65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
sábado, julho 25, 2009
"Simpáticos, cordiais e canalhas"
Normalmente não gosto do Nelson Motta como articulista, mas no seu texto publicado ontem, no jornal O Globo, fora a crítica fácil contra os políticos, embora correta, contém como melhor parte, a que se refere a tipos encontráveis em nosso dia-a-dia. Separei alguns trechos:
"Cuidado com os simpáticos e cordiais, sempre advirto minhas filhas, e mais ainda com os bajuladores e paparicadores: são condições básicas necessárias para o exercício da canalhice..."
... Nada contra a simpatia ou a cordialidade, pelo contrário, com elas a vida e a convivência se tornam muito mais agradáveis, civilizadas e produtivas, e me esforço diariamente para usá-las como um estilo de vida. Não uma arma.
"Assim como o psicanalista Hélio Pellegrino dizia que a inteligência voltada para o mal é pior do que a burrice, a simpatia e a cordialidade, quando usadas para o exercício da canalhice, são piores do que a secura e a dureza no trato..."
"... São contadores de causos pitorescos, gostam de citar provérbios populares de suas regiões, aparentam simplicidade interiorana, mas são raposas urbanas vorazes e vaidosas..."
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
Para complementar o pensamento, prefiro os falantes, com bom ou mau intuito, do que os silenciosos que temem mostrar o q pensam...
Caro Roberto, esse post faz lembrar o clássico da cultura nacional: Raízes do Brasil (1936) de Sérgio Buarque de Hollanda. Uma das noções mais interessantes e polêmicas formuladas por ele é a do "homem cordial". Durante muito tempo tal conceito pareceu ser a síntese da "brasilidade" (junto com o jeitinho, a malandragem ou o mito da "democracia racial"). Durante anos Sérgio Buarque teve que prestar satisfações sobre o uso ideológico desse conceito. Nas palavras dele: "Nunca disse que o brasileiro é bonzinho." Ou ainda, "hoje (1977) eu não usaria essa expressão, porque é ambígua." Em outra edição do livro (nota/1947) ele já havia refinado o ponto de vista: "A inimizade bem pode ser tão cordial como a amizade, nisto que uma e outra nascem do coração, procedem, assim, da esfera do íntimo, do familiar, do privado". Na sociedade onde vive o homem cordial, diria ele no livro, cada indivíduo "afirma-se ante os seus semelhantes indiferente à lei geral, onde esta lei contrarie suas afinidades emotivas". O homem cordial, generoso e hospitaleiro no trato, é na verdade superficial, apegado às aparências. Abre flanco aos personalismos, segundo ele, um dos fundamentos da sociedade brasileira.
Caro Gustavo,
Não li Raízes do Brasil(e não vou escrever ainda - porque sinceramente esta leitura não está nas minhas prioridades) mas sim, diversos escritos sobre o livro do Sérgio Buarque de Hollanda.
Imagino que assim como seu comentário eles têm pistas importantes sobre entendimentos que buscamos perto de nós.
Ontem li sobre o Mazaroppi e Jeca Tatu. Uma outra interpretação da esperteza, brasileira, só que vinda do rural e não do urbano.
As dificulades para enfrentar o conflito e a discordância tem origens nestas análises.
Melhor concordar e acomodar do que discordar, discutir, aprofundar e debater. Por vezes, melhor a alternativa que surge é a agressão pessoal...
Bom que os cientistas sociais nos ajudem a compreender isto que ainda está debaixo dos tapetes...
Valeu por mais este aprofundamento nos posts aqui jogados ao vento...
Postar um comentário