O blog recebeu do leitor Luiz Henrique Gomes Moraes a cópia e um link, de uma nota publicada aqui no blog do Sakamoto. Luiz fez a seguinte observação a respeito de sua indicação:
“Pr. Roberto este texto foi extraído do Blog do Jornalista Leonardo Sakamoto, achei interessante compartilhá-lo neste momento de reflexão sobre a partilha dos Royalties, de extremos a outros extremos o absurdo não muda. A sede pelo poder e atitudes gananciosa independem da localização regional. Luiz Henrique Gomes Moraes, Abraços.”
Ainda como preâmbulo do texto a ser apresentado, o perfil do Sakamoto indicado em seu blog diz: "Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Foi professor de jornalismo na USP e trabalhou em diversos veículos de comunicação, cobrindo os problemas sociais brasileiros".
Pois bem, Sakamoto publicou um interessante texto, no último dia 11, em seu blog, que já tem 63 comentários, e cujo título é: “Quando os royalties não trazem felicidade”.
Abaixo republicamos o mesmo para sua reflexão, que permite identificar, mesmo com as especificidades da produção de petróleo em terra (no continente) ou no mar, que não dá para não considerar as necessidades de quem vive o impacto da exploração e produção de petróleo, e ao mesmo tempo, confirmar, que sem mecanismos de controle mais rígidos, aqui ou acolá, os recursos dos royalties continuarão a ir para o ralo, em Coari, em Campos, ou mesmo no Piauí:
“Quando os royalties não trazem felicidade”
"No coração do Amazonas, banhado pelo rio Solimões, Coari era igual a qualquer outro município no meio da maior floresta tropical do planeta, com uma pequena população. A realidade local começou a mudar quando foram descobertos petróleo, de excelente qualidade, e uma imensa jazida de gás natural cerca de três mil metros abaixo do solo. A partir daí, a Petrobras implantou em suas terras a Província Petrolífera do Rio Urucu, tornando possível a prospecção, o transporte e o escoamento do material até o Solimões e, de lá, para a Refinaria de Manaus (Reman). Fui para lá há alguns anos escrever sobre a cidade e, recentemente, atualizei os dados com a ajuda do jornalista Maurício Reimberg. Trago a história, igual a tantas outras em território nacional, para mostrar um exemplo de como a discussão dos royalties da camada pré-sal, que animou as discussões no Congresso Nacional nos últimos dias, ainda não estão alinhadas com a realidade dos brasileiros.
Do primeiro poço, construído em 1986, até hoje, Coari multiplicou seu orçamento. Em 2001, eram R$ 19,14 milhões em royalties transferidos pela Petrobrás à administração municipal, além de R$ 1,25 milhão na forma de participação especial – paga quando há grande volume de produção ou rentabilidade. Para 2009, a previsão da prefeitura era de que o repasse ultrapassasse os R$ 80 milhões. Dos municípios com exploração continental no país, Coari é o que mais recebe royalties, e no ranking geral perde apenas para os da região da bacia de Campos, no Rio de Janeiro.
Contudo, essa fartura de recursos não alterou muito a qualidade de vida de seus moradores. Da mesma forma que o orçamento, a população também foi se multiplicando, e hoje são mais de 65 mil habitantes na busca pelo seu quinhão do Eldorado negro. A cerca de dois quilômetros do porto da Petrobras, no rio Solimões, a iluminação do terminal e a movimentação das embarcações afastaram os peixes, que eram fonte de renda e alimentação para a população ribeirinha. A compensação financeira pela exploração do subsolo não foi sentida pela população mais vulnerável: “Não houve mudança significativa com a vinda da Petrobras. Nas comunidades por onde passa o gasoduto, as pessoas não sabem para quem vão os benefícios”, afirmou Joércio Golçalves Pereira, bispo da Prelazia de Coari. “Quando vem alguma autoridade importante, eles [a prefeitura] investem numa comunidade e falam que todas as outras são do mesmo jeito. Isso não é verdade.”
Há reclamações sobre a falta de saneamento básico, de água potável e o acúmulo de lixo nas vias. Os moradores convivem num contexto de elevado consumo de bebidas alcoólicas e drogas. Diante do quadro de precarização da saúde, cresce o número de casos de doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids, além da violência. A prostituição infantil é mais uma das faces de um desafio à espera de solução em Coari. Uma possível consequência disso é que a estatística das meninas grávidas com idade até 15 anos mostra uma elevada incidência da maternidade precoce. Entre mulheres que tiveram filhos em Coari, no primeiro semestre de 2008, 13,9% estavam nessa faixa. Em 1995, um ano antes da chegada do petróleo à cidade, apenas 1,7% das grávidas tinha idade abaixo de 15 anos.
Em maio de 2008, uma grande ação da Polícia Federal (PF) sacudiu o cenário político de Coari. A Operação Vorax, alusão a uma bactéria que se alimenta de petróleo, investigou uma quadrilha acusada de participação num suposto esquema de desvio de verbas públicas na prefeitura local. Segundo a Polícia Federal, a organização criminosa se apropriava de recursos repassados pelo governo federal e pela Petrobras referentes à exploração de petróleo e gás no município. Segundo a conclusão da fiscalização feita em 2007 pela Controladoria-Geral da União (CGU), em parceria com a PF, os supostos desvios praticados pela prefeitura de Coari geraram mais de R$7 milhões em prejuízos aos cofres públicos entre 2001 e 2006, sendo R$3,1 milhões em recursos federais e mais de R$3,8 milhões em receitas de royalties.
As empresas que fazem a exploração de petróleo, gás natural ou xisto betuminoso repassam o valor dos royalties à Secretaria do Tesouro Nacional. O cálculo exato depende de fatores como riscos geológicos e expectativas de produção. Cabe à Agência Nacional do Petróleo apurar o valor devido aos beneficiários e garantir o pagamento. O montante – dividido entre estados e municípios produtores (ou que abriguem estrutura de transporte) e, eventualmente, a Marinha e o governo federal – é então depositado em contas do Banco do Brasil. A legislação em vigor proíbe sua utilização na amortização de dívidas ou na folha de pagamentos. E, é claro, no uso dos recursos coletivos de forma individual.
Diante disso, é difícil acreditar que todas as brigas no Congresso Nacional por fatias maiores de royalties para os estados são por puro interesse público. Afinal de contas, não é que dinheiro não traga felicidade. Dinheiro mal aplicado é que gera tristeza."
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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3 comentários:
Existe duas questões relacionadas ao royalties:
A primeira é,por pressão de São
Paulo,o petróleo é o único produto que o ICMS não é cobrado no local de origem, mas no consumo. Os royalties são uma forma de compensação por tal situação não faz sentido dividi-lo “igualmente” com a federação. Os municípios em torno da região de extração mais que quintuplicaram a sua população em menos de vinte anos, nao chegariam nem perto de dar conta do aporte de recursos necessários a tal situação sem o dinheiros do royalties.
A outra é a forma como esse montante de recursos foi simplesmente entregue a oligarquias regionais sem nenhum tipo de controle (aliados de Sérgio Cabral diga-se de passagem). Os hospitais são um lixo como no resto do estado, o saneamento básico não é feito, etc… Não é à toa que a população de Macaé, por exemplo, não se entusiasmou muito pelos protestos já que não vê muito o resultado desses recursos.
A manutenção dos royalties deveria ser acompanhada por um rigorosa fiscalização de sua aplicação em programas de saneamento, saúde, educação e meio ambiente. Do jeito que está serve apenas para enriquecer uma casta de coronéis locais.
NINGUÉM QUER A CPI DOS ROYALTIES.
"Esta diretriz não suprime a necessidade da implantação de instrumentos de controle social"
Por que será que a prefeita e os ex-prefeitos não querem a instalação da CPI dos royalties?
A proposta da vereadora Odisséia(CPI) foi rejeitada por todos.
Essa mesma proposta já foi colocada em discussão anos atrás, pelo então vereador(nobre vereador) Antonio Carlos Rangel(Cacau); também foi desprezada.
Será por quê? Todos sabem...
Por isso, pergunto: para onde foram os recursos dos royalties?
Em 1986, o orçamento mensal de CAMPOS DOS GOYTACAZES era de 1(um) milhão de reais(12 milhões no ano) .
Em 2009, CAMPOS DOS GOYTACAZES contou com um orçamento(anual) de aproximadamente R$ 1.500.000,00(um bilhão e meio de reais).
Janeiro de 2010, CAMPOS DOS GOYTACAZES contou com um orçamento de 89.381.920,94.
Fevereiro de 2010, CAMPOS DOS GOYTACAZES contou com um orçamento de 217.657.464,63.
RESUMINDO:
EM 1986: 12 milhões no ano;
EM 2009: R$ 1.500.000,00(um bilhão e meio de reais).
De 1986 a 2009, o que mudou efetivamente em CAMPOS DOS GOYTACAZES?
CAMPOS DOS GOYTACAZES
Um dos maiores PIBs do Estado do RJ
Campos uma das maiores desigualdades (0,49). Como é vergonhosa a desigualdade
em Campos.
Desigualdade!
Método utilizado: Índice de Gini - É utilizado para calcular a distribuição de renda, varia entre 0 e 1. Onde 0(zero) corresponde à completa igualdade de renda e 1(um) corresponde à completa desigualdade.
O município com a mais alta desigualdade, Parati teve o índice de 0,55.
Próximo de 0(zero) é bom; próximo de 1(um) é ruim.
Areal 0,40
Armação dos Búzios 0,42
Arraial do Cabo 0,39
Campos dos Goytacazes 0,49
Duque de Caxias 0,42
Engenheiro Paulo de Frontin 0,40
Guapimirim 0,42
Iguaba Grande 0,43
Itaboraí 0,39
Parati 0,55
Queimados 0,39
Quissamã 0,41
Rio das Ostras 0,41
Rio de Janeiro 0,48
Santa Maria Madalena 0,48
Santo Antônio de Pádua 0,48
São Fidélis 0,46
São Francisco de Itabapoana 0,44
São João da Barra 0,42
São José de Ubá 0,39
Sapucaia 0,42
Três Rios 0,43
Varre-Sai 0,40
Vassouras 0,46
Volta Redonda 0,41
OS SEM-ROYALTIES
De 92 cidades do Rio, apenas cinco não recebem riqueza que vem do óleo
Entre as 92 cidades do estado, Sapucaia(0,42), Areal(0,40), Comendador Levy Gasparian(0,36), Paraíba do Sul(0,43) e Três Rios (0,43) não entram no rateio da riqueza do petróleo.
COM ROYALTIES:
Campos dos Goytacazes 0,49(DESIGUALDADE)
SEM ROYALTIES:
Comendador Levy Gasparian 0,36(DESIGUALDADE)
Campos é a sexta cidade mais rica do país.
O povo campista parece não ser beneficiado por um centavo dos R$ 1,4 bilhão do orçamento do município. Se pudesse ser simplesmente distribuído à população, cada habitante receberia R$ 3,2 mil.
O aumento na
arrecadação dos royalties do petróleo não significou redução nas desigualdades
socioespaciais na cidade de Campos dos Goytacazes (RJ).
Mais aqui:
http://www2.unesp.br/revista/?p=637
Bicho Possuído
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