O artigo com o título acima está publicado na edição de hoje do jornal Valor e merece sua reflexão:
“A economia da felicidade”
Por Jeffrey D. Sachs
"Vivemos em tempos de altas ansiedades. Apesar de o mundo usufruir de uma riqueza total sem precedentes, também há ampla insegurança, agitação e insatisfação. Nos Estados Unidos, uma grande maioria dos americanos acredita que o país está "no caminho errado". O pessimismo está nas alturas. O mesmo vale para muitos outros lugares.
Tendo essa situação como pano de fundo, chegou a hora de reconsiderar as fontes básicas de felicidade em nossa vida econômica. A busca incansável de rendas maiores vem nos levando a uma ansiedade e iniquidade sem precedentes, em vez de nos conduzir a uma maior felicidade e satisfação na vida. O progresso econômico é importante e pode melhorar a qualidade de vida, mas só se o buscarmos junto com outras metas.
Nesse sentido, o Reino do Butão vem mostrando o caminho. Há 40 anos, o quarto rei do Butão, jovem e recém-entronado, fez uma escolha notável: o Butão deveria buscar a "Felicidade Nacional Bruta" (FNB), em vez do Produto Nacional Bruto (PNB). Desde então, o país vem experimentando uma abordagem alternativa e holística em relação ao desenvolvimento, que enfatiza não apenas o crescimento da economia, mas também a cultura, saúde mental, compaixão e comunidade.
Dezenas de especialistas reuniram-se recentemente na capital do Butão, Thimbu, para fazer um balanço sobre o desempenho do país. Fui um dos coanfitriões, com o primeiro-ministro do Butão, Jigme Thinley, um líder em desenvolvimento sustentável e grande defensor do conceito de "FNB". A reunião ocorreu na esteira da declaração de julho da assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que convocou os países a avaliar como as políticas nacionais podem promover a felicidade em suas sociedades.
Devemos sim apoiar o desenvolvimento e crescimento econômico, mas apenas dentro de um contexto mais amplo: um contexto que promova a sustentabilidade ambiental e os valores da compaixão e honestidade, necessários para criar a confiança social.
Todos os que se reuniram em Thimbu concordaram sobre a importância de buscar a felicidade em vez da renda nacional. A questão que examinamos é como alcançar a felicidade em um mundo caracterizado pela rápida urbanização, meios de comunicação de massa, capitalismo global e degradação ambiental. Como nossa vida econômica pode ser reordenada para recriar um senso de comunidade, confiança e sustentabilidade ambiental?
Estas foram algumas das conclusões iniciais. Primeira, não devemos menosprezar o valor do progresso econômico. Há sofrimento quando as pessoas passam fome, quando são privadas do atendimento de necessidades básicas, como água potável, atendimento médico e educação, ou empregos dignos.
Segunda, a busca contínua do PNB, sem levar em conta outros objetivos, tampouco é caminho para a felicidade. Nos EUA, o PNB subiu acentuadamente nos últimos 40 anos, mas a felicidade, não. Em vez disso, a busca obstinada do PNB levou a grandes desigualdades de riqueza e poder - alimentadas pelo crescimento de uma grande subclasse --, aprisionou milhões de crianças na pobreza e provocou grave degradação ambiental.
Terceira, a felicidade é alcançada por meio de uma abordagem de vida equilibrada, entre indivíduos e sociedade. Como indivíduos, somos infelizes quando nos é negado o atendimento de necessidades básicas materiais, mas também somos infelizes se a busca por rendas maiores substitui nosso foco na família, amigos, comunidade, compaixão e equilíbrio interno. Como sociedade, uma coisa é organizar políticas econômicas para manter os padrões de vida em alta, mas outra bem diferente é subordinar todos os valores da sociedade à busca do lucro.
A política nos EUA, contudo, permitiu cada vez mais que os lucros empresariais dominassem todas as outras aspirações: igualdade, justiça, confiança, saúde física e mental e sustentabilidade ambiental. As contribuições de empresas a campanhas corroem cada vez mais o processo democrático, com a benção da Corte Suprema dos EUA.
Quarta, o capitalismo global apresenta muitas ameaças diretas à felicidade. Está destruindo o ambiente com as mudanças climáticas e outros tipos de poluição, enquanto um fluxo incansável de propaganda da indústria petrolífera leva muitas pessoas a desconhecer o problema. Isso enfraquece a estabilidade mental e confiança social, com a incidência de depressões clínicas aparentemente em alta. Os meios de comunicação de massa se tornaram meio de distribuição de "mensagens" empresariais em grande parte abertamente contra a ciência, enquanto os americanos sofrem de um número cada vez de vícios de consumo.
Consideremos como as lanchonetes de refeições rápidas usam óleos, gorduras, açúcares e outros ingredientes viciantes que criam uma dependência, prejudicial à saúde, em relação a alimentos que contribuem para a obesidade. Cerca de 30% dos americanos são obesos na atualidade. O resto do mundo acabará seguindo o mesmo caminho, a menos que os países restrinjam práticas empresariais perigosas, como a publicidade, voltada a crianças, de alimentos viciantes e prejudiciais à saúde.
O problema não está apenas nos alimentos, a publicidade voltada às grandes massas contribuiu para muitos outros vícios de consumo, que implicam em altos custos à saúde pública, incluindo o hábito de ver televisão em excesso, apostas, uso de drogas, fumo e alcoolismo.
Quinta, para promover a felicidade, precisamos identificar os muitos fatores além do PNB que podem melhorar ou piorar o bem-estar de uma sociedade. A maioria dos países investe para calcular o PNB, mas pouco gasta para identificar as fontes da má situação da área de saúde (como o fast-food e o tempo excessivo em frente à TV), o declínio da confiança social e a degradação ambiental. Uma vez que compreendamos esses fatores, teremos condições de agir.
A busca insana pelos lucros empresariais ameaça a todos nós. Naturalmente, devemos apoiar o desenvolvimento e crescimento econômico, mas apenas dentro de um contexto mais amplo: um contexto que promova a sustentabilidade ambiental e os valores da compaixão e honestidade, necessários para criar a confiança social. A busca da felicidade não deveria ficar confinada ao belo reino montanhoso do Butão.
Jeffrey D. Sachs é professor de Economia e diretor do Instituto Terra, da Columbia University. É também assessor especial do secretário-geral das Nações Unidas sobre as Metas de Desenvolvimento do Milênio. Copyright: Project Syndicate, 2011.”
3 comentários:
Olha, essa é uma reflexão muito interessante, os valores têm sido invertidos drasticamente nas últimas décadas, de fato aumentar a renda é importante, até porque a população mundial não para de crescer, todavia a economia também segue o ritmo mais gente empregada, mais consumo, mas isso até quando? As novidades tecnológicas todos os dias, o consumismo demasiado tem gerado uma expectativa e ansiedade muito grande em todos, enquanto isso vamos deixando as coisas simples e cotidianas cada vez mais de lado. Poucos são os que observam um por do sol, param para sentir a brisa do vento, jantam em família, enfim o mundo já não é o mesmo. Como pode, compramos um carro que muitos demoram anos para pagar e ai enfrentamos horas de congestionamentos nas grandes cidades, o consumo de combustível perdido nesse transito entra no valor do PIB, mas se tivéssemos um sistema bom de transporte público poderíamos aproveitar esse percurso para ler um livro, olhar uma revista, ganhar cultura, fazer a mente funcionar com mais saúde...
Vamos resistir com esse ritmo até quando? Daqui a pouco viraremos máquinas humanas, podem pensar que é exagero, mas quando formos nos da conta veremos que é a mais pura realidade, estamos colocando muito o bem material e financeiro e deixando de lado as coisas simples que podem nos fazer mais felizes, embora que com isso o bolso fique um pouco mais “vazio”.
As pessoas são contaminadas pela ilusão do poder aquisitivo e status como ideais de vida. Onde está o equilíbrio e o bom senso...vivemos cobrando de políticos atitudes e deveres, mas eles são reflexo do comportamento social. As pessoas querem tirar vantagem uma das outas a todo custo, não existe respeito as regras básicas, os valores são invertidos.
As pessoas precisam refletir, que somos um organismo vivo, e que mudanças ambientais e estresses desnecessários por conta do mal comportamento humano, comprometem isso.
A sociedade vive sua melhor época em recursos, mas não sabe administrar ou dosar; tudo é tão rápido e numeroso, que daqui a pouco a velocidade da luz, não será mais suficiente.
A meu ver, o caminho pra uma vida mais feliz é começar com atitudes simples e valorizar as coisas que realmente nos sustentam..essas são as mais simples e existem desde que o mundo é mundo e que ignoramos, como o nosso meio ambiente. Dinheiro é necessário e nos torna mais felizes se soubermos como usa-lo, afinal simplicidade não significa pobreza, e sim atitudes. O "vencer na vida", não deve ser sinônimo de quem conseguiu comprar um Porsche, ou uma casa de 20 cômodos..e sim de vivermos uma vida sustentável, com harmonia com a natureza e pessoas..A mudança ocorrerá quando as pessoas tiverem conhecimento suficiente para olhar a sua essência ou o que realmente importa, o resto é Bônus..
Economia da felicidade seria eu ganhar na megasena e comprar meu Pontiac 6 cilindros com estofamento de couro, painel de medeira de lei e muitos cavalos.
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