quarta-feira, maio 11, 2011

“GIT: uma breve reflexão”

O artigo abaixo é do economista e professor da Uenf, Alcimar Ribeiro e foi publicado hoje em seu blog "Economia do Norte Fluminense". Vale sua conferida.

Gestão Integrada do Território: uma breve reflexão

“Historicamente, os grandes investimentos exógenos apresentavam pouca preocupação com a questão da sustentabilidade ambiental e socioeconômica. Quase sempre, terminado o ciclo de acumulação, a desmobilização ocorria e um rastro de destruição permanecia como lembrança da movimentação econômica extinta. No Brasil, muitos exemplares dessa situação podem ser identificados, com reflexo no aprofundamento da pobreza do ambiente de origem.

Modernamente, muitos discursos apontam para uma situação diferente. Os órgãos ambientais avaliam com mais rigor os projetos que intervém em recursos naturais, a sociedade dispõe de melhores mecanismos de informação e as grandes empresas vendem uma imagem de preocupação com a responsabilidade social e ambiental. Em decorrência dessa nova visão, temas relevantes como: gestão de território, programas de comunicação, esforço para capacitar mão-de-obra local, programas de compensação em função das intervenções no território, interação entre empreendedor e comunidade, etc. fazem parte do conjunto de argumentos que são colocados pelos principais interessados pelo evento.

Especificamente, o caso do Complexo portuário do Açu, em São João da Barra, representa um elemento importante para a reflexão sobre a presente questão. Nos últimos quatro anos, um discurso moderno, lapidando os temas indicados anteriormente, norteou todo o processo, sem o êxito esperado. Em função do fracasso dos programas de comunicação social implementados, surgiu uma alternativa denominada de Gestão Integrada de Território, cujo objetivo é integrar pessoas e contribuir para o desenvolvimento sustentável a partir dos investimentos previstos. Esta nova intervenção social merece uma reflexão. É senso comum que existe um processo de mudanças que é radical e que as pessoas não conseguem acompanhar no tempo desejável. Neste caso, instrumentos de apoio precisam ser detonados visando minimizar os impactos negativos. Uma outra questão é que não existe dúvida da competência dos agentes responsáveis por tal tarefa, já que demonstram alto conhecimento sobre metodologias disponíveis além de vasta experiência com o tema.

Entretanto, me parece que alguns elementos não têm sido observados. Enquanto o discurso segue os padrões da modernidade a condução pratica das ações seguem um caminho oposto. Os brilhantes profissionais contratados pelo empreendedor, através de suas experiências, conhecem realidades diferentes da que eles estão se envolvendo. Por mais que se esforcem para a obtenção do conhecimento formalizado, fica uma lacuna de insuficiência em função do desconhecimento do modo de vida e de como pensa a população do território. Neste caso, o ingresso de indivíduos que vivenciam esta realidade contribuiria fundamentalmente. O exemplo da biologia e da antropologia ajuda a entender esse fato. Quando profissionais dessas áreas decidem entender uma determinada situação, eles passam a conviver com o ambiente e seus atores, internalizando conhecimento não formalizado e disponibilizando conhecimento formalizado, cuja troca é indutora de novos conhecimentos. Essa verdadeira interação traz a tona o elemento mais relevante do processo que é a confiança, insumo essencial para os objetivos tão bem traçados no campo da sustentabilidade dos recursos naturais e socioeconômico.

Me parece que todos tem conhecimento da fragilidade social, especialmente em São João da Barra, e diante de tal fato, as ações por parte do empreendedor representam atos mal comparado como “lavar as mãos”, fiz minha parte, lavei minha consciência. É um quadro onde o indivíduo não tem a proteção da sociedade organizada nem do Estado.”

Um comentário:

douglas da mata disse...

Professor Roberto,

Com todo respeito a Academia, mas fica a dúvida:

Alguém imaginou que o grande capital fosse se comportar diferente, e colocar algum interesse coletivo como prioridade, para além da roupagem de responsabilidade sócio-ambiental e de sustentabilidade encomendada a alguma agência de propaganda?

Para que estudar tanto para demorar tanto a enxergar os fatos, ou pior: enxergar a realidade pelas lentes coloridas do "progressismo empreendedor", tido como redenção da população?

Só há uma possibilidade de coexistência exitosa entre sociedade e empresas desse tipo: mobilização social e política, forte regulação e fiscalização do Estado. Ao invés disso, nossos doutores se dedicaram ao deslumbramento das "cartas de boas intenções", que alimentam o fogo do inferno.

O texto parece uma expiação de culpa, mas como toda crise de consciência, vem sempre tarde demais.


Um abraço.