65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
segunda-feira, junho 13, 2011
A boa mistura para uma convivência nas cidades: ZEIS
Zonas de Interesse Social (ZEIS) ou Áreas de Especial Interesse Social (AEIS) ou simplesmente Habitação Social. O assunto foi tratado no Plano Diretor do nosso município de Campos, mas está adormecido, assim como tantas outras preocupações, sem uma regulamentação desejada.
Em resumo ela trata de reservar espaços nas áreas mais nobres dos municípios para se fazer inclusão social e serem compartilhadas por pessoas da população que estão sendo, literalmente, jogadas para as periferias com prejuízos para todos.
Ontem, uma entrevista com a vice-prefeita de Paris, Anne Hidalgo, foi veiculada por alguns jornais, entre eles O Globo. Destaquei para publicação abaixo alguns poucos trechos para a melhor compreensão da questão:
"O que eles criaram de tão revolucionário?
HIDALGO: Eles trouxeram a ideia de que Paris tem que ser mista em todos os sentidos. Primeiro, socialmente. Uma cidade precisa de operários para poder funcionar. Não podemos colocar os empregados e os operários que são úteis ao funcionamento da cidade morando a 50 quilômetros de Paris. Em Paris, pessoas que moram em habitações sociais são instrutores, enfermeiros, assistentes de saúde, são classes médias baixas. Cerca de 70% dos parisienses preenchem as condições para obter habitação social. Há lixeiros, pessoas que se ocupam de nossos filhos nas creches, motoristas de ônibus, de metrô.
E se todo esse pessoal fosse para a periferia?
HIDALGO: A cidade não funciona…
O que vocês estão fazendo para manter as classes mais baixas em Paris?
HIDALGO: Decidimos que cada habitação nova construída tem que ter obrigatoriamente 50% de habitações sociais, e o resto privado. É o que estamos fazendo, por exemplo, em Clichy Batignolles (área ferroviária na fronteira de Paris, que será transformada em bairro) e no norte de Paris. Além disso, no centro de Paris, cada vez que há uma construção nova, impomos a todos os construtores privados que 25% dos apartamentos têm que ser sociais. No início, eles não estavam contentes. Mas agora entenderam que este é o preço que têm que pagar para construir em Paris. E quando o prédio é bem pequeno, nós deixamos o empreendedor acumular os 25% para depois construir um prédio para habitação social. No 15º Arrondissement (bairro em Paris), há um prédio novo onde uma parte foi vendida muito cara, mas uma outra entrada do prédio dá para habitações sociais: é a única diferença, pois a fachada do prédio é a mesma.
...
Por que a mistura social é tão importante?
HIDALGO: Quando você coloca as pessoas que não têm muita renda na periferia e elas vêem o espetáculo dos que vivem bem e estão confortáveis, forçosamente, a vontade destas pessoas vai ser entrar no que, para elas, parece um paraíso. Eu não acho que se pode viver bem assim. Uma cidade tem necessidade de todas as categorias para funcionar. Cria-se violência e cobiça quando se colocam as pessoas de fora."
Se você desejar ler a entrevista na íntegra clique aqui.
O assunto é conhecido em nossa Campos. Ele é objeto de estudos no CCH da UENF, no Mestrado em Gestão de Cidades da Ucam-Campos e também no Mestrado em Engenharia Ambiental do IFF. Aliás, na edição de set/dez de 2010 da revista "Vértices" do IFF, há um artigo da Lívia Soares Nunes cujo título é "As áreas de Especial Interesse Social no município de Campos dos Goytacazes" que está publicado e disponibilizado na íntegra aqui na versão online da Vértices, assim como um mapa oriundo do Plano Diretor do município que trata do assunto.
Seria bom que em meio às disputas políticas se pudesse aprofundar no assunto, numa época em que condomínios de luxo e construções populares são feitas de forma antagônicas, apartando o que poderia ser solidarizado, em nome de uma convivência menos tensa e mais complementar.
Para ver o mapa com a identificação das áreas reservadas para as AEIS em Campos clique sobre a imagem abaixo. Passemos ao debate, embora, o blog, muitas vezes julgue muitos não interessados nele:
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2 comentários:
Roberto, meu caro,
Que tipo de droga é essa que você anda usando? Esperança? Otimismo?Utopia?
Tá na hora de ministrar algum antídoto em você, realidade, meu caro: intolerância, homofobia, exclusão, concentração e fé, meu amigo!
Um abraço, e cuidado, esse tipo de transgressão é punível com a segregação em casa de alienista.
Caro Douglas,
Isto é apenas vacina.
Sejamos otimistas. Atrás destas vitaminas eu ando procurando informações, estudando soluções, conversando e estimulando o debate, mas parece que não são muitos os que se interessam, embora, seja necessário a maturação.
O rei tá nu. É preciso poucas mas boas informações, para se afirmar e garantir tal situação.
Abs.
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