Não explica muito para quem não respira o mundo e os negócios offshore de petróleo, você dizer que a Macaé Offshore é a terceira maior feira do mundo, ficando atrás da de Houston, Texas, nos EUA, que na sua última versão teve cerca de 2.500 expositores e a Rio Óleo & Gás, no Rio de Janeiro, que reúne a metade de expositores de Houston e o dobro de Macaé.
Os negócios da área são sempre gigantescos tanto em cifras quanto em peso de suas infraestruturas. É um fato que os poderes locais têm pouca ou nenhuma importância nas articulações e negócios que circulam entre eles. Os donos dos cacifes só não querem problemas ou empecilhos.
É fato que desde 2001, quando o município de Campos ainda disputou a sede deste evento com Macaé, que a corrida por ter um espaço maior na área de serviços foi definitivamente abocanhada pela “ex-princesinha do Atlântico”.
Não havia como ser diferente disso. O fluxo de pessoas e capital está entre o Rio e a sede da Bacia de Campos, em Macaé. Quando muito ela pula e vai ao Espírito Santo, desde quando o nome deste estado, ainda não batizava os campos de petróleo encontrado em seu litoral, que na época ainda era parte da Bacia de Campos.
Não há nada de mal nisso. A visão que se precisa ter em termos de política pública é regional, de integração, de complementaridade e não de concorrência. Porém, é fato que a centralidade de Macaé na indústria offshore de petróleo em nosso país, confere a este município, bônus e ônus a este último, cada vez, em maior escala.
É de impressionar, a imagem que as conversas com alguns empresários-expositores, ou seus representantes e empregados, passam para nós. Eles não guardam nenhuma aderência com o território onde ganham dinheiro e muito menos com a população que habita este/aquele pedaço de terreno, que cada vez vale mais pelo uso temporário do que pelo seu valor real. Não falo de virtualidade, mas de realidade com o que produz valor. Daí a compreensão da superficialidade da relação com os gestores públicos demonstrada pela maioria destes empresários.
Vendo e sentindo isso de perto, não há que se ter dúvida, do que restará após o fim da extração mineral. Analisando a questão não há também que se ter dúvidas, sobre a necessidade de se taxar bem (digo em intensidade) o mineral extraído, em qualquer lâmina d´água que seja, e ainda mais, no pré-sal.
Quanto ao povo daqui, não se deseja que seus representantes se eximam de discutir políticas, concessões e investimentos, mas que antes de tudo não se dobrem às facilidades do presente em nome de vantagens supérfluas sobre aquilo que é finito para um futuro não tão distante.
O frisson da feira faz alguns pensarem que estamos “mudernos”, antenados e linkados com os negócios do setor. Esta é uma ilusão. É verdade que há oportunidades e espaços e a serem ocupados pelos empreendedores locais e também por aqueles que têm formação profissional (especialmente de nível técnico e superior) capazes de ajudar estes a ganhar o seu dinheiro enquanto houver petróleo. Porém, não tenhamos a ilusão de muita coisa, além disso.
O governo federal e a ANP estão certos em querer ampliar a discussão, sobre o que significa o marco regulatório dos campos petrolíferos da chamada camada de pré-sal, que ampliam nossas reservas em quase dez vezes o que é hoje. É injusto admitir que uma ou duas gerações tenham o direito de consumir as riquezas de bilhões, talvez trilhões, de dólares, de euro ou o que o valha...
Enfim, a feira que energiza alunos, empresários e políticos pelo potencial de oportunidades, também espanta qualquer um que se esforce em pensar nas décadas vindouras. Não estamos no eldorado da produção petrolífera, mas já vivemos hoje a certeza de que o petróleo, o gás e seus royalties, como tudo na vida, não produzem apenas bons resultados, mas trazem problemas e entre eles, o pior, a lembrança de que assim como a vida, esta riqueza é temporária e, infelizmente, a morte é certa.
Pode ser que esta leitura do blogueiro seja apenas, mais uma preocupação que ele divide com a sua meia dúzia de leitores, mas pode ser que haja nesta reflexão algo a ser aproveitado. Não há intenção em se fazer uma análise maniqueísta, até porque o mundo, felizmente é mais complexo e menos preto e branco, mas, também não se pode, nos tempos atuais, se curvar para a tecnologia com a ingênua crença de que ela é neutra. Até por isso, o blog sugere que você, de qualquer profissão que seja, morador do nosso Norte Fluminense, não deixe de visitar, até a próxima sexta-feira, a Brasil Offshore no MacaéCentro. Depois, tire você mesmo, as suas próprias conclusões. Feito assim, o blog terá cumprido sua função de fazê-lo refletir, e quem sabe agir. Sigamos em frente!
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
terça-feira, junho 16, 2009
A finitude e a virtualidade dos negócios do petróleo – breve análise da Brasil Offshore em Macaé
O blogueiro aproveitou o cumprimento de sua agenda profissional como professor e membro da gestão do IFF, na abertura da feira Brasil Offshore, em Macaé, para manter seus leitores também informados.
Numa análise um pouco mais além dos fatos, o blog segue...
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2 comentários:
Caro Prof. Roberto:
Uma bela reflexão de uma mente não alienada pela volúpia dos negócios que giram de forma assustadora.
Não sei se aos leitores, mas com certeza, aos trabalhadores do setor, além de todo os prestadores de serviços e gestores públicos, essa reflexão deve ser bem feita e nesse sentido, para que o planejamento de longo prazo possa ser pensado de forma a se precaver com relação a essas "perdas".
Parabenizo-o pela reflexão, pedindo ainda sua autorização p postá-la em nossa blog.
Abçs
Angeline
Cara Angeline,
Use à vontade.
Grato.
Abs.
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