65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
sexta-feira, dezembro 03, 2010
"Eu ajudei a destruir o Rio!"
O texto abaixo que empresta o título a este "post" foi publicado no Jornal de Brasília. Seu autor é Sylvio Guedes, editor-chefe do Jornal de Brasília. Guedes critica o "cinismo" dos jornalistas, artistas e intelectuais ao defenderem o fim do poder paralelo dos chefes do tráfico de drogas. Ele desafia a todos que "tanto se drogaram nas últimas décadas que venham a público assumir: eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro". Ele já foi republicado em diversos espaços aqui da rede, mas merece ser ainda mais repercutido:
"Eu ajudei a destruir o Rio"
"É irônico que a classe artística e a categoria dos jornalistas estejam agora na, por assim dizer, vanguarda da atual campanha contra a violência enfrentada pelo Rio de Janeiro. Essa postura é produto do absoluto cinismo de muitas das pessoas e instituições que vemos participando de atos, fazendo declarações e defendendo o fim do poder paralelo dos chefões do tráfico de drogas.
Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente.
Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon.
Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas
chefias e diretorias.
Quanto mais glamuroso o ambiente, quanto mais supostamente
intelectualizado o grupo, mais você podia encontrar gente cheirando carreiras e carreiras do pó branco.
Em uma espúria relação de cumplicidade, imprensa e classe artística (que tanto se orgulham de
serem, ambas, formadoras de opinião) de fato contribuíram enormemente para que o consumo das drogas, em especial da cocaína, se disseminasse no seio da sociedade carioca - e brasileira, por extensão.
Achavam o máximo; era, como se costumava dizer, um barato.
Festa sem cocaína era festa careta.
As pessoas curtiam a comodidade proporcionada pelos fornecedores: entregavam a droga em casa, sem a
necessidade de inconvenientes viagens ao decaído mundo dos morros, vizinhos aos edifícios ricos do asfalto.
Nem é preciso detalhar como essa simples relação econômica de mercado terminou. Onde há demanda, deve haver a necessária oferta. E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas.
Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes
rastacuera, que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem ousa lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade.
Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é, digamos assim, tolerado.
São doentes os que consomem. Não sabem o que fazem. Não têm controle sobre seus atos. Destroem
famílias, arrasam lares, destroçam futuros.
Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se drogaram nas três últimas décadas venham a público assumir:
"Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro."
Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e Mercedes."
Assinar:
Postar comentários (Atom)
15 comentários:
Participei de muita reunião do PT, nos idos de 89, no século passado, onde ao final invariavelmente "rolava um baseado". Lembro perfeitamente de um professor, de altas rodas intelectuais, que trazia do rio lata da mais pura espécie sativa a fim de ofertar seus "companheiros". Estávamos no pós ditadura pré campanha e Lula ainda tinha barba pixaim e falava grosso e com graxa.
Sei que haverá quem se arvorará senhor dos pingos nos is e dirá que isso não era prática só do PT. Nem eu digo isso, sei que não era, mas foi o que viu meu olhar pós adolescente.
Estou fora.
Palavras de um grande humorista da rede bobo: Aqui na rede bobo, eu só coloco a mão no fogo pelo meu sobrinho e por mais ninguem.
Excelente texto do editor-chefe desse jornal. É a mais pura verdade. E é nesse momento q aqueles q curtem um baseado por aí se calam.
Mas o preço na cannabis vai subir...
Roberto Moraes, publicar um texto desse é simplesmente repercutir o pensamento da Rede Globo e do filme Tropa de Elite I. É uma tese que se sustenta como uma folha de papel que não fica em pé numa mesa.
As drogas fazem parte da história da civilização humana desde os primórdios (e sempre fará). Pergunte a qualquer antropólogo sério ou pesquise no Google essa relação.
Converse com algum psicanalista sério e verá que as drogas servem tanto como válvula de escape como jogar o futebol no final de semana ou torrar o cartão de crédito no shopping na pelinca.
Tudo em excesso faz mal. Condenar ou culpar artistas, intelectuais ou jornalistas pelo tráfico de drogas é ter uma visão tacanha de um problema macro.
Acabar com o narcotráfico é acabar com o usuário. Como a recíproca não é verdadeira, por que então uma campanha de liberação?
Pelo menos acabariam disputas que ceifam vidas inoscentes.
Acaba com a hipocrisia e descrimina o usuário.
"Dizem" por aí que o proibido aguça mais a curiosidade do ser humano, principalmente dos jovens?
É evidente que não é um tema qualquer, carece de muita discussão, mas que não é apenas um caso de polícia, é evidente que não.
Enquanto existir usuário, vai existir a produção e a venda!
É a lei do mercado!!!
Vender droga ilegal é uma coisa. Sobe o morro pega um baseado ou um papel ou então pede entrega a domicílio. Agora atear fogo em veículos, assaltar, matar, sequestrar são outras coisas. Deixa que quer se drogar se drogar, o que não pode é deixar os chefas do norcotráfico fazerem qualquer coisa, serem os donos dos morros.
Excelente texto, o melhor até agora sobre a violência e a guerra contra o tráfico no Rio. Com certeza são os usuários os maiores responsáveis por isso!
Abaixo a hipocrisia!
Quem quiser se drogar, que se drogue e morra, mas tem que ter consciência que são os maiores culpados por todas as atrocidades cometidas por esses bandidos.
Na verdade, são piores do que eles, já que a maioria teve outra opção e não quis, já o miserável, que nasceu no morro, vai saber!!
E as mais de trinta pessoas que morreram, incluindo uma adolescente de 14 anos e outras três pessoas que nada têm a ver com o negócio da droga, durante operações das “forças de segurança?
E os Mauricinhos drogados sentados em sua sala confortavelmente assistido sua tv, como se não fizessem parte disso tudo???
Ah... faça-me o favor!
Vocês são culpados também!
Vocês fazem parte disso, muito mais que os trabalhadores honestos e seus filhos inocentes, que moram no morro e convivem com o tráfico, porque não tem pra onde ir!
Mariana Arêas
São os usuários que dão dinheiro e conseguentemente poder aos bandidos!
Agora querem dar uma de inocentes!
Leiam o texto do blog Fanatismo Indeciso: "TEM MUITA GENTE NA BLOGOSFERA REPERCUTINDO O RISÍVEL TEXTO "EU AJUDEI A DESTRUIR O RIO"".
http://fanatismoindeciso.blogspot.com/2010/12/eu-ajudei-espalhar-bobagens-sobre-um.html
Achei esse texto muito verdadeiro.
NÃO achei risível nem um pouco.
Os que são a favor das drogas querem a todo custo ridiculariza-lo. simplesmente pra não se sentirem culpados por contribuirem para que a situação chegasse a esse ponto.
Está na hora de fazerem sua mea culpa.
A Rede Globo e a Veja fazem uma lavagem cerebral nas pessoas e elas nem percebem e ainda acham que pensam sozinhas...
A revista "Não Veja" e a "rede Bobo", é o pior que existe em termos de imprensa no país, duvido de tudo que eles noticiam, duvido que conseguiriam fazer alguma lavagem cerebral em mim.
Mas continuo achando que os usuários tem uma grande parcela de culpa nisso tudo.
Mariana Arêas
inda que o governo deva cumprir com seu papel institucional, temos que considerar que, mesmo sendo vítimas, os usuários têm sua parcela negativa de contribuição para o tráfico de drogas. É importante destacar que, hoje, circulam nos meios de comunicação informações relevantes acerca do abuso de drogas. Há informação, mas não há conscientização.
Postar um comentário