quarta-feira, maio 02, 2012

A Usina Cambahyba e a ditadura militar na década de 70


Os escombros da usina Cambahyba, na localidade de mesmo nome, próximo à Martins Lage, ainda resiste ao fim das atividades industriais na safra 1995/1996.

Ali, um grande patrimônio agrícola-industrial sob o comando de Heli Ribeiro Gomes encerrou suas atividades. Duas décadas depois, Heli, já falecido, sofre a acusação do ex-delegado do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), Cláudio Guerra, no livro que acabou de ser editado “Memórias de Uma Guerra Suja”, de ter atuado e ajudado os militares em torturas e no sumiço dos corpos de pelo menos dez militantes de esquerda, em 1973.

Heli Ribeiro Gomes nasceu em Campos dos Goytacazes, no dia 22 de agosto de 1925. Foi eleito deputado federal pelo antigo estado do Rio de Janeiro por dois mandatos, entre 1958 e 1966 e ocupou o cargo de vice-governador entre 1966 e 1970 e faleceu no dia 04 de março de 1992.

Em 1972 Heli Ribeiro Gomes disputou e perdeu para Zezé Barbosa o cargo de prefeito de Campos, por uma das sublegendas da Arena, o partido simpático da direita e dos militares.

O Complexo Agroindustrial de Cambahyba - como chamado - era uma das principais indústrias do município, junto com as usinas São João, Sapucaia, Paraíso entre outras, de um total de 24 em funcionamento no ano de 1972.

Na década de 1970 a propriedade de Heli Ribeiro Gomes chegou a ter área própria de 6,7 mil ha, que com mais 1,1 mil ha arrendados, alcançava uma área total de aproximadamente, 8 mil hectares, 85% deles dedicados à cultura da cana de açúcar. 

O relato do ex-delegado Cláudio Guerra, mesmo que de foram resumida, na matéria do iG (veja aqui) impressiona e faz lamentar todos que lutaram e lutam pela democracia. É indiscutível que o caso merece ser apurado e a Comissão da Verdade parece ser o caminho para desvendar o que é fato do que é versão. 

A decadência da agroindústria canavieira exatamente nesta época citada, teve um alívio com a decisão do governo militar em apoiar e implantar o Proalcool, mais precisamente, em 1975.

A apuração dos verdadeiros fatos terá a função de responsabilizar quem tem que ser responsabilizado e, principalmente, eliminar as suspeitas sobre aqueles que nenhuma relação tem com estas e outras denúncias. 

É oportuno recordar que se trata de uma versão dos fatos, não necessariamente, a verdade, mas, a quantidade de detalhes e a contextualização aumentam as suspeitas de que o ex-delegado possa estar falando a verdade. 

É lamentável para Campos e os campistas ver sua cidade, mais uma vez, relacionada a assuntos que desabonam nossa história, mas, pior que isto é agora se tentar escamotear a verdadeira história.  

PS.: Fotos extraídas do artigo acadêmico “Modos de ver e de pensar o Patrimônio Agroindustrial: A Usina Cambahyba refletida através de um álbum fotográfico” de autoria do professor da Uenf, Marcelo Carlos Gantos.


PS.: Atualizado às 00:34: 1- Posição da filha de Hei Ribeiro Gomes em matéria do Globo Online:
“— Meu pai era simpático aos militares, mas naquela época ou você era de um lado ou de outro. Ele não queria o comunismo dentro do Brasil, mas era totalmente contrário a qualquer perseguição ou violência, era um democrata — diz Cecília Gomes, filha de Heli, que considera as acusações de Guerra “absurdas”.

2- O jornal também fala sobre queima de cadáveres de militantes de esquerda na caldeira da Usina Cambayba:
"Isso me atormentou durante muito tempo porque eu sei que as famílias devem ainda ter até hoje aquela esperança de saber o destino de seus entes queridos. Se eu tive coragem de fazer, eu tenho que ter coragem de assumir os meus erros”

“O ex-delegado diz ter se aproveitado da amizade com o ex-deputado federal e ex-vice-governador do Estado do Rio Heli Ribeiro Gomes, dono da Usina Cambahyba, para usar o forno da unidade em Campos (RJ) e desaparecer com o corpo de militantes. De acordo com o livro, teriam sido incinerados João Batista, Joaquim Pires Cerveira, Ana Rosa Kucinski, Wilson Silva, David Capistrano, João Massena Mello, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão Filho, Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira e Eduardo Collier Filho.

Guerra afirma ter levado dois superiores hierárquicos ao local para que aprovassem o uso do forno da usina: o coronel da cavalaria do Exército Freddie Perdigão Pereira, que trabalhava para o Serviço Nacional de Informações (SNI), e o comandante da Marinha Antônio Vieira, que atuava no Centro de Informações da Marinha (Cenimar). Ambos já morreram; o primeiro em 1996, e o segundo em 2006.”

3- Após passar sete anos na cadeia sob acusação de ter matado um bicheiro, Cláudio Guerra converteu-se ao cristianismo e, hoje, aos 71 anos, é um preletor da Igreja Assembleia de Deus. Veja abaixo um dos vídeos que o YouTube tem sobre ele. Seu livro “Memórias de Uma Guerra Suja” será lançado oficialmente neste próximo final de semana pela editora Topbooks: 





PS.: Atualizado às 09:20: Do Ministério Público Federal que montou o Grupo de Justiça de Transição para investigar os crimes da ditadura, através da procuradora da República Eugênia Gonzaga que busca provas para solucionar as mortes:

“As informações são consistentes. Vamos reunir as informações e seguir para a usina de Campos em busca de depoimentos.”

19 comentários:

Anônimo disse...

Caro Roberto, a afirmação do delegado capixaba me parece ser coerente. Coerente com uma elite ignorante e sua perversa paranóia de se manter no poder. Processo que se origina numa colonização miliarista e com profundos laços de amor a escravidão. O que é mais ou menos dizer "não pensem...não questione" pois nós (os senhores feudais, nazi-facistas) passamos por cima do pensamento e seus corpos. Mentalidade muito bem representada em nossa região, um dos grandes redutos dos coronéis. Se o falecido e grande usineiro Heli Ribeiro Gomes foi capaz de se coadunar com esses urubus anencéfalos não podemos afirmar. Porém os indícios tem lógica. Até porque os bóias frias não eram tratados como trabalhadores ou eu estaria enganado? Podemos imaginar que assim como a cana gente descatável também pode ser incinerada. Abs.

Anônimo disse...

Anônimo acima, bem se vê que o Sr NÂO conheceu HELI RIBEIRO GOMES!
Sr Heli,onde estiver, a mnha GRATIDÃO!

Anônimo disse...

Anônimo acima, bem se vê que o Sr NÂO conheceu HELI RIBEIRO GOMES!
Sr Heli,onde estiver, a mnha GRATIDÃO!

Anônimo disse...

a tá!Agora é de Cristo? Quem sabe não foi esse Claudio quem colocou Cristo na cru? sei não. isso me parece missa encomendada!

Anônimo disse...

a tá!Agora é de Cristo? Quem sabe não foi esse Claudio quem colocou Cristo na cru? sei não. isso me parece missa encomendada!

Roberto Torres disse...

Esse cláudio guerra presta um servico à nacao. Este livro vai ser um marco. Depois dele a milicada vai, cedo ou tarde, perder a escora da lei da anistia.

O anonimo das 7:10 deve ta se borrando.

Roberto Torres disse...

Em tempo:

Milicada só nao. A comissao da verdade e o MP vao provar como se tratou de uma ditadura civico-militar. Quero ver é quando as outras empresas e famílias de "honra", com participacao mais do que ativa em mortes e torturas, tiverem seu passado revelado.

Eta hora boa de volta ao meu Brasil!!!

Anônimo disse...

Parabéns, Sr. Roberto pela coragem de expor os fatos.
Quantos outros inocentes não tiveram suas mortes decretadas em gabinetes fechados.
Almas sofridas e parentes entristecidos.
A Comissão da Verdade e o Ministério Público Federal têm a obrigação de apurar.

CARLOS RIBEIRO disse...

O modus Operand praticado nesse vergonhoso holocuasto, em nossa cidade, abre uma pergunta, a de que provavelmente , a CSN(Companhia siderurgica Nacional) de Volta Redonda, à época desses fatos, uma empresa genuninamente estatal, com seus altos-fornos, detentores de temperatura bem superior as caldeiras das usinas de açúcar, provavelmente também poderia ter sido usada para esses fim.
Só o tempo dirá, mas se os mlitares, procuraram uma usina do interior,para cometer tais crimes, a CSN, também serviria ao mesmo objetivo e com a vantagem, que era administrada por esses militares,devido a questões de segurança e soberania nacional, alibi dos próprios militares da época.

Anônimo disse...

Chumbo grosso no rabo dos comunas safados.

Anônimo disse...

Se os torturadores de comunas devem ser presos, os comunas que estão aí, travestidos de "trabalhadores", deveriam ser execrados da sociadede brasileira. Exemplos: Dilma, Zé Dirceu, Paloci, Delúbio, Zé Genoíno, entre outros petistas safados que comem a grana do povo brasileiro e que um dia, bancaram os comunas "bonszinhos". Vão se danar !

ALDA RIBEIRO GOMES DE MIRANDA disse...

A ARMA DOS INCOMPETENTES É A CALUNIA

ALDA RIBEIRO GOMES DE MIRANDA disse...

A ARMA DOS INCOMPETENTES É A CALUNIA

Anônimo disse...

E o Cativeiro dessas vítimas em Campos, onde era??
Houve colaboração de funcionários da Caldeira da Usina(que sempre tinha alguém de plantão).
Muitos ex-funcionários, inclusive da Caldeira, ainda vivem(é só pesquisar na Documentação de Registro de Empregados, que devem estar arquivados no Sindicato da classe).

Célio Marins disse...

Eu acredito na transformação de vida deste Homem, Jesus pode mudar sim e ele tem poder para isto, o que ele fez ja pagou diante da Justiça,pior foram aqueles que morreram sem se arrepender de ter feito tanta atrocidade com seu proximo.

Anônimo disse...

Então, basta alguém falar isso e aquilo e pronto? A verdade está na simples afirmação? Nâo defendo a ditadura nem os criminosos que cometeram atrocidades acolhidos seja pela chamada direita seja pela escória esquerdista, mas não posso aceitar como certa e real uma afirmação que ainda não se mostrou digna de qualquer respeito.

Anônimo disse...

Só faltava essa...

Vai sobrar para os empregados da usina, os da caldeira?

Anônimo disse...

Tudo indica que algo de muito podre há nessa história.Que venha a verdade!Tânia Vasconcelos

Anônimo disse...

E ISSO AI CAMPISTAS, UM SE ARREPENDEU EM VIDA E SE CONVERTEU
PARA SALVAR SUA ALMA E O OUTRODO "BONZINHO', DEVE ESTAR ABASTECENDO A USINA DO CAPETA.