65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
quinta-feira, julho 29, 2010
Impactos na implantação do empreendimento do Açu
O economista e professor da Uenf, Alcima das Chagas Ribeiro, enviou ao blog e também publicou no seu "Economia do Norte Fluminense", uma reflexão a respeito do processo de implantação do mega empreendimento na região do Açu. Alcimar defendeu uma maior interlocução com a sociedade regional e não apenas com os agentes governamentais para que os impactos sejam menos negativos para todos. Leia abaixo o texto que contribui e muito para o debate sobre o desenvolvimento que se pretende para toda esta nossa região:
"Até que ponto grandes investimentos exógenos garantem desenvolvimento econômico local?"
"Acompanhei a audiência pública para licenciamento ambiental da Unidade de Tratamento de Petróleo do Terminal Portuário Privativo de Uso Misto – Superporto do Açu, realizada ontem em São João da Barra. Uma repetição das audiências anteriores.
Monta-se um grande circo, segundo exigência dos órgãos ambientais, atraem-se grupos de pessoas, muitos nem sabem o está acontecendo, democratizam o processo através da participação dos poderes públicos institucionalizados e da participação do público presente, através da elaboração de perguntas escritas e estritamente amarradas ao tema específico e lá vão discursos bonitos e generalistas de mais.
Quanto aos possíveis impactos ambientais identificados, ou seja, alteração da qualidade da água, interferência na fauna marítima, vazamentos de petróleo, explosões e incêndios, tudo sobre controle.
Os modelos matemáticos parece ter o poder de antecipar todos os males e indicar os ajustes dentro dos parâmetros aceitáveis internacionalmente. Parece que ninguém se lembra dos recentes e substancias prejuízos com o vazamento de petróleo no Golfo do México e, atualmente, do vazamento de minério em Minas Gerais com reflexos na Bacia do Rio Itabapona, levando a consistente mortandade de peixes.
Em relação aos reflexos positivos, o discurso caminha em direção a potencialização do turismo, aumento de royalties a geração de emprego e renda localmente, como se tal processo pudesse se dar naturalmente. Sabemos que isso não é verdade. Em quase três anos de obras do porto, realmente houve aumento de emprego e aumento das receitas tributárias próprias. Entretanto, a aceleração desses indicadores não está garantindo uma evolução socioeconômica no município.
O emprego não apresenta característica de sustentabilidade, por trata-se de investimentos exógenos (de fora pra dentro), que demandam mão-de-obra de baixa qualificação na fase de construção, não mantida na fase de operação, onde essas plantas passam a demandar um perfil de trabalhador altamente qualificado. O aumento da tributação pouco representa, já que a sociedade fica na dependência da eficiência do governo, no que diz respeito a sua alocação. A experiência é que o aumento da receita pública tem gerado custeio com baixo padrão de investimento.
Todo esse contexto fortalece a velha discussão de que é, essencialmente, necessária a criação de um canal de comunicação entre os investidores e a sociedade civil. Não ignorando o papel do poder público institucionalizado, a sociedade é real e está representada nos atos das pessoas que vivem aqui, nos seus costumes e suas necessidades de sobrevivência de forma digna. Os empreendedores não têm a responsabilidade de transformar esta sociedade, mas pode agir mais pro ativamente, no sentido de apoiar a necessária restauração do tecido social.
Definitivamente não alcançaremos um estagio de desenvolvimento socioeconômico com ausência de capital social. Hoje predominam na sociedade a desconfiança, o individualismo, a ignorância ética a ausência de civismo e o desrespeito às regras estabelecidas."
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