65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
terça-feira, junho 30, 2009
Carta de um hondurenho
O blog recebeu o texto do Rodrigo Serra com a informaçao de que trata-se um amigo hondurenho que relata a situação do seu país e que usa a internet para manifestar sua indignação com o golpe militar do último domingo:
Bom dia a todos
Desculpem estar invadindo o tempo de vocês mais uma vez, mas sei que todos partilham da minha preocupação com os acontecimentos que estamos presenciando em Honduras. Fatos estes que afetam não apenas esse pequeno país da América Central, mas que dizem a respeito de toda a América Latina. Nasci em Tegucigalpa em 1963, ano de um golpe que instaurou um governo militar por 8 anos. Em 1972, após um ano de governo democrático, um novo golpe deixou os militares no poder por mais 8 anos, com apoio dos dois partidos políticos (Nacional e Liberal) que tem se revezado no poder desde o século XIX. Ambos os golpes contaram com o respaldo dos Estados Unidos, que manteve convenientes relações com os militares, que nos anos 80 transformaram Honduras numa base norte-americana a partir da qual se atacava o governo sandinista da Nicarágua e se combatia a guerrilha salvadorenha (hoje no poder pela via democrática).
Os anos 80 trouxeram a redemocratização, mas ainda muito longe de uma democracia participativa. Mas representou um período de estabilidade e os militares aparentemente haviam finalmente voltado para os quartéis.
O golpe perpetrado domingo, e não podemos admitir atenuantes, representa a volta do pior do nosso passado e um grave precedente para a América Latina. Mas ao mesmo tempo a reação ao golpe é um sinal de esperança numa nova política latino-americana: pela primeira vemos a condenação enfática de todos os governos da América, que independentemente das suas orientações ideológicas concordam em que não há espaço no continente para a ruptura da ordem democrática. Pela primeira vez os Estados Unidos condenam um golpe na América Central e, principalmente, não estão envolvidos com ele!
As noticias que chegam de Honduras são preocupantes. Todos os meios de comunicação independentes foram censurados e o novo governo tenta assumir uma fachada de legitimidade, afinal o presidente do Congresso (derrotado nas últimas eleições eleições) foi empossado, e havia uma ordem do Judiciário contra a consulta popular que seria realizada domingo. A aproximação do governo hondurenho com os novos governos latinoamericanos e o ingresso na ALBA não podem ser usados como argumentos para o golpe, embora expliquem a postura dos militares e das oligarquias políticas locais. Mas nada, absolutamente nada, justifica o golpe truculento praticado, a repressão aos movimentos civis que permanecem mobilizados nas ruas e a censura aos meios de comunicação.
A pressão da comunidade internacional está sendo fundamental para reverter este quadro e a divulgação de informações pela rede nos mostra um novo tempo em que mais do que nunca, a mentira tem pernas curtas. O editorial de hoje do Jornal do Brasil também é bastante enfático. Repasso para vocês uma carta aberta da minha irmã, que junto a outros hondurenhos se mobiliza na Espanha. Um amigo nosso, conhecido caricaturista de Honduras, foi preso após divulgar uma charge criticando o golpe. Tudo, tudo, nos é muito familiar. Já vimos esse filme antes, e não vale a pena ver de novo.
Luis Valverde".
"Carta de Alicia Valverde"
"Favor distribuir esta mensagem. Os que estamos fora (de Honduras) temos a responsabilidade de ser canal de informações. Temos muitos amigos em perigo, o cartunista Allan McDonald (um dos mais conhecidos do país) foi sequastrado por algumas horas, e escreveu contando que já foi libertado, mas que a repressão está sendo feroz.
O que defendemos é a democracia, e nestes momentos a cesura às informações em Honduras tem feito com que muita gente pense que se trata de uma atitude para defender ou atacar a Mel Zelaya (o presidente deposto), mas o que está em jogo é a estabilidade democrática do país. As idéias se defendem nos espaços democráticos, com respeito às liberdades, não com armas.
Vamos criar um perfil no Facebook em Solidariedade Internacional com Honduras para dispobilizar todas as noticias publicadas no exterior e poder enviar mensagens de apoio a todos os hondurenhos. Em breve enviaremos o endereço na web.
Um abraço grande e confiamos em que logo tenha fim este capítulo tão doloroso".
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Um comentário:
É constragedor o caso hondurenho. Creio que devamos multiplicar essas informações pela rede.
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