65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
sábado, fevereiro 12, 2011
"Chuvas, chamas e luz"
O texto abaixo, com o título acima, é um artigo publicado neste sábado, no jornal O Globo e aqui, no blog do autor, o senador Cristovam Buarque. No jornal, o título, provavelmente por conta do espaço, foi apenas "Chamas e luz". É mais uma belíssima reflexão do senador, em sua batalha a favor da Educação, que parece estar tendo espaço amplo com a presidenta Dilma. Vale sua leitura:
"Chuvas, chamas e luz"
"As dores não têm escala de medição. Mas algumas são mais profundas, outras mais extensas.
Nada pode ser comparado em profundidade à dor de recuperar o corpo sem vida de um filho soterrado. A extensão desta dor se amplia quando o número de mortos chega a centenas de corpos em uma mesma cidade, como vimos nestas últimas semanas na região montanhosa do Rio de Janeiro.
É de outra escala, mas também forte, a dor daqueles que, nestes últimos dias, viram seus sonhos de alegria incinerados pelas chamas.
Muito diferente é a dor, sem choros, mas extensa socialmente, daqueles que percebem a tragédia, nestes mesmos dias, da volta às aulas nas escolas do Brasil. As crianças voltam até com alegria pelo reencontro de amigos, pela algazarra da convivência. Mas, olhando com mais cuidado, percebe-se que neste imenso movimento de quase 53 milhões de alunos, outros 50 milhões de pais, dois milhões de professores, em cerca de 200 mil escolas, há um processo de soterramento e de incineração do futuro.
Ao longo da nossa história, nossas crianças têm sido matriculadas em escolas defasadas das exigências educacionais necessárias para o século XXI. Em conseqüência deste passado, apesar de esforços recentes, em pleno século XXI, cerca de 3% do total de nossas crianças não ingressarão na escola este ano. Parece pouco e muitos comemoram a diminuição desta exclusão em relação às últimas duas décadas, mas esquecem que esta pequena percentagem significa cerca de dois milhões de crianças. Dos que se matricularão e voltarão à escola nesta semana, a maior parte ainda não a freqüentará todos os dias ou não assistirá todas as aulas, ou não permanecerá n a escola todos os anos da infância e da adolescência. Dentre os que superarem todas estas falhas, poucos adquirirão o conhecimento necessário para enfrentar os desafios do futuro. Não aprenderão a deslumbrar-se com a beleza das artes, não adquirirão a capacidade de indignar-se com as injustiças, nem o compromisso de lutar por um Brasil melhor; nem a sensibilidade cidadã para uma convivência social mais respeitosa e democrática; nem o conhecimento científico necessário para a construção de uma sociedade mais eficiente, sintonizada com a modernidade do mundo.
Nas atuais condições, não mais de 20% terminarão um ensino médio de qualidade satisfatória. O que agrava ainda mais a situação é o fato de que o conhecimento se distribuirá de forma desigual, fazendo da escola o berço da desigualdade, no lugar da escada para a igualdade.
A continuidade deste passado histórico representará uma forma de soterramento do saber, de incineração de cérebros. Hoje não sentimos a dor desta perda, porque banalizamos e nos acostumamos com a tragédia que acontece de forma indolor, sem chuvas, sem chamas, sem choros. Mas amanhã, se continuarmos no ritmo do passado, estaremos amarrados a viver em um país com todas as conseqüências do descaso com a educação; com desigualdade, violência, pobreza, uma economia atrasada, mesmo que potente, e até insegurança nas encostas dos morros e nos barracões das escolas de samba.
Com sua repetição secular, a tragédia da deseducação deixa de ser sentida, perdemos consciência dela. Mas quem mergulha no futuro com sentimento patriótico, olhando o que ocorre ao redor, no mundo por vir, sente que falta fazer hoje uma revolução na educação, para assim, construirmos o amanhã.
Para os que têm esta consciência, a dor histórica não tem a profundidade da perda de entes queridos, mas é grande pela extensão de suas conseqüências: o risco da Nação ter seu futuro comprometido.
Felizmente, desperta no Brasil a dor e o sentimento com este risco. Diversas organizações lutam pela necessidade de mudanças na educação. Mas, sobretudo, a fala da presidenta Dilma em seu primeiro pronunciamento em cadeia nacional traz esperança. Pela primeira vez em nossa história, um governante nacional escolhe esta data e este tema para falar à Nação, ao invés de outros temas considerados mais importantes. Sobretudo, pela primeira vez ouve-se de um Chefe de Estado a idéia de que “País rico é país sem pobreza”, e o caminho para esse progresso é a educação.
Como a presidenta solicitou, cabe a nós alertarmos, sugerirmos, apoiarmos e cobrarmos tudo que é preciso fazer para realizar a Revolução na Educação que o Brasil precisa e pode fazer. A presidenta mostrou uma luz. Compromete-se com ações e convoca o país, cada cidadã e cidadão a cumprir sua parte na luta por uma revolução na Educação.
Cristovam Buarque é Professor da UnB e Senador pelo PDT-DF."
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6 comentários:
Caro Roberto,
Os questionamentos do senador são óbvios, porém, ele, como outros que pretendem demarcar um campo de relevância na luta política, e o senador em questão luta para escapar ao ostracismo imposto por ele mesmo, quando se pretendeu mais realista que o "rei", esquecem de mencionar um fenômeno histórico e recorrente em todos os países que experimentam uma expansão do atendimento da rede pública de ensino.
É pouco provável, nesse momento de universalização (e em educação, falamos em dez ou quinze anos)que a qualidade seja ideal ou próxima dela.
Os dados do IBGE apontam que a visão catastrofista do senador(que apenas tem o mérito de chamar atenção para esse relevante tema)que nossa educação melhora aos poucos, com maior tempo na escola(menos evasão), maior produção científica (crescimento da titulação em mestrados e doutorados), maior licenciamento e patentes (inovação tecnológica), e melhoria gradual dos níveis de aprendizado.
Besteira fazer comparações com realidades distintas, como Coréia, Holanda, Noruega ou EEUU. São situações assimétricas, processos políticos distintos, realidades tributárias inversas, enfim, populações e demografia muito diferentes.
Há somente nessas análises que considerar alguns conceitos gerais, como o valor de investimento do PIB, e PIB per capita na área, talvez nenhuma outra comparação.
No entanto, sabemos que nossa expectativa exige um ritmo mais e mais acelerado.
Mas, ao mesmo tempo, esse tipo de argumento trágico só desconsidera e enfraquece o que foi feito, e nos leva sempre de volta ao início.
O senador parece cumprir sua triste sina: a de pitonisa.
Se tivesse traquejo suficiente e estofo político, teria ficado à frente do MEC (no início do governo Lula) e feito a "revolução educacional" que prega.
E o que fez?
Jogou a toalha.
Preferiu posar de herói despojado a se desgastar com o fazer aquilo que prega.
Um abraço.
Brilhante artigo! Realmente é uma tragédia nossa educação e, apesar de os índices sociais/educacionais melhorares constante mente, ano após ano, ainda temos muito o que melhorar.
E interessante também a citação dele no final, com relação ao pronunciamento da presidenta Dilma.
Será que a criatura é mesmo melhor que criador? Nessa semana, vi o comentário do Arnaldo Jabor no Jornal da Globo, elogiando enfaticamente o primeiro mês da presidenta! Impressionante!
De fato tudo leva crer que o estilo dela não permitirá que o seu governo será um simples repeteco do governo Lula. Um exemplo disso é a proposta do salário mínimo de R$ 545,00, que ela enviou ao congresso, sem praticamente ceder a interesses partidários, ao contrário do estilo do Lula nesse tipo de negociação.
Vamos torcer que ela realmente tenha sensibilidade pra essa questão que é tão importante para o desenvolvimento do país e tem sido tão negligenciada pelos nossos políticos.
Fugindo um pouco o texto desse grande Senador e Educador, seria bom que um cidadão sem educação, que diz que é ele quem manda em Conselheiro Josino e trata a comunidade tão mal e que recebeu o cargo de confiança da Prefeita Rosinha, tivesse um pouco de aula sobre como ser educado com Cristóvão Buarque, esse senhor se chama Clóvis, que é administrador municipal. Esse sujeito recebeu uma reclamação de uma moradora, sobre a falta de luz no poste perto da sua casa, e ele mandou ela sair de casa com uma vela na mão.Depois recebeu reclamação dos moradores da estrada do quilombo, sobre entupimento do esgoto e ele disse que a comunidade tem que Cagar menos. Não consigo entender como um sujeito desse pode ser cargo de confiança da Prefeita. Das duas uma, ou a Prefeita quer se queimar políticamente com nossa comunidade, ou não sabe o que está acontecendo en Conselheiro.
E eis, então, que chega o senhor douglas da mata, entendendor de todos os assuntos, mestre de todos os palpites, e critica som sua forma tão comezinha o texto do senador.
Eu também critico o texto do senador, mas por outros motivos.
Quando douglas faz afirmações, perde-se e abstrai-se em sensos-comuns. Há trinta anos se diz que em dez ou quinze anos a educação melhorará. Rá rá rá.
Os dados do ibge apontam que a educação melhora aos poucos desde os anos 30 e o que significa isso sem uma análise qualitativa?
Fazer comparações com realidades distintas? Coréia, Noruega e - vá - EUA são tão distintos quanto Brasil e Noruega. Comparações só interessam com distinção e semelhança, pretender um só é populismo. Tão populismo como escrever EEUU remetendo a uma forma "vintage" de ser comunistalatinoamericano = lá pelos anos setenta, oitenta.
Atacar o senador porque ele optou por uma outra linha política é, no mínimo, questionável. Seria como atacar Marx porque não se comovia com a morte de seus filhos pois seus furúnculos lhe doíam muito mais. Questionável, no mínimo.
Mas douglas da mata continua cada vez mais risível com seus argumentos pequenos e falaciosos.
Ai, ai, meu dia fica mais divertido toda vez que constato a miopia das esquerdas, e não me canso de suas atitudes, digamos, de clowns.
Rá rá
Caro Roberto, me dirijo a você, porque não estou com tempo, nem paciência para dar relevância a quem não tem, e nem sequer assina seus ataques.
E veja, atacar-me é o de menos, o pior e a falta absoluta de qualquer argumento que rpomova o debate.
Mas vamos aos fatos, usando o pequeno tratado de estupidez:
"(...)
Os dados do ibge apontam que a educação melhora aos poucos desde os anos 30 e o que significa isso sem uma análise qualitativa?(...)"
Não há dados disponiveis desde a década de trinta, e o IBGE, ele mesmo só existe desde a década de 60 ou 70 do século XX.
Os dados sobre educação são mais recentes ainda, portanto, uma análise histórica com essa amplitude é impossível, quer seja quantitativa ou qualitativamente.
As séries hisóricas no sítio do IBGE só começam em 1980, portanto, a "afirmativa" do "oftamologista das esquerdas(que diagnosticou a miopia das esquerda)não merece crédito.
Aqui também o pior cego é o que não quer ver, e nem sabe onde procurar!
A própria noção de escola pública e gratuita ou básica é da década de 40 ou 50, como conseqüência do Estado Novo e Gustavo Capanema, como conseqüência do processo acelerado de urbanização/industrialização.
Bom, diante de tanta ignorância, resta dizer: O processo de universalização (vou explicar: o aumento do atendimento da escola básica é fenômeno recente.
Embora alguns gargalos continuem problemáticos(como a alfabetização de adultos, evasão de jovens de 15 a 19 anos, etc), houve um vanço significativo possibilitado pelas políticas de inclusão e distribuição de renda, com lastro na permanência na escola como exigência(o Bolsa Família):
Essa geração atual permanece em média mais 5 anos na escola, o que não é pouco.
Houve abertura de milhares de vagas no ensino técnico e superior.
Dobrou ou triplicou a titulação de mestres e doutores.
Em geral os índices de aproveitamento escolar melhoraram, conforme dados do ENEM, ENAD e outros índices de avaliação (ver site do IBGE, série históricas).
Mas o que quer o senador? Tudoaomesmotempoagoraontem!
Pega números absolutos e soltos(o idiota que me critica não aponta isso) e tasca sua catástrofe.
Ora, não diz que o quanto se melhorou até que se chegue aonde estamos, o que sabemos, não é, nem nunca foi o ideal, mas é o possível.
E não diz mais: só é possível melhorar o nível de ensino com melhoria de renda, nunca o contrário, pois com fome e sem emprego só temos evasão escolar. Logo, os péssimos índices de nossa escola tem a ver com nossa brutal concentração de renda.
Continua no outro comentário.
Continuação:
...............................
Esse trecho aí embaixo não tem sentido algum.
"(...)Fazer comparações com realidades distintas? Coréia, Noruega e - vá - EUA são tão distintos quanto Brasil e Noruega. Comparações só interessam com distinção e semelhança, pretender um só é populismo. Tão populismo como escrever EEUU remetendo a uma forma "vintage" de ser comunistalatinoamericano = lá pelos anos setenta, oitenta.(...)"
Mas eu repito a parte das comparações, para que fique claro:
Há uma tendência natural de se exigir e comparar os resultados educacionais a partir de índices e comparações com esse ou aquele país.
Essas comparações são ruins, porque desconhecem e desprezam aspectos demográficos, geográficos (tamanho dos países e população), aspectos de investimento/financiamento (em países desenvolvidos a educação de qualidade nem sempre é totalmente gratuita, por exemplo), dentre outras peculiaridades como processo político/legislativo, se houve democracia/desenvolvimento ou não, etc, etc, etc.
"(...)Atacar o senador porque ele optou por uma outra linha política é, no mínimo, questionável. Seria como atacar Marx porque não se comovia com a morte de seus filhos pois seus furúnculos lhe doíam muito mais. Questionável, no mínimo.
(...)"
Bom aqui, o "oftamologista das esquerdas" parece que condena nos outros o que pratica, ou seja: me ataca porque não comungo com seus argumentos, mas pior: esses argumentos não são apresentados, a não ser a tolice sobre o IBGE.
Quanto ao senador, na minha opinião, e creio ter direito a ela, é que se trata de um ilustre frustrado porque tentou ser mais relevante que o presidente que o nomeou ministro da educação(e exonerou, ainda bem). Não deu conta. Jogou a toalha.
A tarefa era muito maior que seus delírios. Falta ao senador "comer muito feijão" para se transformar naquilo que imagina que é. A campanha presidencial com tema único da Educação é um primor de oportunismo político, como se fosse possível eleger uma "bandeira" que por si só resolvesse todos os problemas. É mas ou menos como um neoudenista, só que com tema diferente.
Talvez bastasse a ele ser o que é(o que não é pouco: sua história na UnB, como senador, e educador é grandiosa).
Pareceria menos idiota, a replicar a choruma do globo e do PIG em geral (aliás, um dos poucos espaços que reverberam sua frustração)
No mais, grato por perder tanto tempo de sua erudição em me atacar. A gente só reclama do que incomoda.
Um abraço
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