Caboieiro do pé rachado
Caboieiro é o nome que se dá às pessoas que são naturais da famosa localidade e ex-enseada do Caboio na Baixada Campista. Não era uma identificação que fosse apreciada pelos seus nativos. Era considerado um termo pejorativo, ainda mais se viesse complementado pela referência às características dos pés de seus moradores – pé rachado - que identificava as conseqüências de se viver numa área de restinga e em constantes cheias. Na época, raramente se fazia uso de sapatos. A proteção mais comum, quando usados, eram os antigos tamancões.
A expressão “Caboiero do pé rachado” utilizada como título deste artigo e também de uma publicação com objetivos familiares, tem a intenção de homenagear a história do camponês Manoel Estevam de Moraes, que ontem completou 93 anos, em sua trajetória de vida que saiu do Caboio até à Liberdade, fazenda de sua propriedade localizada em Santa Rita, no primeiro distrito do município de São Francisco do Itabapoana.
Só aos oito anos veio pela primeira vez de carro de boi ao centro urbano, acompanhando uma entrega de produtos na feira da então rua do mercado. Na baixada, dos cinco aos dez anos, acompanhou o pai Zeca Estevam comerciante de secos e molhados, num giro pela baixada em busca de um mercado seguro para sustentar a grande família que se completou com quatorze filhos. Morou em Poço Gordo, Estrada da Areia, Alto do Eliseu, Mineiros, Olhos D’água e Martins Lage. Nesta última, recorda-se da Usina de N. Sa. das Dores que em 1938 foi transformada na Destilaria Jaques Richet e também do formoso casarão do “Airises”.
Aos onze anos ficou na escola do Caboio por apenas um mês, por conta do ciúme do namorado da professora que obrigou seu pai a tirá-lo da escola quando começava a tomar gosto pela escrita. O trabalho na capina se tornou o destino natural depois transferido para as atividades de matança de gado mais uma vez junto com o pai. Diariamente seguia a cavalo do Caboio a São Sebastião levando a rês a ser abatida, voltando ao entardecer ajudando na entrega do comércio das carnes do açougue que o pai manteve em sociedade com Tatão Dias.
Sua memória prodigiosa ainda guarda viva a lembrança da última surra levada aos dez anos por conta das brincadeiras e brigas com os dois irmãos. Esta mesma memória o permite recordar que até se casar em 1921, o nome que usava era do avô materno Manoel Gomes da Silva. Só aí passou a ser registrado com o nome que depois ainda lhe causaria problemas pela diferença de escrita entre Estevam e Estevão na identidade e na certidão de casamento.
Aos 26 anos partiu com os três filhos numa viagem de dois dias da Canema ao sertão sanjoanense, com pernoite em Campos. Os três contos que juntou no trabalho de açougueiro o permitiu comprar uma primeira propriedade de três alqueires. Trabalhou duro, comprou e vendeu mais de onze outras propriedades. Teve 8 filhos, 25 netos e até agora 18 bisnetos. A homenagem que faço não tem a intenção da “corujice” que seria comum no trato entre um neto e seu avô quase centenário e de memória sem igual, porém, lembrar que a história não se constrói apenas com as autoridades e outras celebridades, mas, também com a vida do cidadão comum.
Nesta condição de cidadão trabalhador assimilou valores e construiu uma ética traçando limites para sua vida de filho, pai, patrão, sócio e amigo com condições de se orgulhar e de se desejar como exemplo para seus descendentes. Feliz aniversário “Vô Manel” e feliz Natal a todos!
16 comentários:
Meu abraço, Roberto , para vc, Eliete e toda família nesse momento de despedida de Sr. Manoel. O privilégio foi grande em tê-lo junto por tanto tempo.Minhas orações e solidariedade.
Meus sentimentos de pesar, professor, pela passagem de tão ilustre cidadão e avô.
Caro Roberto, nossos sentimentos.
Um abraço!
Meus pesames a Familia, se todo neto fosse igual a você, os avos não ficariam esquecidos, é que o Sr. Manoel descanse e paz.
Roberto meus sentimentos.O céu certamente está em festa!
Meus sentimentos amigo Roberto.
O "Seu Manoel Estavam", como aprendi a chamá-lo por conta da grande amizade que cultivou com o meu falecido avô Muniz, "Seu Muniz", também foi personagem marcante em minha infância.
Recordo-me saudoso das várias oportunidades de saborear uma verdadeira galinha caipira ao molho pardo com aipim na companhia dos meus avós, quando "Seu Muniz" ia visitar o amigo num daqueles domingos do passado não tão longínquos assim, estradas de chão, morro do rato, farinha de mandioca...recordo-me ainda que o "Seu Manoel" mantinha em seu pomar alguns pés de laranja que eram do amigo Muniz, ninguém podia tocar uma laranja sequer daqueles pés, todas eram para serem colhidas pelo velho amigo comerciante da Lacerda Sobrinho e vizinho do irmão Sival na Baltazar Carneiro, Muniz...era um prazer enorme vê-los em prosas e anedotas, coisa rara nos dias de hoje...quanta saudade!
Que ele siga em paz!
Roberto e Dona Eliete, um abraço amigo nestes momentos sempre nos dá força para continuar o caminhar. Orar sempre. Pêsames de toda minha família. Abraço,
Nádia Prates e família
Meus sentimentos...
Ele agora é vizinho dos meus avós, que foram pro cemitério de SFI, antes de irem pro céu. Com toda certeza eles se encontraram hoje, os três.
Um abraço.
Meus pêsames a você e a família.
Meus sentimentos, Roberto. Abrace sua mãe e irmãs, por mim. Mais uma estrelinha para brilhar no infinito. Muita paz!
Meus sentimentos, Roberto. Abrace sua mãe e irmãs, por mim. Mais uma estrelinha para brilhar no infinito. Muita paz!
Muito, muito, obrigado!
Nós, que professamos a mesma crença, sabemos que é uma viagem para todos os viajores! Entretanto, quando um ente querido parte, a dor é grande. Mas, vamos nos concentrar na missão cumprida e no legado moral, que é perene! Forte abraço a todos!
Caro Roberto,
Um abraço e meus sentimentos. Infelizmente estive fora da cidade e não deu para comparecer ao sepultamento. Me recordo que nas poucas oportunidades que nos encontramos, vc sempre falava de seu avô com muito carinho e orgulho. Abraço a todos os familiares!
Obs: Favor desconsiderar o comentário anterior pq esqueci de assinar.
Professor Roberto
Palavras são difíceis de falar ou escrever para amenizar o sofrimento no momento da perca de um ente querido. Só podemos pedir ao Divino Mestre o conforto para os familiares e que o Sr. Manoel seja iluminado pela a Luz Eterna, como foi iluminado na vida terrena.
Fernando Bensi
Somente agora soube da notícia da perda.
Com certeza ele cumpriu sua missão e teve a honra de completar um centenário, e os frutos que deixou serão eternos.
Que a Paz e a graça divina continue a ilumina-lo.
FELIZ 2012.
eduardo inacio
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