65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
quinta-feira, março 05, 2009
O que significa ter que viver sem os royalties
O artigo abaixo foi escrito pelo blogueiro e publicado na Folha da Manhã, em 13 de abril de 2007, ou seja, há praticamente dois anos. Por conta da atual redução da receita dos royalties, eu resolvi procurá-lo em meus arquivos para relembrar o que havia escrito, e o que ainda poderia permanecer atual. Espantei-me com o resultado da análise que eu peço que você leitor também faça. Para isso decidi republicá-lo abaixo:
O que significa ter que viver sem os royalties?
Mesmo tendo passado o primeiro susto sobre a implantação de uma nova forma de rateio dos royalties é bom imaginar o cenário e planejar mudanças quando do seu fim. No caso de Campos, que é o município com a maior receita de royalties e participação especial, significaria perder este ano, uma quantia da ordem de R$ 900 milhões de um orçamento total de R$ 1,3 bilhão.
O argumento aqui exposto trata-se de um simples exercício do drama que poderemos viver num futuro mais próximo, ou mais longínquo, num cenário, que na melhor das hipóteses, se estima para daqui a 20 ou 25 anos. Dizer que o petróleo é uma riqueza finita virou voz corrente. O problema é saltar desta afirmação para uma aplicabilidade que venha amenizar as conseqüências futuras. Já afirmei neste espaço e repito, que não há fórmula mágica que possa gerar no futuro recursos iguais, aos dos atuais royalties.
Nem mesmo, os investimentos produtivos como o Fundecam ou Fundecana, multiplicado em cem vezes, têm poder de gerar receita, no plano municipal, equivalente à dos royalties. Não há ISS, IPTU, ITBI e outros impostos, somados a taxas municipais, que possam fazer caixa equivalente para os cofres municipais. Sendo assim, os royalties devem ser encarados, como uma receita finita, possivelmente até mesmo, antes do fim da exploração de petróleo em nossos campos.
Voltemos ao exercício: sem os royalties teríamos que viver com R$ 300 milhões. Espera lá: antes é bom lembrar que os repasses estaduais devem também sofrer redução com a suspensão da receita dos royalties ao nível do governo estadual. Para não ser muito drástico, pode-se considerar, que com a soma das receitas próprias e das transferências governamentais é possível chegar a R$ 500 milhões, isso se as empresas bancadas pelo Fundecam, ainda permanecerem aqui no futuro.
Pergunto: como sustentar a cidade e as demandas por ela gerada, se hoje com pessoal e com o custeio da máquina, já se tem, gastos superiores a R$ 800 milhões? Assim, não haverá dinheiro, para construir uma nova sala de aula, um leito hospitalar sequer e ainda faltarão R$ 300 milhões, para bancar o custeio, a cada dia ampliado por casas e mais casas compradas para hospedar setores governamentais, na sua maioria usados em atividades-meio, sem maior retorno para o cidadão?
A situação seria grave. Como ficariam as faculdades, sem ter as prefeituras para sustentar as mais de dez mil bolsas? Como ficarão os hospitais filantrópicos hoje, cada vez mais dependentes do socorro público? Como ficarão os clubes de futebol e esportivos? Como se sustentarão os proprietários de imóveis diante da redução da demanda de aluguéis? Como ficará o comércio no dia que os quase trinta mil servidores municipais, não puderem ser mantidos nos quadros do governo?
Mais: com a redução das atividades das instituições de ensino e de saúde, os empregos nesta área certamente serão reduzidos e conseqüentemente, as compras no comércio local, que por sua vez, também terá que conter custos e reduzir empregos. O patrimônio de quem conseguiu juntar, também perderá valor com a redução do seu valor de uso. Imóveis de R$ 200 mil cairão para R$ 100 mil ou menos. Os de R$ 1 milhão, cairão mais e talvez cheguem a R$ 150 ou R$ 200 mil.
O quadro seria caótico. Tem gente que diante de cenários, mesmo, que talvez um pouco exagerado, porém possível, prefere apenas dizer: vira sua boca para lá. É um direito seu. Porém, os gestores públicos, não têm este direito e sim o dever, de planejar para transformar o futuro. Desejaria ter argumentos para ver o futuro de uma outra maneira, porque, como já foi afirmei no primeiro parágrafo, hoje existe consenso de que a única dúvida que há é sobre o tempo em que este futuro chegará. Pare o mundo que eu vou descer!
Roberto Moraes Pessanha
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10 comentários:
É Roberto... Falar isso é correto pra abrir os olhos de quem ainda não enxerga um futuro proximo em Campos. Mas como você mesmo disse, ja fazem 2 anos que escreveu. O que houve depois? Um dos piores escandalos sobre roubo e mal uso do dinheiro da prefeitura com até prisão de membros. Escrever e reclamar já não adianta. Temos que fazer mais! Na verdade, fico perdido em pensar numa solução pra esse caso. Com esse mesmo grupo politico no poder fica dificil.
Abraços, Diego.
ROBERTO,
SEI QUE ESTE COMENTARIO Q ESTOU POSTANTO NAO TEM NADA A VER COM ESTA MATERIA, MAIS ME DEU UMA VONTADE DE SUGERIR A VC UM TEMA INTERESSANTE ...
NEPOTISMO...
NESTE ATUAL GOVERNO, SEI QUE VC TEM UMA EQUIPE BRILHANTE DE COLABORADORES, E Q ESTE TRABALHO SERIA DE UM TEOR DE VALORES Q VC NEM IMAGINA E ACREDITO Q SERA MUITISSIMO INTERESSANTE ...
DESTE JA MUITO OBRIGADO E ESPERO Q VC TENHA GOSTADO DESTA SUGESTAO...
ABRAÇUS
Quero só saber onde está a coluna da Maria Ester "Exatamente Mester" no Jornal O Diário, na versão virtual.
Acho que apagaram por "conveniência", pois muitas críticas afetavam gente da "boquinha".
Quando se clica no link dela no item "Social" do Jornal, não aparece NADA, só no caso dela...
Estranho...
Muita coisa estranha nesse início de Governo...
Roberto, quero fazer um comentário sobre uma postagem anterior: a inércia da atual gestão municipal. Será que não deu tempo nem de mandar consertar o relógio da rodoviária que marca 8 e 10 há muitos meses? Será que o relógio faz uma analogia ao governo? Quem chega à cidade deve ficar apavorado, um dos municípios com maior renda do país, com um valão imundo, uma rodoviária de dar medo de tanta sujeira, um terreno baldio abandonado e cheio de lixo em frente à rodoviária e um relógio parado... Que cartão postal!
Uma cidade que agoniza
Roberto, sou comerciante no centro, mas moro na Pelinca. Meu apelo é porque Campos, por mais queda de arrecadação que possa estar sofrendo, ainda é um município milionário. Melhor, bilionário. Mas as cabeças de nossas lideranças ainda estão governando como se fossemos um cidadezinha do interior sem recursos e projetos. Até agora, dois meses de governos e mais três de transição, ou seja, cinco meses, não foi apresentado nenhum projeto para o nosso desenvolvimento econômico. Nada. Também, o que esperar dos estão à frente desse setor? Nenhum projeto urbanístico. Nenhum projeto de ordem para cidade. Para onde olhamos vemos uma cidade igual ou pior dos tempos de Mocaiber/Arnaldo. Não possível ficar fazendo um governo como se estivesse na oposição ainda. E tudo muito medíocre. Um passeio pela Pelinca mostra que a situação está piorando. A cada dia, digo porque vejo, aparece mais um camelô no bairro. Em frente ao Palácio da Cultura, do Parque Centro, ao lado do Itaú, fora obras paralisadas, falta de guarda municipal, um abandono só. Se não acontecer um choque de ordem em nossa cidade, cada dia fica mais difícil de consertar. O Centro está um nojo. Carros clandestinos ainda desafiam todos, diante da guarda. Não existe Postura na cidade, não existe ordem. Na Alberto Torres aquelas barracas de cachorro quente parecem uma favela central, onde impera a sujeira e tudo mais. As ruas estão péssimas, a cor laranja que impera nos meio-fios é do pior gosto. Não sei não, mas esse governo ou dá uma guinada, mudando inclusive alguns secretários que não estão fazendo nada, ou podemos esperar mais uma guerra daqui a quatro anos nas eleições.
Fernanda Moraes
Exelente comentário Fernanda, sou morador também da Pelinca e a coisa está muito feia.Alegam queda na arrecadação dos royaties,mas não comentam o quanto foi economizado com menos 10.000 funcionários na folha de pagamento, será que já é uma justificativa para aumento dos impostos(IPTU,ISS)?
Apesar da queda da arrecadação dos royalties,Campos ainda tem um orçamento estimado em 1 BILHÃO de reais e eles acham pouco.
A nossa governadora está acostumada com um orçamento muito maior(governo do Estado),talves esteja achando 1 BILHÃO de reais pouco.
PS. É ELA
Roberto,
Analisando seu post, uma conclusão podemos colocar.
Toda cidade que vive exclusivamente dependente do governo municipal(PMCG)incluindo royaties, já está na verdade vivendo sem os mesmos.
Uma simples análise do seu post evidencia isso !
abs.
Prof. Roberto Moraes:
Viver sem or royalties é algo a ser levado em consideração em qualquer conversa de botequim, pois todos sabemos que não somos e jamais seremos invulneráveis às oscilações do mercado econômico internacional.
Há a necessidade de repensar formas alternativas para alavancar a economia, digamos "regional", para que com o passar do tempo, estejamos menos dependentes do repasse dos royalties.
É imperativo a necessidade de redução de impostos estaduais para que Campos possa atrair a atenção de empresas de grande porte, pois somente assim a economia regional poderá ser alavancada, poir de nada adianta sermos uma cidade produtora de mão de obra qualificada se a grande maioria desta mão de obra não possui a esperança e condições reais de serem absorvidas pelo mercado de trabalho de nossa região.
Finalizo com a frase popular preferida de meu desencarnado avô, que está ligada à temática da "vida sem os royalties":
"nunca conte com o ovo no fiofó da galinha!"
Abraços a todos.
Os comentários acima falam por si só.
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