O blogueiro não é economista, nem investidor afeito a análises de balanços de empresas, até por isto tem limitações nas suas observações.
Porém, o fato de atuar na área de Educação como professor e interessar pelas questões do setor, e ainda desta universidade ter um campus em nosso município (onde recebe subsídios para bolsas a alunos da PMCG) e também ser a primeira entrar na Bolsa de Valores fez com que o blog analisasse ali, alguns dados que se não fosse a obrigação de divulgação feita por uma empresa de economia aberta, não seriam conhecidas. Elas foram publicadas na última sexta-feira no jornal Valor.
A Universidade Estácio de Sá é uma “sociedade anônima que tem sob seu controle direto e indireto 3 mantenedoras de um conglomerado que reúne duas universidades dois centros universitários e 27 faculdades distribuídas em 16 estados do país e do exterior”.
A Estácio de Sá possuía no final de 2010 um total de 210 mil alunos cujo perfil, embora “diversificado atende na sua maioria, jovens trabalhadores de média e média-baixa renda”. Na Educação à Distância (EaD) a Estácio possui 26,2mil alunos, os demais 183,8 são alunos na modalidade presencial. Em 2010, a universidade captou 48,9 mil alunos, um percentual 8,9% abaixo de 2009.
Apesar da redução na captação de alunos, a receita bruta em 2010 foi praticamente a mesma de 2009 com R$ 1,45 bilhão. A receita líquida R$ 1 bilhão. Seu lucro bruto foi de R$ 332 milhões e líquido de R$ 80 milhões. A mensalidade média da universidade é de R$ 446,90.
A Estácio de Sá encerrou o ano de 2010 com 10.769 funcionários, sendo 7.072 docentes e 3.697 administrativos para os quais pagou a quantia de R$ 508 milhões entre salários e encargos sociais. A universidade pagou no ano de 2010 R$ 1 milhões de impostos, sendo apenas R$ 5 milhões de imposto de renda e R$ 1,7 de Contribuição Social.
Segundo o balanço da universidade em 2010 foram destinados R$ 70 milhões (7,8% de sua receita líquida) em projetos de expansão, revitalização e melhoria de suas unidades. A proposta a ser aprovada pela Assembléia Geral é a de dividir 50% do lucro líquido num total de R$ 38,3 milhões.
Na Estácio de Sá no ano de 2010, 7 mil alunos tiveram acesso ao financiamento do Fies (Financiamento Estudantil governamental) e 11 mil alunos tiveram bolsas de estudo do ProUni.
Na apresentação do balanço aos investidores a universidade faz a sua leitura do bom cenário econômico do país mostrando a oportunidade de investir em educação superior em função do “crescimento de 7,5 do PIB, o menor índice de desemprego na história, o nível de confiança do consumidor batendo o seu recorde, o crescimento econômico robusto na infraestrutura, etc”.
Termina dizendo e que “o baixo índice de desemprego prova que o “apagão de mão-de-obra” não é mais uma tendência e sim uma realidade, demonstrando que a classe média ascendente formada por jovens trabalhadores, se tornou um notável mercado consumidor potencial para as Instituições de Ensino Superior”.
Interessante e estranho observar um serviço que pela sua natureza é originalmente pública como dever do estado e direito do cidadão, ser tratado assim de maneira, tão fortemente empresarial. Nos números foi percebido que apenas cerca de 1/3 da receita bruta e 50% da receita líquida foi gasto com o pagamento de pessoas, na essência, a geradora básica do serviço prestado pela empresa Estácio S.A.
Outro item identificado é a relação aluno-professor de 26 (nº de alunos nos cursos presenciais de 183.800 dividido pelo número de 7.072 docentes), bem superior à média entre 15 e 20 das universidades públicas que também atuam fortemente em Pequisa e Extensão.
Além do debate natural, para alguns anacrônicos, entre o ensino público e o privado os dados da Universidade Estácio de Sá permitem a discussão sobre a qualidade do ensino no nível superior, em instituições que não se retroalimentam das outras duas vertentes, além do Ensino, no conhecido tripé da universidade: Ensino-Pesquisa e Extensão.
Porém é fato que o perfil dos seus alunos da Estácio é, em sua maioria, o trabalhador. É perceptível, que a imensa maioria dos alunos estuda no turno da noite, porque durante o dia estão no trabalho. É também interessante observar que embora o ProUni tenha dado um gás às instituições particulares, apenas 5% têm bolsas do próprio ProUni (11 mil em 210 mil) e 3% (7 mil em 210 mil) têm o financiamento estudantil do Fies.
Para não se perder a realidade local o blog que não tem os números do campus no município de Campos dos Goytacazes, pode apenas divulgar as estimativas que circulam de que por aqui a Estácio de Sá teria cerca de 5 mil alunos e 200 professores.
Todas estas informações e primeiras análises suscitam um interessante debate que o blog espera ter contribuído.
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