clubes e condomínios fechados. Numa boa cidade, ao contrário, pobres e ricos se encontram nos espaços públicos, nas atividades culturais, bibliotecas e escolas. Uma boa cidade é uma cidade especialmente respeitosa para a dignidade humana". Na verdade, as idéias acima são princípios e diretrizes que podem nortear as ações dos gestores municipais que assumiram no primeiro dia deste ano. Elas passam uma visão de uma cidade inclusiva. Uma cidade para todos. Muitos destes princípios foram apontados e aprovados na 1ª Conferência da Cidade de Campos, realizada em 2003 com a organização e participação de parte da sociedade civil e depois rafirmada, em nova conferência no ano de 2005 e até hoje, completamente ignorada pelos gestores, apesar de alguns deles terem participado à época destas conferências. As conclusões dos cinco principais temas da Conferência podem ser lidos aqui: (Transporte e Mobilidade Urbana; Programas Urbanos; Trabalho e Renda; Habitação; Saneamento Ambiental) ou no livro "Campos uma cidade para todos: Análise e Resoluções da Conferência Municipal em 2003 - Subsídios para a 2ª Conferência em 2005".