quinta-feira, dezembro 15, 2011

100 anos do caboieiro do pé rachado!

Amanhã completa 100 anos de idade o meu avô materno Manoel Estevão de Moraes. Apesar das dificuldades oriundas da idade, ele continua lúcido e interrogativo. Em minha penúltima estada com ele, há cerca de dois meses, lá em sua casa na localidade de Santa Rita, no município de São Francisco do Itabapoana, depois de me ver atender três ligações no celular com discussão de problemas do cotidiano, ele se vira para mim e pergunta: afinal o que se leva desta vida? Assim como muitos, eu continuo a tentar responder a presente pergunta. Neste 16 de dezembro, eu recordarei, quando há sete anos eu presenteei meu avô Manoel Estevão de Moraes com uma breve história de sua vida que pode ser lida aqui na internet. Parabéns pelo seu centenário! PS.: Vai ter quem não gostará de saber que sou de uma família de longevos. Aquele abraço! PS.: Atualizado às 06:58: Relembrei agora que também há sete anos escrevi um breve artigo que pretendeu resumir a história que foi contada num livro de distribuição familiar que republico abaixo:

Caboieiro do pé rachado

Caboieiro é o nome que se dá às pessoas que são naturais da famosa localidade e ex-enseada do Caboio na Baixada Campista. Não era uma identificação que fosse apreciada pelos seus nativos. Era considerado um termo pejorativo, ainda mais se viesse complementado pela referência às características dos pés de seus moradores – pé rachado - que identificava as conseqüências de se viver numa área de restinga e em constantes cheias. Na época, raramente se fazia uso de sapatos. A proteção mais comum, quando usados, eram os antigos tamancões.

A expressão “Caboiero do pé rachado” utilizada como título deste artigo e também de uma publicação com objetivos familiares, tem a intenção de homenagear a história do camponês Manoel Estevam de Moraes, que ontem completou 93 anos, em sua trajetória de vida que saiu do Caboio até à Liberdade, fazenda de sua propriedade localizada em Santa Rita, no primeiro distrito do município de São Francisco do Itabapoana.

Só aos oito anos veio pela primeira vez de carro de boi ao centro urbano, acompanhando uma entrega de produtos na feira da então rua do mercado. Na baixada, dos cinco aos dez anos, acompanhou o pai Zeca Estevam comerciante de secos e molhados, num giro pela baixada em busca de um mercado seguro para sustentar a grande família que se completou com quatorze filhos. Morou em Poço Gordo, Estrada da Areia, Alto do Eliseu, Mineiros, Olhos D’água e Martins Lage. Nesta última, recorda-se da Usina de N. Sa. das Dores que em 1938 foi transformada na Destilaria Jaques Richet e também do formoso casarão do “Airises”.

Aos onze anos ficou na escola do Caboio por apenas um mês, por conta do ciúme do namorado da professora que obrigou seu pai a tirá-lo da escola quando começava a tomar gosto pela escrita. O trabalho na capina se tornou o destino natural depois transferido para as atividades de matança de gado mais uma vez junto com o pai. Diariamente seguia a cavalo do Caboio a São Sebastião levando a rês a ser abatida, voltando ao entardecer ajudando na entrega do comércio das carnes do açougue que o pai manteve em sociedade com Tatão Dias.

Sua memória prodigiosa ainda guarda viva a lembrança da última surra levada aos dez anos por conta das brincadeiras e brigas com os dois irmãos. Esta mesma memória o permite recordar que até se casar em 1921, o nome que usava era do avô materno Manoel Gomes da Silva. Só aí passou a ser registrado com o nome que depois ainda lhe causaria problemas pela diferença de escrita entre Estevam e Estevão na identidade e na certidão de casamento.

Aos 26 anos partiu com os três filhos numa viagem de dois dias da Canema ao sertão sanjoanense, com pernoite em Campos. Os três contos que juntou no trabalho de açougueiro o permitiu comprar uma primeira propriedade de três alqueires. Trabalhou duro, comprou e vendeu mais de onze outras propriedades. Teve 8 filhos, 25 netos e até agora 18 bisnetos. A homenagem que faço não tem a intenção da “corujice” que seria comum no trato entre um neto e seu avô quase centenário e de memória sem igual, porém, lembrar que a história não se constrói apenas com as autoridades e outras celebridades, mas, também com a vida do cidadão comum.

Nesta condição de cidadão trabalhador assimilou valores e construiu uma ética traçando limites para sua vida de filho, pai, patrão, sócio e amigo com condições de se orgulhar e de se desejar como exemplo para seus descendentes. Feliz aniversário “Vô Manel” e feliz Natal a todos!

9 comentários:

Anônimo disse...

que maravilha, meu avo tambem esta com 92 saude em perfeito estado para a idade e com a pressao 12x8 , fala tudo , sabe de tudo faz as coisas dele tudo sem precisar de ninguem para ajudar ate 2 anso atras morava sozinho e tem uma lucidez incrivel e coicidentemente é de SFI tambem (será que a farinha de mandioca de lá faz viver mais)

Marcos Valério Cabeludo disse...

Parabéns ao Seu Manoel Estevão, gente do Caboio, vizinho de meus ancestrais próximos, gente esperta, que morre de velho e bota velho nisso! Que nos aguentem Robertão, rs!

Anônimo disse...

Parabéns!

100 anos não é para qualquer um.

Anônimo disse...

Vida longa a ti, Roberto!

Jane Nunes disse...

Salve, salve seu Manel!!!
Me emocionei tanto com a imagem , a lucides , com o questionamento do seu avô...
Parabéns ao aniversariante .
Que como ele você viva muitos e muitos anos .

Roberto Moraes disse...

Obrigado a vocês pelo meu avô e por este sei neto.

Abs.

Frederico disse...

parabéns ao seu Manoel e parabéns a esse neto que tem a sensibilidade e a capacidade de fazer esses registros tão carinhosos que mais uma vez me leva a recordar com saudade os meus avós que vida semelhante tiveram.

Vania Cruz disse...

Roberto, um privilégio ter seu avô ainda. Sou extremamente apaixonada pelos nossos velhinhos, essas vidas não só documentadas pelo tempo mas, valorosas na nossa identidade. Não acredito em milagres de remédios numa idade tão avançada mas, acredito no milagre do AMOR das famílias que ainda primam em cuidar dessas criaturas. Curta momentos significativos ao lado de Sr. "Manel". Teça a alegria de tê-lo numa idade tão bonita. E ele, também, privilegiado por ter entre os seus netos, um como você. Sem rasgação de seda mas, é a pura verdade. Beijos.

Francisca Michele disse...

Quero parabenizar pelo aniversário de Manoel Estevão Moraes que completou seus 100 anos "um centenário de vida" e que DEUS com sua infinita bondade sempre abençoou, iluminou dando saúde, paz, felicidades, vitórtias e muitas conquista para o sr Manoel e que ele viva por muitos anos junto com toda a sua família, que sempre teve o carinho, amor e cuidado com o sr Manoel e que também quero parabenizar todos seus familiares que ainda cuida muito dele e que contribuiu para ele esta presente no meio de nós.

FELIZ NATAL e UM PRÓSPERO ANO NOVO de muitas felicidades, saúde, paz e realizações.

Trabalho com a neta Maura e dou aula para a bisneta Liana.

BJA. Francisca Michele.