A assistente social, doutora em
Serviço Social e professora adjunta do polo da UFF Campos, Erica Almeida,
enviou ao blog um artigo, que mais do que apresentar um problema, que seria
comum a uma pessoa da academia, apresenta solução e defende posição, como
convém àquele(a)s que batalham por causas justas em nossa injusta sociedade. É
desta forma que o blog abre espaço para a questão, no desejo que a luta dos
trabalhadores do lixo varra a sujeira da injustiça e do fisiologismo conhecido
em nossa planície:
“O fechamento dos
lixões – quem vai pagar essa conta?”
Érica T. Vieira de
Almeida
“Faz mais de
30 anos que Campos convive com o lixão da CODIN. Matéria de inúmeras
reportagens sobre pobreza e trabalho infantil, o “lixão”, como é conhecido por
todos, conviveu equilibradamente com o crescimento da cidade e seu
“desenvolvimento”, ainda que não cessassem as denúncias acerca do trabalho
degradante, da superexploração dos catadores e das suas consequências
desastrosas do ponto de vista ambiental, tanto para os que lá residem quanto
para a vizinhança. Mais recentemente, com a aprovação da nova Lei de Resíduos
Sólidos pelo então presidente Lula, no ano de 2010, os lixões tornaram–se os grandes
vilões e, portanto, devem desaparecer, assim como os catadores que lá trabalham
e ganham o seu sustento. A justificativa é que eles são ambientalmente danosos
e o seu poder de contaminação deve ser limitado dentro de uma nova lógica que
aponta para o reaproveitamento dos resíduos produzidos pela sociedade de
consumo e, portanto, cada vez mais produtora de “lixo”.
Ora, pensando
desse ponto de vista, o fim dos lixões é bom para todos! É verdade, e não nos
opomos a ele. Só não devemos permitir que apenas os catadores paguem essa
conta, que, afinal, é de toda a sociedade. Pensando nos problemas decorrentes
do fechamento dos lixões, a Política Nacional de Resíduos Sólidos aponta para o
cuidado que os poderes públicos envolvidos devem ter com aqueles trabalhadores
que, ao não terem outras oportunidades de trabalho, elegeram o trabalho nos
lixões como sua principal atividade e sua única fonte de renda. Em Campos, eles
chegam a 200 catadores, se considerarmos apenas aqueles que trabalham diariamente
no lixão, seja na catação direta, selecionando os resíduos sólidos para a
reciclagem, seja na triagem para os pequenos atravessadores. Se considerarmos
todos os envolvidos na “cadeia produtiva do lixo”, inclusive os catadores de
rua e os pequenos negociantes que sobrevivem da comercialização do material
reciclável para os grandes empresários, eles podem ultrapassar 1.000 (mil) pessoas
ou famílias que têm o seu sustento ligado à cadeia do lixo.
Se o
fechamento do lixão constitui um problema para aqueles que perderão sua única
fonte de renda, ele também aponta para uma possibilidade de inclusão produtiva
e social. Ou seja, ao sancionar o fechamento dos lixões com prazo até 2014, a nova Lei abre
inúmeras possibilidades para que os poderes públicos municipais integrem de
maneira participativa os catadores, discutindo formas de inclusão produtiva que
podem ir desde a formação de pequenas cooperativas até a sua integração na
política municipal de resíduos sólidos. O governo municipal de Campos já
anunciou o fechamento do seu lixão e vem negociando formas de inclusão dos
catadores. Ficamos torcendo para que essas negociações incluam todos aqueles
que viveram e ainda vivem desse trabalho degradante, mas indispensável à
reprodução social de suas famílias, haja vista as poucas ou quase nenhuma
oportunidade de se integrarem ao mercado de trabalho.
Enquanto cidadãos,
não podemos ser cúmplices dos processos atuais que expropriam terra e que
condenam trabalhadores, sobretudo os mais pauperizados e precarizados, à
condição de desempregados ou de clientes da assistência social. Essas devem ser
condições transitórias, e cabe ao Estado pensar as estratégias econômicas e
sociais capazes de integrar essa parcela de trabalhadores. O que eles querem?
Trabalhar dignamente e sustentar seus filhos, como sempre o fizeram, mesmo que
para isso tivessem que enfrentar sol, chuva, poeira, doenças, incapacidades e
mortes.”
2 comentários:
Desculpa, mas não via a solução proposta.
Prezada Erica, Fiquei muito feliz lendo o seu comentario e concordo plenamente com voçe. O que está acontecendo é que o Estado de Rio de Janeiro investiu em varios projetos de pequeno porte para exatamente ajudar este pessoal que trabalha na reciclagem. Atraves o sistema de FAPERJ, orgão do estado na area de Sciencia e Técnologia, ela investiu em empresas que desenvolvem técnologia para tratar residuos. Entre eles a empresa de projetos Felicissimo e Ramires de Niteroi e a empresa LPM do Brasil de Campos. A cooperação destas duas empresas resultou em projetos realizados para grupos de catadores em varias cidades no estado de Rio. Inclusive no Morro de Alemão onde foram construidos três miniusinas para tratar oleo de cozinha. A sua cooperação neste caso será bem vindo! Para ter uma ideia dos projetos realizados convidamos olhar este site: http://biodieselenzimatico.blogspot.com.br/2012/04/termino-da-instalacao-eletrica-da-usina.html
Contato:
Peter Lamers,
LPM do Brasil,
lpm_campos@uol.com.br
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