65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
domingo, maio 16, 2010
"Na dividida"
Apesar do título, o assunto agora, não é sobre política, mas, futebol, como convém a um domingo. O título da nota é oriundo do artigo desde domingo, publicado em diversos jornais do país, do craque, Luiz Fernando Veríssimo. Ele vale para esta fase de aquecimento para a Copa do Mundo, prestes a ser iniciada, na África do Sul:
"Na dividida"
"Contam que depois de um vexame do David Beckham num jogo da Copa na Alemanha, sua mulher Victoria teria ligado para seu celular e dito algo como “Anime-se, baby. Seu cabelo estava ótimo”.Uma frase cheia de sentidos. Significava que futebol é apenas futebol e que nada é tão trágico que não tenha suas compensações. Significava que ninguém deve se abater com um tropeço passageiro porque a vida continua e pode ser bela, ainda mais se você é o David Beckham e tem o seu cabelo. Mas, pressupondo-se uma dose de cinismo no comentário da Victoria, que era uma das Spice Girls, ou garotas apimentadas, a frase era para lembrar o marido das suas prioridades: tudo pela Inglaterra, certo, baby, mas acima de tudo a sua imagem. A seleção não era tão importante quanto o estado do seu cabelo.
Com os jogadores de futebol ganhando cada vez mais e portanto sua integridade física valendo cada vez mais, não é de admirar que na hora de meter o pé para dividir uma bola a questão das prioridades passe pela sua cabeça, em meio segundo. Arriscar tudo – perna, sustento da família, contratos de publicidade, futuro – na dividida, ou esquecer tudo isso e entrar, pela camiseta ou pela pátria, para rachar? Uma crítica feita a alguns jogadores brasileiros naquela Copa era que estariam mais preocupados com suas imagens pessoais do que com o sucesso do grupo. Cada um tinha o seu cabelo do Beckham para cuidar.
Não sei até que ponto a decisão de chamar o Dunga para dirigir a seleção nasceu desta constatação, justa ou não. Ninguém imaginava que ele fosse um estrategista, mas se existiu um jogador que nunca hesitou em entrar de corpo, alma e cabelo numa jogada, na história recente do futebol brasileiro, foi o Dunga. Ele teria sido contratado menos como técnico do que como exemplo. O que torna toda a discussão sobre planos e táticas e jogadores convocados ou não convocados um pouco irrelevante. Dunga nunca escondeu o tipo de jogador que prefere, e foi coerente. Sua coerência como treinador é a mesma do jogador que entrava na bola sempre com a mesma decisão, sem pensar em se auto-preservar. Anunciando sua convocação coerente apesar de toda a pressão, Dunga foi, mais uma vez, na dividida."
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