O texto a seguir tem o objetivo de aprofundar o debate que envolve algumas das questões referentes à implantação do complexo logístico-industrial do porto do Açu no município de São João da Barra. O blog pretende trazer mais adiante outras análises e sugere o debate que já vem sendo travados por pessoas, instituições e por pessoas ligadas aos empreendedores. De início escolhemos a questão dos stakeholders:
Os stakeholders e os agentes sociais presentes no projeto do Açu
O termo “stakeholders” compreendido como parte(s) interessada(s) foi usado pela primeira vez por Freeman (1984): “stakeholders são elementos essenciais ao planejamento estratégico de negócios”.
O termo usado assim mesmo em inglês é corriqueiro entre os executivos de empresas. Para um empreendimento como o do Complexo Logístico-industrial do Açu, todas as partes interessadas nele são vistos como stakeholders.
Assim, a lista dos stakeholders de um empreendimento/negócio seria ampla: acionistas; donos; investidores; empregados; amigos; fornecedores/subministradores da empresa; sindicatos; associações empresariais, revolucionais ou profissionais; universidades, institutos de ensino e pesquisa; comunidades onde a empresa tem operações: associações de vizinhos; grupos normativos; governos municipais; governos estatais; governo federal; ongs; concorrentes, etc.
Nos planejamentos ditos como sendo de sustentabilidade é da relação com os stakeholders que se atribui o sucesso ou o fracasso de qualquer empreendimento. Nesta ótica é que se deseja a participação das partes interessadas.
Daí também surge a concepção da Gestão Integrada do Território (GIT). Do lado das partes interessadas, a participação é a forma de conhecer mais profundamente o que se pretende de forma a assegurar que suas expectativas e suas necessidades sejam conhecidas e consideradas pelos gestores do empreendimento.
Nesta ótica, vê-se que o conceito fica quase que irrestritamente vinculado a um valor econômico, a compensações e mitigações de impactos. Mesmo que se considerem as pessoas, essencialmente, a sua inserção na relação de interesses se daria pela influência no empreendimento/negócio.
De outra forma, os stakeholders podem ser identificados como sendo agentes sociais. Conforme a concepção e os interesses a denominação será diferente: stakeholders ou agentes sociais. Desta forma, a questão não é apenas de semântica, mas, de origem e objetivos.
Ambos se referem às pessoas, mas, deduz-se que a abordagem distinta leva a interpretações também diversas, sobre as intenções da participação que se pretenda obter ou destinar às pessoas das comunidades envolvidas na formulação do planejamento.
A denominação de agentes sociais aponta para processos de concertação e negociação. As abordagens tendem a ser qualitativas nos territórios onde os agentes constroem relações sociais.
Na perspectiva da participação dos agentes sociais num processo de concertação e negociação o objetivo a alcançar seria o de identificar pontos a serem concensuados que fossem do interesse de todos e não das partes isoladamente.
Na concepção dos agentes sociais a participação dos mesmos no planejamento não deve se dar apenas por questões democráticas, mas como uma forma de gestão dos recursos e do meio ambiente, partindo do pressuposto de que as pessoas envolvidas no processo decisório sentir-se-ão mais comprometidas numa perspectiva de interação que avance na direção da gestão negociada, com a qual é possível contrapor os diferentes interesses, os conhecimentos tradicionais, as diversas formas de pensamento, buscando um denominador comum, de forma pactuada.
No caso do Açu ou em outros de desenvolvimento chamados de exógenos, ou que vêem de fora, especialmente, os de grande porte, em termos de valores, de área ocupada e repercussão pelo tamanho da cadeia produtiva que arrasta, a visão e a gestão dos stakeholders obedecem a uma sequência que não é difícil de ser identificada em nossa região.
Inicialmente, se fez um mapeamento dos stakeholders da região. Muitos foram procurados e ouvidos. Depois foram feitas análises de seus interesses e de suas capacidades de interação e representatividade dos mesmos.
A ideia foi o de conhecer profunda e continuamente os stakeholders da região, depois envolvê-los, ouvir e comunicar, tudo num script determinado com a perspectiva de reduzir ou eliminar conflitos, no que poderá ser entendido como de uma gestão “integrada” do território.
Território aí entendido de forma mais ampla do que o espaço físico do solo e sim como relações de poder. Neste caso, como diz Shiki S. (2008) “a territorialidade é a expressão no espaço de um sistema de relações entre atores, sejam existenciais ou produtivistas, que buscam alterar as relações com a natureza e com o social, num determinado momento e local, para suprir suas necessidades”.
Ainda na concepção de Shiki, “a territorialidade é dinâmica, já que os elementos que a constituem – os indivíduos de uma coletividade e a relação definida entre eles e o espaço – podem variar no tempo sendo que estes elementos variam sob influência de fatores diferentes e em tempos também diferentes”.
Os objetivos da relação com os stakeholders regionais são os de avaliar as compensações e mitigações a serem concedidas, porque sobre o escopo (perfil) do megaprojeto e, não aquilo a ser negociado (ou muito pouco) para além do que acaba estipulado como determinações na liberação dos licenciamentos governamentais.
A identificação da forma como está se dando, ou não, a possibilidade de participação no planejamento do projeto do Açu, assim como os objetivos e os interesses dos agentes sociais ou dos stakeholders envolvidos, evidencia a sua interferência na gestão que se propõe integrada para o território, frente ao desenvolvimento sustentável que se discursa como para além do crescimento econômico.
3 comentários:
Professor, na teoria essa gestão integrada funcionaria perfeitamente, mas para isso, teríamos que ter uma sociedade politizada e organizada de forma que o empreendedor e a administração pública se vissem obrigados a sentar para ter esse diálogo e a discussão de forma ampla de todas as medidas mitigadoras/compensatórias que os empreendedores do mega projeto e a administração pública deveriam estar fazendo imediatamente e no curto, médio e longo prazos.
O empreendedor fez todo esse levantamento, identificou que precisa dialogar, porém, não viu que é uma necessidade imediata, que por questões políticas e de interesses do empreendimento, o melhor para eles é adiar esse diálogo o tempo que for preciso, fazendo alguns ajustes e maquiando alguns pontos.
Para eles, como o próprio Eike vive dizendo, dar uma casa mobiliada e um pedaço de terra para o pessoal do Quinto-distrito, por exemplo, resolve toda a problemática das questões das desapropriações, o que é um erro sem tamanho, pois muitos si quer dão valor e não tem utilidade uma TV LCD e um computador com internet, por essas e outras que o projeto Vila da Terra não passa de uma utopia até agora.
Por outro lado, a sociedade local e até mesmo regional, não sabe e não cobra, que parte dos recursos destinados ao empreendimento teriam que voltar em ações efetivas para aquela sociedade (as mitigações e compensações), e ai os responsáveis pelo empreendimentos, cientes disso, cometem outros erros bobos para tentar maquiar essa falta de visão. Um exemplo disso é a empresa “doar” viaturas para a PM que estão servindo para repreensão da própria população (no caso de intimidação das desapropriações) e a ampliação de um Posto de Urgência no Açu, que conta com sala de engessar, sala de raio-x, consultório odontológico e que depois de mais 2 anos encontra-se sem funcionar, ao menos nas questões exemplificadas...
Em resumo, a sociedade não sabe dos seus direitos e deveres, o poder público é omisso e o empreendedor no fundo não está nem ai, pois a cobrança da sociedade e do poder público são tão pequenas que nem os incomodam e a prova disso é que agora eles estão chamando os stakeholders que os interessam e que têm afinidades com o projeto, quando deveriam ouvir todos os lados! Lamentável estarmos perdendo uma oportunidade única de fazer diferente.
Professor, gostaria de sugerir, que muito se falam de compensações e mitigações, são assuntos a serem debatidos em várias frentes para se chegar a algumas soluções, mas há algumas compensações que deveriam ser feitas imediatamente pelo empreendimento e pela administração pública, uma vez que, em especial, no município de SJB temos um déficit muito grande em várias áreas, diante disso, gostaria de sugerir ao Sr. que ampliasse no seu blog, sugestões ou exemplos que foram aplicados com sucesso em outros lugares, algo que fomente um pouco a imaginação... Se for possível, uma vez que é sabido o monitoramento das redes sociais pelo empreendimento e por alguns membros do governo. Abs.
Ps. Não precisa publicar essa sugestão.
Ótima matéria professor.
Aqui no Açu ta dificil identificar alguns desses grupos.
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