65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
sábado, dezembro 12, 2009
Mais sobre obras costeiras
O blog recebeu de forma complementar do engenheiro alagoano, Marcos Lyra, especialista em obras costeiras, informações que complementam seu artigo postado aqui e também nota postada aqui:
"Prezado Roberto Moraes,
Agradeço sua oportunidade de me inserir num debate muito atual. Com os cenários de mundanas climáticas devido ao aquecimento global, as regiões litorâneas com certeza serão as mais afetadas. O Professor Adalberto Vallega quando da criação da agenda 21 pela ONU, já preconizava que as populações litorâneas da América do Sul e da África, seriam as mais penalizadas com a elevação do nível dos oceanos, por se encontrarem totalmente despreparadas para enfrentar o problema.
Gostaria de informá-lo um pouco mais sobre a situação de obras costeiras no Brasil e no mundo, para que possa entender melhor porque defendo a tese do uso do Bagwall como uma grande alternativa para controle do avanço do mar em áreas urbanas.
Num comentário feito no seu Blog feito por um anônimo, foram citadas as obras que foram construídas a pouco tempo e que me parece ainda resta algumas intervenções em Marataizes - ES. As obras lá construídas me parece que foram espigões e quebra-mares (ou promontórios) e engorda artificial ( aterro de praia). Espero que não ocorra em Marataízes o mesmo que ocorreu em Janga (Paulista-PE), lá foi feito o mesmo tipo de intervenção em 2002, após a construção das obras de proteção costeira o município resolveu urbanizar a orla, pois a mesma se encontrava devida mente protegida. Ocorre que desde 2006 a orla urbanizada continua sendo destruída pelo avanço do mar. No dia 19/11/2009, participei de uma Audiência Pública promovida pelo vereador Fábio Barros a convite dele, onde participaram professores da UFPE e técnicos do Governo do Estado que está deveras preocupado com a situação caótica que se encontra a Região Metropolitana do Recife, são 4 municípios em situação caótica: Jaboatão dos Guararapes, Recife, Olinda e Paulista.
As obras costeiras construídas, provocaram um agravamento na situação existente hoje, de maneira que se não houver muito bom senso nas decisões administrativas a situação pode ficar incontrolável.
Quando o porto do recife foi construído, apareceu um forte processo erosivo em Olinda. Na época os franceses resolveram construir quebra-mares e espigões que segundo a literatura histórica da obra, não foram construídos todos os quebra-mares previstos no processo o que provocou novos processos erosivos. Começaram então a proteger a costa com o pedras de erocamento, que inclusive é mantido regularmaente até hoje. Com isso a praia recreativa tornou-se inexistente. O processo erosivo continuou atá chegar na praia do Janga em Paulista. Com a construção do Porto de SUAPE (Ipojuca-PE), começou o processo erosivo em Candeias, com a construção de espigões e quebra-mares, o processo erosivo foi transferido para Piedade. Hoje Piedade está com sua orla igual a Olinda cheia de pedras. O processo erosivo avançou até o Recife, e hoje a Prefeitura de Recife gasta por ano R$ 2 milhoes de reais por ano para manter 3km da orla da Av. Boa Viagem. Até 2008 eram apenas 2 km, como o processo aumentou hoje são 3 km.
Quando defendo uma defesa costeira onshore, é baseado no que ocorre naturalmente em qualquer praia do mundo, "a praia é o grande dissipador da energia das ondas", consequentemente, se quero conter o avanço do mar o local mais favorável para fazê-lo é na costa. Essa é a concepção básica do Barra Mar Dissipador Bagwall.
Pessoalmente, acho a engorda artificial a melhor solução que conheço do ponto de vista ambiental, pois você recomponhe o aterro de praia, tornando-a aprazível, entretanto, existe uma série de condicionantes que dificultam o seu uso, por exemplo, a falta de areia adequada para o uso no aterro. É preciso também avaliar qual a energia do trem de ondas no local da intervenção para que não se perca em pouco tempo o trabalho realizado. Essas obras são mutio utilizadas em países ricos, pois a cada seis anos há necessidade de manutenção dos aterros. Portugal gasta anualmente cerca de 36 milhões de euros com essa reposição.
Recentemente, fui convidado pela SPU/AL para fazer uma apresentação aos municípios de Alagoas dos resultados do uso do Bagwall em nosso litoral, eles chegaram a conclusão ao monitorar as 3 obras aqui constuídas, que essa é a melhor alternativa de defesa costeira encontrada. Aqui tanto a SPU como o IMA, não aceitam nenuhma intervenção de obra de defesa costeira, que não dissipe a energia das ondas no local da intervenção.
Para finalizar, quero lhe informar que nas duas primeiras obras que construímos em Alagoas há mais de 5 anos, não foi gasto um centavo com manutenção. O Bagwall tem uma vida útil média de 30 anos sem necesidade de manutenção.
Caso queira ter uma visão melhor de como a obra funciona, acesse o site do YOUTUBE, digite o nome bagwall e assista o documentário das duas obras que disponibilizei para os participantes do I Simpósio de Engenharia de Alagoas em outubro/2009.
Permaneço à sua disposição para quaisquer esclarecimentos.
Atenciosamente.
Marco Lyra."
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Um comentário:
As manifestações do Engenheiro Marcos Lyra, pela forma simples e clara de exposição, me levaram ao convencimento que os seus conhecimentos bem poderiam ser aproveitados pela Prefeitura de São João da Barra.
Parabéns ao articulista e blogueiro pela oportuna abordagem.
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