Esta discussão sobre a questão do livro didático, que apresenta as formas diferentes de uso da linguagem, é marcante em minha formação como professor. Se você se interessa sobre o assunto leia o restante, senão pule para outra nota, sem problemas. Vou dar o tom pessoal, para mostrar como cheguei a esta opinião/posição que tenho hoje sobre a polêmica.
No longínquo 1986, o blogueiro, como técnico e engenheiro, passou no concurso público, da então Escola Técnica Federal de Campos para o cargo de professor, com a função de inicialmente, ministrar aulas no curso técnico de Eletrotécnica.
Logo no ano seguinte, em 1987, ele teve a oportunidade de fazer um curso na própria ETFC, em convênio com Cefet do Paraná, de licenciatura em disciplinas específicas. Ali, eu tive (aqui saio da 3ª pessoa – em que tenho a dificuldade de expressar, e volto para a 1ª pessoa – antes que alguém alerte sobre o erro destas misturas, como tantas outras que cometo em nossa língua portuguesa, neste espaço de opinião e debate) contato com a discussão da Educação Brasileira, as bases da psicologia da educação, a formação didática, o trabalhado profissional do professor, etc.
Vinte anos depois, lendo sobre este alvoroço criado por alguns jornais, a lembrança da memória adormecida se fez presente, da época de quando fui apresentado a este debate, pela professora Marilena Cordeiro. Ela, ao falar sobre as formas e ritmos de aprendizado e o papel da cultura e da experiência de vida das pessoas, antes mesmo, de colocar no cenário o nosso Paulo Freire, ela apresentou esta discussão, sobre as formas de expressar da população, do povo o interior, da nossa Baixada, como uma expressão, não formal, mas também correta, embora, fosse fundamental que a escola, enquanto instituição, não abrisse mão de ensinar a linguagem letrada, coloquial, mais usualmente aceita, para evitar preconceitos.
Sempre, considerei que o entendimento a esta e outras questões que passei a compreender, estudar, pesquisar e trabalhar mais adiante, foi para mim, o marco de minha formação como professor.
Ali, entendi, e nunca mais esqueci, embora viva permanentemente, procurando aperfeiçoar, o que é ser um professor, o de compartilhar aprendizagens, reconhecer o saber anterior dos alunos e suas necessidades, de aprofundar o conhecimento, de estimular esta busca, mas fundamentalmente, de evitar o preconceito daqueles que consideram que há um saber superior ao dos outros.
Ali, naquele ponto, um novo mundo para mim se descortinou, não no sentido, de adotar uma visão populista, num outro extremo, de considerar tudo que vem das bases populares, o saber maior e melhor, mas, de ponderar e conceber as diferenças (aí sim, um importante aprendizado a ser estimulado pelas nossas escolas), enquanto se apresenta e se estimula a busca de novos saberes.
Lembrei-me de tudo isto ao deparar com este debate do livro didático, dentre tantos outros, recomendados pelo MEC, exatamente, com esta posição da professora Marilena, a quem eu agradeço, por este conhecimento produzido pelo estímulo dado a partir desta suas aulas, hoje, saborosamente, recordadas.
Um quarto de século depois, o tema, mais que nunca continua em voga, em nossa sociedade. Mau, por um lado, bom, por outro, na medida em que, ao ser explicitado, ganha relevância para o debate, que é a meu juízo (aqui o corretor me chama atenção que está errada a expressão e eu ínsito que não), marcante, na visão de sociedade que o nosso país, almeja que seja majoritário na formação de uma nação, que se pretenda democrática, plural, inclusiva, e acima de tudo, tolerante, sem perder a esperança na evolução permanente das pessoas e das comunidades.
Os textos do professor da Universidade de Brasília, Marcos Bagno (veja aqui) que está circulando pela internet, e de mão em mão, ou o texto irônico “O grobo e o portugueis” do publicitário Hayle Gadelha, aqui em seu blog, expõem um contraponto, naquilo que a chamada grande e velha mídia, têm martelado, misturando preconceito e, exatamente, falta de conhecimento, de outra visão, que, valoriza a gramática e a forma chamada também de escorreita, mas, mostra que há um outro lado.
Insisto, que o caso é paradigmático, mais que ideológico - como pensam alguns - para identificar o tipo de sociedade que o Brasil pretende construir enquanto uma nação valorizada mundo afora. Valorizada, não apenas pela participação no Bric e/ou, pela riqueza do petróleo do pré-sal, do país tropical grande produtor agrícola, de razoável e diversificada base industrial, líder continental, mas, também multicultural, tolerante, democrático, inclusivo e sempre aberto às novas discussões e à evolução enquanto sociedade. E viva o debate!
10 comentários:
Interessante seu ponto de vista, ponto este, visto por uma pessoa que teve a oportunidade de se educar e fazer da educação que recebeu um cidadão, aí no sentido do aprendizado. Aceitar as diferenças é mais do que necessário, mas permitir que nos dias de hoje se perpetue essas diferenças em um LIVRO DIDÁTICO ( diga-se de passgem, com verba pública)é ser PT demais...
Desculpe-me se misturei o tema a política, mas é inevitável!
Caro(a) comentarista,
É evidente que a análise pode ser política, sem problemas. Sobre o livro continuamos com diferenças de análises, também, sem problemas.
A cidadania a meu juízo pode independer de alguns aprendizados, a não ser, que outros se considerem mais cidadãos por julgarem saber mais.
Há outra divergência: o que o livro faz não é "perpetuar diferenças" e sim explicitá-las, reconhecendo a forma "letrada", mas, também não execrando as demais, mesmo que elas não sejam aquelas ortograficamente estipuladas como oficiais.
A divergência não é política, talvez até ideológica, mas com certeza, não é partidária, como você e a velha mídia podem querer fazer crer.
Nesta linha, observe as diferentes opiniões sobre a questão e identifique que há nelas pessoas de diferentes partidos, embora, seja evidente, que a predominância de quem é mais tolerante nas diferenças.
Há muita gente falando sobre o livro sem ter visto o mesmo, e assim, passou a comentá-lo, a partir dos comentários dos outros.
O livro não ensina a falar, ou a escrever, num formato diferente da gramática oficial, apenas diz, que além desta, há outras formas de expressão, que não devem necessariamente ser consideradas erradas, embora, a regra formal deva ser aprendida e utilizada.
Isto é bastante diferente do que se dizer que os livros do MEC estão ensinando errado para "perpetuar diferenças".
Quem está no governo é obrigado a cumprir as leis. Ao gestor público não é dado o direito de desrespeitar a lei e não há num livro com esta concepção, nenhum desrespeito à lei, na medida em que este deixa claro qual é a regra da gramática oficial e orienta no sentido que o uso distinto desta pode levar a um preconceito.
Quanto ao "PT demais", talvez, explique a partidarização do debate que, embora concordemos que seja político (e até ideológico), não é partidário. O PT demais talvez queira trazer para o debate o resultado ainda não assimilado das urnas, que não estão em discussão, pelo menos agora.
A aceitação da diferença neste caso é a compreensão da diferença de interpretação sobre o caso, que não tira de mim o desejo de ver que o aprendizado da forma chamada culta e unificadora da língua seja importante de ser efetivada, sem que deixe de compreender a diferença de culturas, que por final, estabelece como regra, as posições majoritárias, como a que estabeleceu que agora ideia, não tem assento, sem que uma assembleia (sem acento) sequer tenha discutido isto coletivamente, pelo interesse justificado de uniformização linguística (sem trema) do nosso país com os demais povos de língua portuguesa.
O debate é amplo e eu não sou a pessoa indicada para argumentar em defesa, ou contra as regras lingísticas e gramaticais, mas, serei ardoroso defensor de que as ideias e os pensamentos de todos possam ser respeitados, mesmo por aqueles que não dominam as regras oficiais. E para mim, é isto que o livro defendeu, e por isto, eu defendo o direito dele continuar a fazê-lo.
Sds.
O debate é amplo e complexo. Mas nao é assim que a grande mídia e seus militantes corroidos pela ignorância e pela intolerânciao o percebem.
Levantaram o assunto do modo mais rasteiro possível. Nenhum dos três jornaloes impressos (Estadao, Folha, O Globo) se prestou a outra coisa que nao fosse o simplismo.
A acusacao de que a expliciticacao de diferencas significa estimular o nao uso da norma formal é do memso naipe da acusacao de que explicitar nas escolas a questao das diferencas de orientacao sexual é o mesmo que a ensinar a fazer sexo anal.
Pela mídia nao há simplesmente debate. Há somente burrice, torpor e intolerância. A mídia contra a liberdade de expressao. A mídia fazendo de tudo para censurar um livro cujo pecado é somente o de tematizar um fato trivial da vida: que falar é diferente de escrever.
Olá Torres,
O interessante para mim, insisto, é que esta questão é paradigmática, do preconceito de classe.
Como falei no texto, não é ruim que ela tenha vindo à tona, mesmo que com certa leviandade, porque ele permite um contraditório, que explicita as posições distintas, numa sociedade que tende sempre ao "homem cordial".
Sem necessariamente querer convencer quem pensa diferente, a razão do debate se baseia na exposição das diferentes opiniões e em sua compreensão.
No fundo, estas discussões podem ajudar a reforçar na construção de uma sociedade mais tolerante, mesmo que seja a partir das intolerâncias de quem se considera acima dos outros.
Abs.
Acho curioso é que os tipos de erros admitidos no livro como inapropriados(ao invés de dizer textualmente ERRADOS!, são os erros de português que o Lula comete frequentemente. Acho que esse livro faz parte da estratégia do PT de permanecer no poder, com a volta do Lula (sim, ele tentará voltar), como uma forma de se tornar mais aceitável os erros crassos que ele comete.
RE não é só isso. O livro partiu de uma ONG (forma atual de se desviar dinheiro público), custou R$ 5 milhões! e a autora recebeu R$ 700.000. Deve ter rolado muita comissão nessa história toda, coisa do PT. Ou vocês acham que o Palocci enriqueceu como?
Esse tema é polêmico, não concordo que o MEC deveria estimular uma linguagem tão primitiva, resultado de carência de horas nos bancos das escolas. Concordo porém, que devemos praticar a tolerância com os menos abastados com a cultura e a oportunidade de estudar. Percemos claramente a discriminação quando recebemos gringos que vem aqui para trabalhar, ocupando por diversas vezes postos de trabalhos importantes que são nossos, que atropelam gritantemente a nossa língua portuguesa e todos acham engraçadinhos aquela fala que nunca respeitam concordância verbal, singular ou plural e que eles nem estão nem aí, para corrigirem, quem quiser uma comunicação melhor que aprenda a língua deles.Mas quando é um pobre coitado aqui da teraa, não conseguem emprego pela deficência, e ainda são motivo de chacotas.
Vejam só o ponto em que chegamos. Estamos num momento em que, desejar que o estudante aprenda a norma culta da língua portuguesa, é considerado antiquado ou "coisa de elite". E assim vão cavando ainda mais o poço da diferença entre as pessoas...
Subverteram tudo.
Dessip
Com certa dificuldade li o que o professor roberto torres escreveu de forma mal traçada e capenga. Estudou por qual livro, mestre?
mocksen
Vamu lá genti.
Vamu elegê Lulla novamenti.
E continuá ganhandu borça famía!
Viva o debate, mas abaixo o preconceito, sempre.
Viva a diferença, mas, com o direito permanente de expressão e de respeito às opiniões diferentes.
Sds.
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