65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
domingo, maio 17, 2009
Formar cidadãos para a vida e para enfrentar o stress do mundo atual
Um bom papo com professores que enxergam o ato de ensinar como um processo mais de moderação do que de transmissão de saberes, sempre produz algo mais. Assim foi a conversa com os professores Celso Vasconcelos e Isabel Parolin que vinham para o seminário sobre Educação no Trianon numa viagem que compartilhamos entre o Rio e a nossa Campos.
Um dos assuntos sobre o quê e como ensinar e a dificuldade que nós professores ainda temos em lidar com o inesperado, é que acabou por suscitar e relacionar esta dificuldade com a de outros trabalhadors em diferentes processos de produção.
Nesta linha exponho que impressiona-me sobremaneira, o fato de que até as empresas, já perceberam que um dos atributos fundamentais que gostariam de ver presentes nas chamadas competências dos seus futuros empregados é a capacidade em lidar com as pressões e o stress dos tempos atuais.
Capacidade de enfrentar e negociar conflitos. Capacidade de enfrentar situações inesperadas. Capacidade em saber diferenciar as virtudes das deficiências dos colegas de trabalho, aproveitando a primeira e neutralizando ou recuperando as incapacidades.
O conceito pode parecer para alguns mais teórico que prático naquilo que são as demandas práticas do ensinar, do repassar e reforçar os conteúdos, do cumprir o programa, etc. Porém, numa sociedade que se pretenda inclusiva e cidadã, a escola não pode apenas querer cumprir o seu papel na formação massificada de turmas, coletivo de alunos, que no seu dia-a-dia transforma cidadãos que diz formar, em números e estatísticas duma sociedade inundada de informações fragmentadas que chegam por todos os lados.
Sobre estas, vê-se que a escola, ao invés de tentar unir e aprofundar a compreensão destas informações parece que majoritariamente tem reproduzido e ampliado sua divulgação em detrimento das suas relações dos seus porquês.
Minha esposa Ildinha, professora da educação infantil, diz ser este um problema também das crianças recém-chegadas aos bancos escolares. Cada vez mais, independentes das classes sociais, as crianças chegam às primeiras séries já bombardeadas de informações, aparentemente até mais capacitadas, porém, imensamente mais fragilizadas emocionalmente (dependentes) quando comparadas às crianças dos tempos em que o brinquedo era a rua e a convivência social.
Esta informação me chamou a atenção e acabou me linkando (para usar um destes termos pós-modernos) com a demanda já ouvida de algumas empresas que relatei acima: da estabilidade emocional e da capacidade de enfrentar conflitos que para elas é hoje tão importante quanto o saber técnico e específico que o trabalho está a exigir.
A empresa já considera que uma formação básica um pouco mais sólida, aliada a uma capacidade mais múltipla de se adaptar às mudanças, enfrentar e gerir conflitos, suportar as pressões por qualidade, produção, resultados, adversidades, crises internas e externas, etc., é tão ou mais importante que o saber operacional e técnico, que além de ser mais fácil de ser ensinado, é permanentemente alterado, pelas mudanças frequentes e contínuas, dos processos tecnológicos e de trabalho. Sendo assim, eu pergunto para você leitor: será que nossas escolas/universidades estão fazendo algo nesta linha?
Longe de mim querer formar um cidadão exclusivamente para o trabalho, ao contrário, mesmo sabendo que este, cada vez invade mais e mais os espaços do não-trabalho, do lazer e da cultura, é que identifico nesta demanda, uma possibilidade concreta, real e expressa de formar o cidadão para a vida, para ser feliz, sem deixar a consciência das suas limitações e também da necessidade de intervir e tentar transformar para melhor a sociedade em que vive.
Desculpem a digressão, mas o pouco tempo para pensar é outro grande desafio que faz o ser humano virar um autômato que cumpre tarefas. O exercício acima teve o único interesse em evitar que a musculatura mental se atrofie, tal qual ocorre com as pernas e braços que seguem as cabeças que comandam, não pensam, mas sofrem as pressões das exigências cada vez maiores e muitas vezes descabidas. Ou seja, apenas um papo de blog. Ou não!
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