Enfrentamos alguns bons embates. Inicialmente, o pensamento de estadualizar as então Escolas Técnicas federais. Alegava seus “altos custos” e entendia que muitos que ali se formavam iam para o vestibular e não para as empresas.
Depois trouxe para o MEC a ideia da publicização, de transformar autarquias em organizações sociais. Mais adiante, tendo abandonado estas primeiras possibilidades, diante das pressões e ainda estimulado pelo seu assessor, Claudio Moura Castro, resolveu separar o ensino médio dos cursos técnicos. Imaginava assim se ver livre dos poucos que faziam um curso técnico pensando no vestibular, um problema mais concentrado em algumas ETFs, das maiores capitais e não na rede como um todo.As pressões desta vez não redundaram no impedimento. Por decreto o governo implementou sua proposta. Neste caso, as pressões serviram para abrir negociações para uma transição de cinco anos, naquilo que o decreto presidencial determinava de acabar com o ensino médio nas ETFs, mesmo sendo este nível de ensino, referência, para as escolas de igual nível, tanto do setor público quanto do privado.
A compreensão de que o problema era a economia do país, a pouca geração de empregos e a conseqüente baixa demanda por técnicos e que fazer ensino de qualidade sempre custou mesmo um pouco mais, só veio lá na frente. Espantou-se, quando mostramos que nossos custos acima da média do que era gasto nos estados também com o ensino médio, era abaixo daquilo que os melhores colégios particulares cobravam de seus alunos.
A compreensão de todo este quadro só veio adiante. Assim, Paulo Renato, conseguiu compreender as possibilidades desta rede e aceitou regulamentar a lei que transformava as ETFs em Cefets. Isto já foi entre 1998 e 1999. No nosso caso, fomos transformados em Cefet em janeiro de 1999.
Nesta nova fase, percebeu a importância da interiorização e expansão da rede e assim viabilizou a criação/expansão das então unidades descentralizadas. Só que, imaginou e pretendeu que empresas e prefeituras bancassem o custeio delas, o que não foi pra frente.
Estas passagens servem para mostrar os embates com o ex-ministro falecido nesta última noite. Os diretores das ETFs e nem os reitores das universidades federais nunca tiveram proximidades com o ministro, ele guardava um pouco a auto-suficiência de quem foi reitor da Unicamp e integrante do Banco Mundial, de onde veio para ser ministro no Brasil.
A primeira Escola Técnica Federal que visitou como ministro, empossado em janeiro de 1995, foi a de Campos, em abril daquele ano, na oportunidade em que também conheceu e visitou a Uenf pelo convite de Darci Ribeiro.
Paulo Renato foi ministro da Educação nos oito anos de FH. Com todos os embates e algumas difíceis negociações, na condição inclusive de presidente do Conselho Nacional dos Dirigentes das ETFs e Cefets, não posso dizer que o ministro não tinha boas intenções, mas, era evidente que a agenda do governo era de um estado mínimo e neste sentido, descentralizar (estadualizar), o que já era visto como estratégico para o país e limitar seu crescimento se mostrou como um equívoco.
Assim, as coisas caminharam e hoje tudo isto é apenas parte da história. Paulo Renato teve méritos com a criação do Enem e o esforço de colocar a Educação na agenda do governo.
Paulo Renato tentou ser o candidato de FH em 2002, mas, o Serra, já era o Serra que se conhece e não deixou. Paulo Renato tentou ser governador ou senador e se elegeu deputado federal. Continuou sempre tucano de carteirinha. Lutou pelas suas ideias e posições e, mesmo que discordemos delas, isto marca uma vida. Este foi o Paulo Renato Souza que conheci e que faleceu de infarto fulminante nesta última noite.
PS.: Foto da visita de Paulo Renato ao IFF, então ETFC, em abril de 1995.
Um comentário:
Lamento pela família.
Estou na UFRJ desde 1995, foi o pior ministro para Universidade. Foi dele a indicação do reitor Vilhena contra a vontade de toda a comunidade.
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