"CGU aponta falhas em rodovias concessionadas"
"Seis
das sete rodovias concedidas à iniciativa privada no primeiro grande
leilão de estradas federais do governo petista iniciaram a cobrança de
pedágio sem terem cumprido plenamente as obrigações exigidas em
contrato.
Buracos no asfalto, desnível nos
acostamentos, falta de iluminação em passarelas e problemas no sistema
de drenagem são exemplos de falhas apontadas pela Controladoria-Geral da
União (CGU) nas rodovias concedidas no fim de 2007.
A licitação, até hoje lembrada pelo
“pedágio de R$ 1″ – uma referência aos fortes deságios apresentados na
disputa -, envolveu trechos importantes da malha federal, como a Fernão
Dias (ligação entre São Paulo e Belo Horizonte) e a Régis Bittencourt
(São Paulo-Curitiba).
O resultado foi bastante explorado
politicamente pelo PT, em contraposição às tarifas cobradas nas rodovias
paulistas concedidas pelo PSDB, cujo valor mais do que quadruplica o
daquela licitação.
O relatório chega com anos de atraso, mas
ainda deve jogar lenha na discussão. A auditoria do órgão abrangeu
apenas os “trabalhos iniciais” das concessionárias, ou seja, obras
emergenciais para melhorar as condições de tráfego e de segurança nos
seis primeiros meses após a assinatura dos contratos de concessão.
Só depois de executar esses trabalhos as
concessionárias são autorizadas pela Agência Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT) a iniciar a cobrança de pedágio dos usuários.
De acordo com a CGU, que só divulgou o relatório de sua auditoria neste
ano, “foram constatados 38 problemas que resultam no atendimento parcial
dos parâmetros de desempenho previstos no PER (Plano de Exploração
Rodoviária)” para a fase de trabalhos iniciais.
Os auditores encontraram deficiências na
Fernão Dias, na Régis Bittencourt, na Transbrasiliana (BR-153 em São
Paulo), na Rodovia do Aço (BR-393 no Rio de Janeiro), na Autopista Fluminense (BR-101 no Rio de Janeiro)
e na Autopista Planalto Sul (BR-116 entre Curitiba e Florianópolis).
Quatro desses seis trechos são administrados pela empresa espanhola OHL.
Dos sete lotes leiloados, apenas a
Autopista Litoral Sul (BR-376 no Paraná e BR-101 em Santa Catarina)
respeitou integralmente as exigências do contrato de concessão antes de
iniciar a cobrança do pedágio.
“O atendimento parcial dos parâmetros de
desempenho”, segundo a CGU, “evidencia condições indesejadas, de
segurança e de trafegabilidade, das estruturas físicas da rodovia após a
execução das obras e serviços previstos na fase dos trabalhos iniciais,
prejudicando os usuários da rodovia”.
Como exemplo das falhas encontradas, a
Régis Bittencourt tinha 36 “panelas” ou buracos e 26 pontos com “trincas
de crocodilo”, entre outros problemas. Na Rodovia do Aço, havia buracos
em 33 dos 200 quilômetros fiscalizados e falta de iluminação nas
passarelas, paradas de ônibus e locais de travessia de pedestres.
A Fernão Dias apresentou irregularidades
como ausência de barreiras ou defensas metálicas em pontos críticos e
dois dos três postos da Polícia Rodoviária Federal sem reforma,
contrariando as exigências do contrato.
Para a CGU, não foram atendidas plenamente
sequer as pendências apontadas pela própria ANTT às concessionárias
como condição para iniciar a cobrança de pedágio.
O órgão de controle apontou, por exemplo, que o pedágio foi liberado sem
que a OHL tenha sanado 51% das falhas apontadas no pavimento da Régis
Bittencourt e sem que a BRVias tenha consertado 75% dos elementos de
drenagem na BR-153/São Paulo.
A ANTT garante que só autorizou a cobrança
de pedágio com o cumprimento das exigências contratuais e relativiza o
relatório. O superintendente de exploração de infraestrutura rodoviária
da agência, Mário Mondolfo, lembra que a comissão da agência responsável
por fiscalizar as estradas concedidas indeferiu vários pedidos para o
início da cobrança de pedágio. “Houve rodovias com três, quatro
vistorias”, diz Mondolfo.
Segundo ele, o retrato tirado pela CGU não
reflete o estado dessas estradas no momento em que o pedágio começou a
ser cobrado, mas quando os auditores foram a campo, durante a execução
dos trabalhos iniciais. “Isso foi plenamente esclarecido. Tanto que o
TCU (Tribunal de Contas da União) reconheceu que os serviços iniciais
foram concluídos.”
O superintendente disse ainda que a
Polícia Rodoviária Federal pedia reformas em outros postos, por isso
houve demora em chegar a um entendimento. Por fim, lembra que houve
estragos no pavimento causados pelas chuvas.
Em muitos casos, o início da cobrança de
pedágio atrasou quase um ano. Mondolfo ressalta, porém, que a
transferência das rodovias para a administração privada não deve ser
encarada como solução final para os problemas.
A OHL, que administra quatro dos seis
trechos concedidos nos quais a auditoria da CGU apontou problemas,
observou que se trata de um retrato de quatro anos atrás.
“A OHL Brasil esclarece que todos os trabalhos iniciais previstos no
contrato de concessão foram realizados nas rodovias federais sob sua
administração em 2008″, afirma nota da empresa enviada ao Valor. “As
rodovias passaram por vistorias da ANTT, que liberou o início da
cobrança de pedágio. Não há nenhuma pendência judicial relacionada às
obras deste período de trabalhos iniciais.”
4 comentários:
E o atraso nas obras de duplicação?
O relatório da CGU não abordou esse assunto.
Pelo contrato de concessão inicial, o trecho entre Rio Dourado e Rio Bonito teria que ser duplicado em três anos, ou seja, até 2011. E até agora as obras nem se iniciaram.
Onde posso conseguir o contrato e o edital da licitação da BR-101 no RJ?
No site da ANTT
No link:
http://www.antt.gov.br/index.php/content/view/9176/Autopista_Fluminense.html
O PER, no que se refere à duplicação está assim disposto:
"5.2.4 Cronograma de Execução
Duplicações (inclusive OAE's):
176,6 km, sendo:
do km 190,3 ( RJ 162 p/ Rio das Ostras) ao km 205,2 (RJ 142 - Casemiro de Abreu), do
km 205,2 (RJ 142 - Casemiro de Abreu) ao km 235,2 ( RJ 140 p/ Silva Jardim) e do km
235,2 ( RJ 140 p/ Silva Jardim) ao km 261,2 (RJ 124 p/ Araruama) com execução
prevista do 3º ao 8º ano. (Redação dada pela 1ª Revisão Extraordinária do PER, aprovada
pela Resolução n.º 3.319, de 11/11/2009)
do km 84,6 (final do contorno de Campos) ao km 190,3 (RJ 162 p/ Rio das Ostras) com
execução prevista do 4º ao 9º ano. (Redação dada pela 4ª Revisão Ordinária e 3ª Revisão
Extraordinária do PER, aprovada pela Resolução n.º 3.771, de 26/01/2012)."
Mas na sua versão original (antes Resolução nº 3319/09) a duplicação dos 16,6 km tinha a execução prevista do até o 3º ano. A OHL alega que o prazo teve que ser ampliado porque não saiu a autorização ambiental. Oras, por que o Governo Federal fez a concessão antes da autorização ambiental??! Na prática, não há prazo algum!
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