Por: *Aurênio Nascimento
São Francisco de Itabapoana, no norte do estado do Rio de Janeiro, é um município que ao longo dos últimos 16 anos vem sendo duramente injustiçado pelo critério estabelecido para a distribuição dos royalties de petróleo. Por que nos últimos 16 anos? Exatamente porque o município é relativamente novo, foi emancipado em 18 de janeiro de 1995. Para quem não conhece a questão, vale esclarecer que as regras atuais de rateio e de classificação dos municípios como limítrofes ou produtores são estabelecidas por linhas ortogonais que cruzam a costa marítima, ou seja, “linhas do imaginário político” que classificam São Francisco como município limítrofe e não como produtor.
Se analisarmos a região geograficamente vamos perceber a injustiça e o absurdo dessa situação que vem se arrastando ao longo dos anos. O município faz divisa, ao norte, com Presidente Kennedy (ES), ao sul, limite com São João da Barra e a oeste com Campos dos Goytacazes. Todos recebem royalties como produtores, e por que São Francisco, situado em toda essa zona produtora, recebe como limítrofe? Na minha opinião, por questões meramente políticas.
A Petrobras, a ANP e o IBGE, que são os órgãos envolvidos nessa questão, nunca promoveram uma ação efetiva no sentido de reverter essa injustiça. Quanto à Petrobras, especificamente, sempre ouvi de técnicos da empresa, em reuniões públicas, que a estatal nada tem a ver com essa problemática. Permito-me discordar de forma contundente dessa posição da empresa. Ora, quem sempre foi a principal beneficiada da exploração do petróleo ao longo desses anos? Como se eximir da questão se os impactos ambientais são provocados exatamente por toda a atividade petrolífera da Petrobras?
Cabe um destaque para as atividades de pesquisa dos navios sísmicos, batizados pelos pescadores como “chupa-cabras”. Essa atividade, simplesmente, acabou com o pescado da região. Trata-se de um serviço terceirizado que é contratado pela Petrobras e outras empresas que provocam um impacto ambiental de terríveis consequências para a atividade pesqueira. O que é feito para compensar isso? Muito pouco. São oferecidos “cala bocas” ali, outros “cala bocas” aqui e todos fingem que está tudo bem.
Já observaram como as Colônias e Associações de pescadores estão abarrotadas de dinheiro? Não, caros leitores, não é ironia. Quem está na pior são os pescadores, mas as entidades que os “representam” estão bem “fortalecidas”. Já perceberam também como essas empresas adoram oferecer “cursinhos de educação ambiental”? Não que eu seja contra, tenho consciência da importância. Porém na prática, o que os pescadores e comunidade em geral precisam é de comida na mesa. Para isso poderiam ser oferecidas medidas mais criativas e de fato compensatórias que possam trazer solução para no mínimo manter a renda dos pescadores.
Recordo-me que recentemente desenvolveram um curso de cinema para as famílias de pescadores de Barra do Itabapoana. Adoro cinema! Mas pergunto: Na prática isso mudou o que na vida dessas pessoas? Nada. Continuam com fome e com um DVD de recordação, guardado na gaveta.
A boa notícia é que o atual governo municipal vem lutando pelos royalties como município produtor e tem conseguido avanços importantes. O vizinho município de Arraial do Cabo já obteve êxito nessa empreitada e quem sabe em breve também estaremos comemorando essa notícia.
*Aurênio Nascimento é jornalista e Assessor de Comunicação da Prefeitura de São Francisco de Itabapoana."
5 comentários:
Caro Roberto,
Uma coisa não se pode negar. O município de SFI está prontinho para receber o dinheiro, caso aconteça uma mudança nas linhas imaginárias.
Gestão perdulária, ineficiente e que adota as mesmas práticas dos primos-ricos estão lá, aguardando a chuva de dinheiro.
No entanto, assim como nós, a linha da realidade, da pobreza, da falta de saneamento e do mau uso do dinheiro público permanecerão intactas.
Os indicadores sociais do município são aviltantes, e não dá para jogar a culpa no ausência de dinheiro, pois há municípios em condições orçamentárias nos Estado bem piores, mas que dedicam muito mais a sua população.
Mas para isso, é só investir no orçamento da propaganda. A imaginação do pessoal do "marquetingue" ultrapassa qualquer linha do bom senso e da imaginação.
Um abraço, professor Roberto.
Ilustre Prof.
- Tenho um imóvel na praia de Guaxindiba a um bom tempo e não contemplamos melhorias dignas de relato.
- Concordo com o Douglas.
- Há má gestão pública que se segue e solidifica por anos incapazes de mudanças louváveis.
- De fato essa atual distribuição no caso de SFI é injusta sim.
- Observo que tem muita gente de Campos que trabalha na prefeitura de lá pelos favores políticos.
- O caso do secretário é tipico da minha afirmação, conheço-o desde a antiga TV Norte Flumunense, passou pela Prefeitura de Campos, fundou um jornal em SFI, em concorrência à época do jornal do secretário de turismo Nicolau Louzada, e se firmou na política de S.F.I. que responde pela atual pasta.
Um abraço. M. V.
Também conheço Aurênio e posso dizer que é um profissional sério e competente. Também sei que ele é nascido na comunidade de Pingo Dágua, zona rural de São Francisco e portanto não se enquadra na categoria de "forasteiro". É um sanfranciscano legítimo. Mas o comentarista das 6:19 tem razão quanto a necessidade de melhorias. O município precisa avançar muito. Aproveito para parabenizar o jornalista pelo artigo publicado aqui. Também não vi no conteúdo nenhuma intenção de fazer propaganda do governo e sim uma defesa apaixonada em defesa do que pensa ser o correto. Parabéns!
Jorge P. Moreira
Caros amigos,
Sou campista e adoro as praias de São Francisco. Mas acho um equívoco discutir a injustiça que o município sofre tendo como base de discussão o atual governo. As administrações passam, mas o município continua e a injustiça também. Se o atual prefeito não é bom, cabe a população responder nas urnas, mas os munícipes não podem ser penalizados por isso. Seria o mesmo que dizer que Campos não merece ter royalties porque a prefeita é Rosinha. Vamos despartidarizar a discussão e torcer pelo desenvolvimento de nosso município vizinho.
Caro Roberto,
Pelo métodos atuais, podemos, sem medo de parecer levianos, supor como será a gestão com recursos maiores, ou não?
O estudo sobre transparência e royalties, publicado pela revista da UCAM é um dado revelador e assutador.
Claro que ninguém imagina ceifar recursos do município vizinho pela incapacidade da população em eleger gestores que primem pelo interesse público e pela boa governança.
Mas deixar de criticar o desperdício que têm condenado nossas comunidades a indigência perante tanta opulência é se acumpliciar pela omissão. Até porque, os efeitos de uma gestão ruim em SFI acabam por repercutir em Campos. É só ver nossos hospitais, cheios de ambulâncias que servem a "empurroterapia".
Quanto a condição do jornalista, ele está no papel dele: Ganha para isso.
Agora pretender que ele tenha isenção e fale pelo "bem" do município, e não pelo governo que o alimenta é ingenuidade ou má-fé mesmo. Venha de onde ele vier de SFI ou do Alaska.
Um abraço
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