segunda-feira, abril 06, 2009

“São os programas sociais adotados pelo Brasil que explicam a relativa boa situação do país em meio à recessão mundial”

A afirmação é do economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais, vinculado ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) e à Fundação Getúlio Vargas (FGV). Neri que é Ph.D. pela Universidade Princeton, nos EUA, fez mestrado na PUC do Rio de Janeiro, é considerado hoje um dos principais estudiosos de pobreza e desigualdade no Brasil. Em entrevista à revista Época desta semana, Marcelo Neri fez uma interessante análise que explica, porque o tsunami da crise chega por aqui como uma onda, ainda navegável. A explicação é simples, mas deve deixar os ortodoxos do liberalismo roxos de raiva: a salvação da economia é o poder de compra dos mais pobres. Veja um trecho da entrevista: A introdução da entrevista feita pelo jornalista Guilherme Evelin: Marcelo Neri - O Brasil construiu um modelo próprio” “O economista diz que o país está bem na crise porque conciliou o mercado com políticas sociais ativas" A carga tributária elevada sempre foi considerada – e ainda é – um dos maiores problemas da economia brasileira. Num passado recente, ela era uma das principais razões para o crescimento moroso do Brasil na comparação com o resto da economia mundial, antes de esta ser atingida pelo derretimento dos mercados financeiros. A carga tributária elevada também ajuda a financiar os gastos sociais do país, proporcionalmente os mais altos da América Latina. Por esse ângulo, ela ganhou cores mais bonitas com a atual crise econômica global. Segundo o economista Marcelo Neri, são os programas sociais adotados pelo Brasil que explicam a relativa boa situação do país em meio à recessão mundial. Para Neri, esses programas são resultado de um modelo de desenvolvimento próprio adotado pelo país nos últimos anos, que soube conciliar o mercado com políticas de redução da desigualdade. Esse modelo híbrido não foi planejado e é fruto das disputas políticas desde a redemocratização brasileira. Neri defendeu essa tese num programa da TV holandesa e explicou suas ideias numa conversa com ÉPOCA”. As perguntas: ÉPOCA – Por que o senhor diz que o Brasil tem um modelo de desenvolvimento econômico que é único no mundo? Marcelo Neri – O modelo brasileiro não é planejado e é híbrido. O Brasil tem bons indicadores macroeconômicos de inflação, deficit público, responsabilidade fiscal, reservas cambiais, mas não é um país reformista de primeira hora. A gente respeita as regras de mercado, mas tem uma carga tributária alta e isso pune o setor privado de nossa economia, que não cresce tanto em tempos de expansão da economia mundial quanto poderia. Por outro lado, nós temos políticas sociais ativas, que fazem o Brasil ter os gastos sociais mais altos da América Latina, em termos de proporção do PIB. Esse modelo híbrido do Brasil, na situação atual de crise externa, se comporta muito bem, melhor que o de países que foram para os extremos. As gorduras desse Estado brasileiro guloso e generoso, que não eram elogiáveis na fase de crescimento de ouro da economia mundial, se tornam boas numa época de inverno econômico porque você tem um mercado interno forte, sustentado por políticas sociais. "O Brasil é uma baleia, um bicho que faz curvas lentas. A coisa boa é que a baleia, na hora do tsunami, flutua e pode dar saltos" ÉPOCA – Em que esse modelo é diferente do social-democrata adotado por países da Europa Ocidental? Neri – Primeiro, a gente tem muitas iniquidades, ineficiências. No padrão estético econômico, a gordura não é algo bom. Você quer ser um tigre, e não uma baleia. O Brasil é um país-baleia, um bicho que não é muito ágil e faz curvas lentas. Essa é a má notícia. A boa notícia é que a baleia, no meio de tempestades, tsunamis e marolas, flutua e é capaz de dar saltos. Essa é uma diferença importante entre o Brasil e os países maduros da Europa. Nós podemos dar saltos se combatermos nossos problemas. Desde 2001, a desigualdade no Brasil tem caído de maneira inédita. A gente nem reduziu tanto a desigualdade, mas o pouco que a gente reduziu gerou um boom. Hoje, temos uma situação em que o Brasil não cresce, na média, como um tigre chinês, mas, na base da sociedade, está crescendo no ritmo da China. ÉPOCA – Não é muito otimismo? Neri – Apesar de nossos enormes problemas, o que o Brasil fez nas últimas três décadas não é trivial. O país se redemocratizou, aprendeu a fazer a política econômica num regime democrático, estabilizou a economia e, como uma das consequências da estabilidade alcançada nos últimos 15 anos, começou a reduzir a desigualdade. Eu espero que nossos próximos saltos sejam na educação. ÉPOCA – Já que o modelo não é planejado, como o Brasil conseguiu construí-lo? Neri – Como o Brasil tem muitas desigualdades, você não pode ter uma visão ultraliberal da economia. O Brasil tem deficits sociais que, numa democracia, são cobrados, e, portanto, você tem de conciliar. Há uma dinâmica política na sociedade brasileira que leva a um equilibrismo. Nós seguimos algumas coisas do Consenso de Washington, mas mantivemos uma economia ainda relativamente fechada, bancos públicos grandes e reformados, um mercado de crédito que cresceu muito nos últimos anos, mas é embrionário em relação a outros países. Essas coisas eram vistas como defeitos, mas, com a crise, passaram a ser vistas como qualidades, porque os mecanismos de propagação dos choques financeiros externos não nos atingem tanto. Por outro lado, se você começa a fazer muitas coisas contra o mercado, as pessoas também gritam. Foi isso que fez o Lula, em seu primeiro mandato, ao colocar o Antônio Palocci no Ministério da Fazenda e seguir a mesma política do Fernando Henrique. Ao mesmo tempo, o Lula implantou uma política social agressiva e deu escala para uma rede de proteção social. O Bolsa Família é outra vantagem do Brasil. Nem China nem Índia têm algo parecido. ÉPOCA – Apesar dessa visão otimista, o senhor tem críticas à atuação do governo Lula durante a crise. Por quê? Neri – Nos momentos de crise, é preciso fazer sintonia fina. Qual é a carência fundamental da economia brasileira e mundial hoje? Demanda. O Pelé do nosso time é o mercado interno forte, sustentado por políticas sociais. Temos de fazê-lo jogar com as políticas certas. Elevar o teto do benefício do Bolsa Família é uma medida correta, porque pesa pouco no Orçamento, aumenta a renda de pessoas pobres, que consomem e fazem a economia andar. Agora, o governo acabou de conceder um reajuste forte de 6,5% para o salário mínimo. Não é uma boa decisão. ÉPOCA – O reajuste do mínimo não ajuda também a movimentar a economia? Neri – Ao fazer sintonia fina, o segredo é fazer políticas de reajustes transitórios. O aumento do mínimo onera a Previdência e é um gasto que vai pesar nas contas públicas anos a fio. É o tipo de gordura que acumulada agora vai impedir o Brasil de andar na mesma velocidade quando o mundo voltar a crescer”.

7 comentários:

Anônimo disse...

E, ao contrário de FHC, que trabalhou para o futuro do país, Lula trabalha para o
passado, reforçando o patrimonialistmo e o coronelismo dos Sarneys, Collors e outros que
tais. Sua política social baseada no bolsa famíllia mantém o povão na ignorância, para
subjugá-lo pela dependência dos caraminguás do bolsa família e evitar que ganhem
conhecimento, que os tornaria independentes.
Ainda não dá para saber exatamente o resultado final da crise para o Brasil. Mas uma
coisa é certa. Toda a resistência do país a essa crise é baseada na herança do governo FHC, com a estabilização da moeda, a lei de responsabilidade fiscal, o equilíbrio das contas públicas, o PROER, o saneamento do FGTS e outras medidas que se mostram, agora, úteis para equilibrar, na medida do ossível, a economia brasileira. Queiram ou não os lulistas, a dívida para com FHC só cresce
E, para finalizar, a prova contundente do fracasso da política social do governo Lula é
que, após 6 anos de bolsa família, o número de dependentes do bolsa família aumenta progressivamente. Um programa social assistencialista só é eficiente quando seus clientes se tornam, progressivamente, independentes da ajuda gratuita do Estado. O bolsa família é um fracasso exatamente porque não demanda contrapartida educacional, que seria
libertadora. Mas isso não interessa aos lulistas

George Gomes Coutinho disse...

Possivelmente o colega anônimo não conheça o bolsa família.

Se conhece não compreendeu nada sobre seu funcionamento.

Se compreendeu, dado o teor de sua crítica, possivelmente só pode estar agindo de má fé.

O Bolsa Família é um programa de transferência de renda cuja condicionalidade justamente é o de mantar as crianças daquela família assistida na escola. Há um cadastro de dados educacionais. Recomendo que visite aqui em Campos o "bolsa família", que até pouco tempo atrás era a rua 7 Capitães, para que tenha o mínimo de informação acerca...

Você é contribuinte. Tem esse direito.

Políticas de transferência de renda deste patamar visam obter resultados libertadores com o passar das gerações... Se os adultos atuais em condições de miserabilidade não "serão salvos", com a aposta na condicionalidade educacional, almeja-se que estas crianças possam ter uma formação social-cognitiva que lhes permita ter uma outra sorte.

Minha crítica é ao tipo de educação em nível fundamental praticada pelos estados e municípios, em sua maioria de péssima qualidade, o que faz com que a condicionalidade educacional seja pouco eficaz no projeto de "recuperação" das próximas gerações.

De toda forma ao entrarem bens de consumo duráveis, possibilitados pelo Bolsa, opera-se a mudança na qualidade de vida destes agrupamentos.


Em suma, como costumo dizer, antes de reproduzir acriticamente como se fosse um papagaio o que está na mídia, se informe. Há algo além de Mainardis e Reinaldos Azevedos...

Roberto Torres disse...

Tucanos, o que voces precisam compreender é que a dependencia ao Estado nao é o pior dos mundos para uma classe social que nao cosegue se erguuer por conta própria. É melhor do que ser abandonada ao mercado, como FHC fez. O liberalismo tucano é uma mistura de ignorancia e má fé ao se recusar a compreender a singularidade desta classe social que só LULA trouxe para a política do Estado. O bom é que o resultado política dessa mistura de ignorancia e má fé é que voces vao para o lixo da história, junto com as idéias mesquinhas que defendem.

Roberto Torres disse...

Os tucanos nao entendem a classe social que só com Lula ganha centralidade na política de Estado. O liberalismo ortodoxo de voces é uma mistura de má fé e ignorancia que, felizmente, vai para o lixo da História junto com o partidinho mesquinho e o intelectual que parou de pensar a 30 anos e cujo governo foi em todos os aspéctos engolido pelo melhor governo democratico que o Brasil ja teve.

Anônimo disse...

Cada vez fico mais convicto que PT e PSDB são idênticos em tudo, só os seus adeptos que se acham diferentes.
O PT copia tudo do PSDB a começar pelo mensalão.

Anônimo disse...

É Roberto o seu blog é bem democrático, mas não sabia que você era tão PT que perde a consciência e o bom senso, pois a História vai se encarregar de mostrar as verdades de todos os governos, inclusive o do PT e o de vcs petistas que acham o PT imaculado, caro Roberto aguarde antes de falar que o PT é o melhor governo, pois todos eles no final são farinha do mesmo saco, ou assitencialiasta(PT) ou da minoria(direita) o único governo bom será o governo de Cristo..
Abraços..

Notlied

Anônimo disse...

O Programa Bolsa Familia não chega até os que realmente ,necessita dele.Diversos beneficios Bolsa Familia foram cortados aqui em MS,e por motivos inventado pelos seus próprios organizadores,obtive conhecimentos de vários sem fundamento nenhum.Sinto muito ,mas que beneficio é esse, que expõe as familias que sobrevive em vunerabilidade e qas fazem passar constrangimentos ridiculos.Não queria por nada essa mereca,nem se não tivesse como me manter.O ser humana tem que ser digno e respeitado,desta forma ninguém cresce,pelo contrário,só é diminuido.Estou de acordo com o Anônimo.Será que seria somente um jeito de desviar essa renda?