domingo, maio 01, 2011

Distinção entre êxito e sucesso

O escritor Ariano Suassuna deu uma bela entrevista ao caderno “Eu & Fim de Semana” do Valor que cita entre outras boas opiniões sobre a cultura, esta interessante distinção, boa de ser lembrada, neste mundo contemporâneo de superficialidades, celebridades e busca desesperada pelo sucesso. O blog separou o trecho que trata deste assunto, mas toda a entrevista pode ser lida aqui.

“Faço uma distinção entre êxito e sucesso. Essa distinção é fundamental para me entender e para entender meus companheiros, bem como os artistas de qualquer tempo. No meu entender, nenhum artista verdadeiro busca o sucesso. Busca o êxito, o que é bem diferente. O sucesso, por sua própria natureza, é efêmero. Me arranje um nome de uma banda, composta por brasileiros, mas que faça música internacional.

Valor: Sepultura.

Suassuna: Pronto. Você pega a banda Sepultura ou a banda Calypso, ela tem muito mais sucesso do que Euclides da Cunha. Muito mais. Se você anunciar uma conferência sobre Euclides da Cunha, se forem 40 pessoas já serão muitos. Já a banda tem público de milhares de pessoas em cada espetáculo. Então, eles têm sucesso. Mas me diga qual é o êxito maior? É "Os Sertões". Todo ano sai uma publicação. E mesmo os brasileiros que nunca tenham lido sabem que existe um livro chamado "Os Sertões" que é fundamental para o nosso país. Do mesmo jeito que o "Dom Quixote" é fundamental para a Espanha. Enquanto existir o "Dom Quixote", você pode invadir militarmente a Espanha, você pode dominá-la economicamente, mas a Espanha vai ficar viva porque tem um livro chamado "Dom Quixote". A mesma coisa digo eu de "Os Sertões". Podem desmoralizar, descaracterizar, vender, mas, enquanto existir "Os Sertões", sabe-se que existiu um país chamado Brasil e que aquele era um livro fundamental. Aquilo é êxito. Sei que todo artista verdadeiro o busca.”

9 comentários:

Marcos Valério Cabeludo disse...

Bravô!

xacal disse...

Herr professor,

se o outro comentário seguiu, desconsidere esse:

Permita-me polemizar, tanto pelo gosto que nutro no assunto, mas porque colocar opiniões aqui dá uma melhorada no hand-cup:

o que o grande Suassuna diz está baseado, em meu pobre entender, em uma visão que hierarquiza a manifestação cultural...

Ora, pode-se realçar a diferença e complexidade necessária para compor uma sinfonia, ou escrever uma obra como fez Cervantes, em relação aos bens culturais de massa...Aliás, realçar essa distinção apenas serve para entender que se destinam a coisas diferentes, para públicos diferentes, e com alcance diferente...Nem melhor, nem pior, apenas DIFERENTE...

Como o Estado vai distribuir e dar acesso a essa diferença é, aí sim, uma opção política de distribuição dos bens culturais...que pode melhorar ou piorar a capacidade do povo em enxergar a si mesmo...

Se é verdade que a Espanha se identifica pela obra de Cervantes, e isso possibilita alguma coesão nacional em relação avalores étnicos, invasões (militarmente e culturalmente falando),é verdade que isso não impede que haja invasões "por dentro", uma vez que o povo espanhol cedeu com gosto ao racismo, ao ódio nacionalista(ETA, catalães, etc)e a xenofobia, assemelhando o "culto e letrado povo espanhol" aos selvagens aborígenes de qualquer parte do mundo...ou pior que esses...

A bem da verdade, são músicas e obras do folclore popular, carregadas de mitos, simbolismos, maniqueísmos e outros "ismos", que unificam resistências, mobilizam o nacionalismo...acordes monocórdios dos tambores de guerra e do toque da corneta...

O Brasil não é Euclides da Cunha apenas, ele é Os Sertões, os cordéis, as garrafadas, os gibis, Dalton Trevisan, Paulo Coelho(eeccca...!!!), etc, etc, etc...

É a diversidade, complementaridade e multiplicidade de olhares que faz a língua, a cultura e o sentido de nação...

Essa busca de Suassuna, pelo seminal sentido de uma obra como purificadora ou identificadora da "alma de um povo" beira o que procurava o nazismo e o estalinismo ao uniformizar e padronizar as artes e manifestações culturais do povo...

Um abraço, e obrigado pela paciência...

Roberto Moraes disse...

Olá Xacal,

É uma opinião com fortes argumentos, mas, julgo que tira conclusões talvez tão parciais quanto a escolha que o blog fez de parte da posição do escritor.

Ainda assim, prefiro esta interpretação que busca a diversidade, com tolerância, do que a equivocada hierarquização daquilo que massificado ganhou valor exagerado, apontando para o sentido contrário da pluralidade.

Talvez, mais do que evitar a hierarquização, o debate seja o sobre o que é cultura e o que é o chamado entretenimento. Este sim, alienante e pouco construtivo em termos de sociedade.

Abs.

Gustavo Alejandro disse...

" Quando ouço a palavra cultura, saco logo meu revólver".

Hermann Goering

Gustavo Alejandro disse...

" Quando ouço a palavra cultura, saco logo meu revólver".

Gustavo Alejandro disse...

" Quando ouço a palavra cultura, saco logo meu revólver".

Hermann Goering

xacal disse...

Herr professor,

Não há distinção que coloque bens culturais de massa, feitos para pausterizar gostos e a chamada "arte erudita"...elas apenas servem a objetivos distintos...

No meu raso entender, então, dividir "cultura" e entretenimento é um equívoco...TUDO é cultura...

Mas é verdade que precisamos definir o papel dela na sociedade atual, e como o Estado e sociedade vão lidar com os diversos bens culturais que produzem, quem lucra com isso, quem controla a produção, e distribuição, e a partir daí, possibilitar o maior acesso possível a maior quantidade de manifestações, para que as pessoas tenham, cada vez mais, chance de escolher entre Cervantes e Calipso...Mas ecolher, e não segregar por arrogância erudita , ou pela ignorância...

O problema que vi na opinião do Suassuna, e ela é muito comum entre artistas com a sensibilidade e talento dele, mas que não obtêm o correspondente "sucesso", é essa fala, que na verdade, lhes garante algum "nicho de mercado"...como se procurasse alguma justificativa que desse conta de seu "insucesso"...ou para dizer: "olha estamos aqui...!"

Ele não carece disso...a relevância do artista, quando externa sua arte é que alguém veja: seja um, sejam dois, ou dez milhões, o importante é O OUTRO e não quantos outros sejam...


Um abraço...

Família Siqueira de Campos disse...

Concordo plenamente com o Professor e com o Blogista. A cultura do entretenimento é variável na proporção do seu envolvimento com as pessoas. Tem uma curva sigmóide, sempre. A cultura que determina gerações, populações e constrói a cultura de um país, nunca pode ser comparada a uma banda de música, por mais famosa que seja. "Os Sertões", assim como "Dom Quixote", sempre estará espelhando a construção de um povo.
Parabéns pela entrevista.
Abs.

Unknown disse...

Concordo com praticamente tudo que disse o Suassuna. PORÉM, só faço uma objeção. "Calipso" e Sepultura são BEM diferentes em relação à esse "binômio" Sucesso/Êxito tão bem explicado pelo Suassuna. Gostem ou não, a palavra "Sepultura" referindo-se à banda, será sempre uma (das) bandeira do Brasil lá fora. Diferente do lixo calipso. E nem gosto mais tanto do Sepultura como já gostei, só acho que é inegável o ÊXITO da banda em representar o Brasil.