65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
sexta-feira, fevereiro 13, 2009
O ressurgimento dos cursos técnicos
Parte da classe média ainda acha que vai ao paraíso através dos cursos de bacharel das universidades. Outra parte, menos clássica, mais objetiva, e algumas vezes também mais inclinada aos desafios e ao trabalho duro, já compreendeu que há muitos espaços a serem ocupados para profissionais bem qualificados nos diversos setores da economia brasileira, com marolas, ou ondas de crise na economia global ou nacional.
Antes, estes cursos deveriam obrigatoriamente ser ligados a área da indústria tradicional, comandada pelas grandes estatais da área de energia elétrica (Furnas, Eletrobrás, etc.) de siderurgia (CSN, Usiminas, etc.) de petróleo (Petrobras), etc.
Hoje, as oportunidades se ampliaram bastante. Há demandas de profissionais bem qualificados não apenas para a atividade fim destas áreas, mas para as outras que são meio, para estas ou outras atividades como logística, comunicações, informática, turismo e lazer, saúde, comércio, etc.
Curso técnico uma janela de oportunidades
Muitos jovens já perceberam esta janela de oportunidades e, mesmo não tendo abdicado do interesse em chegar ao nível superior e à pós-graduação, estão cada vez mais aceitando as oportunidades e se embrenhando numa formação técnica concomitante ou após nível médio e entrando para o salutar desafio do mercado de trabalho.
Tenho visto muitos deles vibrarem com esta nova realidade no Cefet. Não há como não lamentar o soluço que a economia internacional possa trazer a esta demanda, porém, a necessidade de profissionais técnicos qualificados era tão grande, que a “marola” ainda não interrompeu as solicitações crescentes que muitas empresas fazem às instituições formadoras de Educação Tecnológica e Profissional país a fora.
Interessante perceber como este momento é diferenciado daquele vivido na década de 70 quando a demanda era também expressiva. O técnico hoje sai com uma noção de mundo mais abrangente. Sabe das limitações, mas sabe também dos seus direitos e das oportunidades que podem ser alcançadas de forma paulatina onde a formação corre junto da experiência em diferentes atividades, empresas e territórios dentro e fora do país.
Os técnicos brasileiros são mais criativos e adaptáveis aos processos de produção complexos como os atuais
É cada vez maior o número de técnicos brasileiros sendo contratados para trabalharem no exterior, desde os EUA e Canadá até a África e outros países do nosso continente. Por lá assimilam experiências e capacidade de arrastar outros colegas brasileiros numa rede que mostra cada vez mais a cara do Brasil no exterior. Nossos técnicos são mais adaptáveis a diferentes situações e criativos para atuação em processos produtivos cada vez mais complexos e dinâmicos.
Nem tudo são flores. A demanda por estes profissionais oscila muito rapidamente de acordo com as regiões e os projetos de novos empreendimentos. Neste sentido, os cursos mais generalistas abrem mais as oportunidades, porém, quase sempre têm mais formados e algumas vezes mais profissionais que vagas.
Nesta hora, como não podia deixar de ser em uma economia de mercado, com mais oferta que oportunidades de emprego o nível salarial abaixa e relação inversa e proporcional ao nível e de exigência e seletividade do empregador. Ainda assim, tudo isso é menos pior, que a seletividade para as vagas de um profissional de nível superior.
Nas áreas mais atraentes e com menor número de profissionais que as demandas recentes do setor produtivo, o peso maior da balança fica com o técnico e não com a empresa. Assim há técnicos ganhando salários até duas vezes maior que engenheiros e outros profissionais de nível superior.
Há até empresas na fila de espera por técnicos. Estas chegam até a literalmente comprar o passe do futuro técnico, quando este ainda é estudante, através do pagamento de bolsas que chegam a mil reais mensais. Não pense ser isto conversa de botequim.
O curso de técnico em fluidos de petróleo, um pós-técnico ou uma especialização feito após a conclusão do curso técnico de química no IF Fluminense (ex-Cefet Campos) que já está na sua sétima turma e funciona com apoio de diversas empresas do segmento ligado à extração de petróleo é um exemplo concreto desta realidade.
As oportunidades e condições variam de acordo com as áreas
Como se vê as oportunidades, as condições do mercado e de trabalho, assim como o perfil demandados pelo mundo do trabalho varia enormemente, e estão ligadas a diversos fatores. Um técnico muito valorizado se tiver experiência profissional pós-formação e, preferencialmente outra habilitação de formação técnica é o de segurança do trabalho.
Se, além disto, a demanda for para atuar no segmento de petróleo e gás, e, se o técnico tiver ainda, o domínio da língua inglesa, aí mesmo é que as oportunidades e condições se multiplicam. Por conta disso, houve uma época que o curso passou a ser muito procurado por professores de cursinhos de inglês interessados neste nicho de mercado e que tiveram enorme sucesso profissional. Devido a isso, a seleção para ingresso neste curso vem há pelo menos cinco anos batendo todos os recordes com cerca de três mil candidatos para 35 vagas no primeiro semestre e outras tantas no segundo.
Para fechar, é interessante observar que os jovens que ampliaram esta procura aos diversos cursos técnicos, passaram a ver neles, oportunidades mais concretas de ingressar no mercado de trabalho, mas não abdicaram do desejo de ampliar seus conhecimentos e de crescer na profissão ou área de trabalho através dos cursos de nível superior.
Jovens querem entrar no mundo do trabalho mas pretendem também avançar seus estudos
Assim, esta garotada, na verdade passou a visualizar aquilo que os ex-Cefets e atuais Institutos Federais propiciam: a verticalização da formação, que a partir dos cursos técnicos oferecem chances nos cursos tecnológicos de nível superior, nos bacharelados e até na pós-graduação, não só nos cursos de especialização, mas também de mestrado e doutorado. Durante este percurso formativo, os técnicos cada vez mais acessam cursos de atualização que funcionam não só na forma presencial, mas cada vez mais à distância com partes presenciais ou não.
Bom que nossa juventude tenha novo ânimo para persistir neste enfrentamento. Melhor ainda, que o solavanco da economia global seja menos sentido em nosso país. Até por isso, o fato do presidente Lula atuar como motivador do cenário acaba sendo imprescindível, para que este ressurgimento dos cursos técnicos não seja interrompido e que o aperfeiçoamento da formação destes profissionais, também se dê, cada vez mais com a ampliação do conhecimento geral, da formação política e crítica que permita, ao mesmo tempo, que ele seja um bom, flexível e adaptável empregado, mas, de forma especial, um cidadão consciente das suas responsabilidades sociais, aliás, dever também da empresa.
Melhor ainda que as prefeituras das cidades com mais recursos, como as da nossa região, compreendessem esta oportunidade, inclusive de se fazer verdadeiramente inclusão social com desenvolvimento local com parcerias para ampliação de vagas para cursos técnicos, aliado também, à ampliação do ensino médio público, porta de entrada para todo este caminho. Enfim, se a discussão for no campo das políticas públicas, vê-se há muita coisa para ser feita. Sendo assim, sigamos em frente!
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9 comentários:
Espero que o IFF, ex-IFET, ex-CEFET, ex-ETFC, retome as suas origens!! Na Escola Técnica Federal de Campos formavam técnicos que alcançavam o mercado de trabalho, entretanto, as últimas gestões do referido órgão federal (últimos 20 anos) em campos, EQUIVOCADAMENTE, preocupou-se em criar curso de tecnólogo disso, superior daquilo, cursinhos que não empregaram ninguém, ABANDONANDO OS CURSOS TÉCNICOS, que somente foram mantidos, quando o crescimento da ETFC deveria ser aumentando as vagas dos cursos técnicos já existente e criando novos cursos técnicos.
O mercado precisa de técnicos, onde estatisticamente para cada 10 empregos na área técnica 09 são para técnicos e apenas 01 para engenheiro e, repito, nos últimos 20 anos as direções da ETFC erraram muito !!
Infelizmente o senhor foi um dos idealizadores deste IFF, IFET, CEFET !!
Campos sente saudade e orgulho da Nossa Escola Técnica Federal de Campos que estas gestões esqueceram e, que felizmente o presidente LULA pensa diferente de vocês.
Roberto, que texto claro e oportuno! Muito boas as suas colocações! Você veja bem, um professor de área tecnica (claro, com todas as estrelas ...)escrevendo "academicamente" com singeleza, clareza e humildade. Escrevendo para que leitor possa realmente compreender.É isso aí! Quanto ao assunto, maravilhoso! Num Brasil de "eiros", que avança, não poderíamos ter texto melhor!
Parabéns ao IIF.
Parabén para você.
Parabéns para nós, eiros do Brasil!
E alerta a jumentinha aqui, que precisa se fazer entender melhor, senão vai acabar fora dos blogs.
Paciência comigo... estou ainda aprendendo.
Mas olha, tô me policiando, afinal temos que ser eternos aprendentes e consequentemente, eternos jumentinhos...
Amei ler, e saber ...
Ao anônimo das 08:43:
Eu sou ex-aluna da licenciatura em Ciência do Cefet e na prática, sou junto com muitas colegas de classe, a comprovação do erro da sua avaliação.
O Cefet, agora IFF, é uma instituição que oferece inúmeras oportunidades. Usar sua estrutura para oferecer cursos de nível superior e outros com a qualidade já conhecida do trabalho lá realizado é algo que interessa aos cidadãos da nossa região.
As brigas internas que alguns tentam estimular por lá não tem conseguido atrapalhar os que são dedicado à causa da educação. Eu torço para que este processo de evolução constante do Cefet (IFF) continue.
O comentário da Rosângela jumentinha foi ignorado por mim.
Tenho dito!
Comentário feito pela jumenta está ignorado.
Bom, os cursos técnicos são importantes, de fato levam a um ótimo retorno financeiro, mas também vejo a questão por outro ângulo.
Sou ex-estudante do CEFET, hoje IFF, e assim como outros colegas, eu não fiz um curso técnico, outros começaram e abandonaram, no meu caso por me interessar mais por humanas, a escola é uma escola para vida, entretanto, como o próprio Roberto falou hoje os cursos técnicos diversificaram-se, chegando às áreas de turismo, logística, lazer em Campos ainda não abre esse espaço para seus alunos. Alguns colegas se desestimularam, abandonando o curso técnico devido à falta de professores, aguardando chamar o professor que havia sido aprovado no concurso e quando este chegava, jogava o conteúdo, ficando o aluno sem nada entender.
É claro que temos que ter mão-de-obra qualificada para os novos empreendimentos e os que aí já estão, entretanto, creio que deveríamos valorizar mais nossa terra, nossa região tem um potencial turístico enorme e o técnico de turismo, de hotelaria também será necessário em todo esse contexto de crescimento econômico esperado pra região, como já falei seria perfeito se nossa região aliasse essa futura e próxima industrialização que ocorrerá a exploração do Turismo, tanto no Centro Histórico, quanto no Imbé, no Pontal de Atafona, na área de preservação ambiental que está sendo criada próximo ao Complexo do Açu, e o potencial da nossa terra não acaba, não é uma riqueza finita. Neste ponto acredito que o IFF esteja optando pelo erro em não oferecer cursos de turismo e hotelaria na Sede ou em Guarus.
A questão dos cursos tecnólogos, como já falaram é lamentável e essa troca de nomes da instituição, pouco reflete no meio discente. Peguei a época da “mudança” para elevação a Universidade do Trabalho e nada mudou para nós alunos, na verdade pouco é passado aos alunos e não há estímulos para fazer com que o aluno se interesse em saber o que realmente está mudando.
Ultimamente o Ensino Médio que é a base está jogada as moscas, dependendo de professores contratados nas áreas de carência e quando o contrato do professor acaba ou algum professor precisa sair de licença durante o ano letivo os alunos ficam até um mês sem aulas. Isso é fato, as duas situações ocorreram minha turma. Lembrando que para o ressurgimento do ensino técnico, não devemos esquecer da base.
Espero que realmente ocorra o ressurgimento do ensino técnico, remodelando essas questões que citei e não só por iniciativas das prefeituras, mas também pelo IFF, pelo que representa para toda a região, pois ultimamente, o foco tem sido o Ensino Superior, que também é importante, mas não se muda de cima para baixo e os problemas que citei persistem.
olá Roberto. Queria saber se vc tem alguma informação sobre onde posso fazer um Curso de Técnico em fluídos?
Um abraço. Elainy
OLá Elainy,
Este é um curso pós-técnico que exige formação de técnico em Química.
Se não estou enganado há a previsão de formação de nova turma para o ano que vem no IFF em convênio com empresas do setor de petróleo que bancam o curso.
Entre em contato com a Fundação Cefet Campos e obtenha detalhes de datas sobre o edital de seleção:
http://www.fundacaocefetcampos.org.br/atividades/contact-info
Telefone: (22) 2725-1170; Fax: (22) 2725-1079; e-mail: fundacao@iff.edu.br
OLá Roberto gostaria de saber se vc tem infor~mações sobre como fazer o curso de técnico em fluidos.
Um abraço. elainy
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