Quando escreveu em 1872 um de seus principais títulos, Julio Verne por certo não previra que uma volta ao mundo um dia poderia durar alguns poucos dias. A narrativa gostosa de sua ficção realística, hoje ainda mais real porque factível, despertou inúmeras pessoas a realizar proeza igual ou parecida. E se a modernidade confere conforto e facilidade, também cobra o preço de retirar um pouco da vivência que a morosidade daquilo que é antiquado reservava.
Então há quem prefira cruzar o globo, parte dele ou apenas uma simples viagem dispensando agências, reservas em hotéis, caminhos e rotas usuais e até meios de transporte convencionais.
Essas situações que merecem registro e quase sempre se materializam em publicações posteriores, hoje, com o advento da modernidade e do fenômeno dos blogs podem ser vividas em conjunto com quem vivencia, no calor do momento, quase em tempo real.
Essa é a aventura em curso protagonizada pelo casal Gustavo Teixeira e Danielle Borges. Gustavo tem 32 anos, nascido e criado em Campos, torcedor do Goytacaz e freqüentador dos carnavais do Batello´s, em Santa Clara, é jornalista, formado pela UERJ, motivo pelo qual deixou a cidade nos idos de 1996. Os desenganos com a profissão o levaram a tentar a vida em solo estadunidense em 2003, onde morava parte de sua família, mas o gosto pela aventura é nato. Em 2006, Gustavo cruzou sozinho, de bicicleta, 5800 quilômetros: de Boston a Califórnia, num total de 45 dias “pedalados”.
Assim, o que causa estranheza e curiosidade para a maioria das pessoas, convencionais e pouco afeitas à adrenalina, certamente já virou rotina para os familiares e amigos, que só têm a guardar a preocupação comum.
Nessa nova empreitada, em conjunto da namorada, Danielle, Gustavo encara o desafio de cruzar a América: saindo de Boston até chegar ao Rio de Janeiro, de moto.
A viagem teve início em 14 de março e tem previsão inicial de 90 dias. Como já publicado pelo Gustavo em seu blog é possível que se estenda por conta de dois fatores: por não terem levado em consideração as paradas constantes necessárias para quem viaja de moto e por, talvez, dependendo das circunstâncias, deixarem de entrar no Brasil quando chegarem à Bolívia e resolvam dar uma esticadinha até a Argentina. Todas as cidades que foram visitadas e a rota seguida pelo casal são marcadas no Google Maps, clique e veja aqui.
Dentre as curiosas histórias vivenciadas e publicadas no blog até agora, está a de um encontro furtivo ocorrido ainda em solo estadunidense. É a do motoqueiro Olen Bishop, 73, que morou em Macaé por 13 anos quando trabalhou pela Petrobrás: “E, para finalizar, o melhor da viagem: no meio do nada no Mississipi, esbarramos com um senhor de 73 anos, montado também numa moto e interessado em saber da nossa viagem. Nada de novo sobre as pessoas que nos perguntam sobre nosso destino durante nossas paradas. Mas, dessa vez, a surpresa foi saber que esse mesmo senhor, praticamente banguela, tinha morado em Macaé por 13 anos quando trabalhava para a Petrobrás. E o mais engraçado foi que, depois de afirmar que o Brasil, definitivamente, era o melhor país que havia conhecido, Olen Bishop, como se chamava, soltou a seguinte pérola: as mulheres no Rio sao tão doces que todos os meus dentes se estragaram!!!! Morremos de dar risada!
Outras histórias, impressões e dicas para quem tenha vontade de realizar viagem parecida, outras fotos magníficas da passagem pelo México e o diário dos 31 dias já passados podem ser acompanhadas diretamente no blog do casal: http://oglobo.globo.com/blogs/viamerica/ .
Estranho ou não, por mais casmurro que seja o sujeito, como o era o personagem ficcional de Verne, viagens despertam desde sempre curiosidade, senão em fazê-las, então de conhecer suas histórias. E não faltarão muitas delas “viamérica”.
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