A professora e doutora em Planejamento Urbano
e Regional (IPPUR/UFRJ) Maria Isabel de Jesus Chrysostomo em seu trabalho de pós-doutoramento, produziu o artigo “Campos: a capital sonhada de uma província
desejada (1835-1897)" na École de Hautes Études em Paris.
Lá, a professora Chrysostomo apresentou e discutiu: "as tentativas de Campos dos Goytacazes/RJ em se tornar uma capital política, dando destaque a três movimentos que correspondem, simultaneamente, a três momentos: o primeiro, desenvolvido num tempo longo correspondeu o da construção das imagens e representações que serviram de mote para a elaboração dos projetos de capital no século XIX; o segundo no ano de 1855, quando se esboçou um projeto de criação da província dos Goytacazes e, finalmente, o terceiro em 1890, quando Campos reivindica ser a nova capital do então Estado do Rio de Janeiro. Assim, acredita-se que os motivos que levaram recorrentemente a cidade de Campos a lutar pela mudança do seu estatuto administrativo, estejam associados aos mecanismos empregados pelas elites locais para construir uma imagem de lugar central. Neste aspecto, coloca-se em discussão que o projeto de se tornar capital constituiu-se em uma das estratégias dos atores locais para expandir a sua influência política a partir do controle do “chão”. Um movimento que forjou novas espacialidades, utilizando-se, via de regra, um discurso que associava o tema desenvolvimento ao de integração regional. Portanto, considero que o desejo de Campos se tornar uma capital refletia a ideia de domínio político desta localidade sobre as demais em função da concentração de poder político e administrativo desta cidade.”
Lá, a professora Chrysostomo apresentou e discutiu: "as tentativas de Campos dos Goytacazes/RJ em se tornar uma capital política, dando destaque a três movimentos que correspondem, simultaneamente, a três momentos: o primeiro, desenvolvido num tempo longo correspondeu o da construção das imagens e representações que serviram de mote para a elaboração dos projetos de capital no século XIX; o segundo no ano de 1855, quando se esboçou um projeto de criação da província dos Goytacazes e, finalmente, o terceiro em 1890, quando Campos reivindica ser a nova capital do então Estado do Rio de Janeiro. Assim, acredita-se que os motivos que levaram recorrentemente a cidade de Campos a lutar pela mudança do seu estatuto administrativo, estejam associados aos mecanismos empregados pelas elites locais para construir uma imagem de lugar central. Neste aspecto, coloca-se em discussão que o projeto de se tornar capital constituiu-se em uma das estratégias dos atores locais para expandir a sua influência política a partir do controle do “chão”. Um movimento que forjou novas espacialidades, utilizando-se, via de regra, um discurso que associava o tema desenvolvimento ao de integração regional. Portanto, considero que o desejo de Campos se tornar uma capital refletia a ideia de domínio político desta localidade sobre as demais em função da concentração de poder político e administrativo desta cidade.”
Entre
diversas outras fontes de seu trabalho a autora destaca:
Do
jornal A Pátria em 1855:
- “A cidade de Campos está, se não mais adiantada em commercio e civilisação, ao menos a par da cidade de Nictheroy. O commercio ali é feito em grande escala, e crescedissimo, e a industria, mais do que em Nictheroi se tem desenvolvido, Ella tem a vantagem de se não achar a um tiro de distancia da capital. (A PATRIA,5/08/1855, p.2).”
- Sobre o assunto na época o senador João José Carneiro da Silva fez o seguinte comentário em “Noticia Descriptiva do Município de Macahé” ressaltava a riqueza da região e, acerca da criação desta província:
“A criação da provincia de Campos e o
estabelecimento do commercio directo do porto de Macahé - são os dous pontos
objectivos a que tendem todos os espíritos que se ocupam com os interesses
geraes desta importante e auspiciosa zona. Toda esta região foi outr’ora
conhecida de campos dos Goytacazes e é portanto de justiça que o nome da nova
provincia recorde estes tempos primitivos. Assim também Campos pela sua posição
central, pela importancia do seu atual movimento commercial e agricola, está no
direito de aspirar a ser a capital da nova provincia. Macahé, pelo seu porto,
já bom e susceptível de ser ainda optimo, e por achar-se no ponto onde vêm affluir todas as vias férreas
existentes e projectadas, está predestinada a ser o empório commercial e
manufatureiro da nova provincia. Esta nova provincia, tendo em attenção os
laços hoje criados pela sede das estradas de ferro, devia abranger os
municipios de Macahe, Santa Maria Magdalena, São Fidelis, Campos, São João da
Barra e Barra de São João. E além disso essa parte da provincia de Minas que há
de ser influenciada pelas estradas. (RODRIGUES, 1988; apud, 1833,
p.91-93).”
Abaixo o mapa que se propunha para a província:
Fonte: “Campos: a capital sonhada de uma província
desejada (1835-1897)” de autoria de Maria Isabel de Jesus Chrysostomo, professora
adjunta de Geografia da Universidade Federal de Viçosa, mestre e doutora em
Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ). Texto foi elaborado no âmbito do
desenvolvimento do pós-doutorado na École de Hautes Études, com o apoio
financeiro da CAPES e publicado na revista História (São Paulo), vol. 30 nº1,
p.56-89, 2011. ISSN 1980-4369.
PS.: Atualizado às 18:20: Ainda sobre o assunto o blog recebeu da professora Maria Amélia Boynard:
In: BOYNARD, Maria Amelia de Almeida Pinto. A
ESCOLA MODELO ANEXA À ESCOLA NORMAL DE CAMPOS: a experiência da “Seis de Março”
(1916-1932). Dissertação de Mestrado. UFF. Niterói, 2006."
PS.: Atualizado às 18:20: Ainda sobre o assunto o blog recebeu da professora Maria Amélia Boynard:
"Boa tarde, Roberto
Ao ler, em seu blog,
anotações sobre um trabalho de doutoramento que cita, dentre outros, o
fato de se haver cogitado ser Campos a capital do Estado, no XIX, aqui
vai mais uma contribuição. É trecho de um capítulo (que trata da criação
da Escola Normal de Campos) de minha dissertação de Mestrado defendida
em 2006, na UFF-Niterói. Escrevi sobre a Escola Modelo Seis de Março,
escola de aplicação da Escola Normal de Campos que funcionou, no prédio
do Liceu, de 1916 a 1932 e se transformou no G.E. João Pessoa. A fonte
citada está no Arquivo Histórico do Liceu.
Atenciosamente,
Maria Amelia."
“Num contexto nacional
de grandes mudanças, no qual a sociedade brasileira convivia com a introdução
de novas tecnologias, crescimento industrial e demográfico, crescente processo
de urbanização e alteração nos padrões de poder, a região norte fluminense e a
cidade de Campos, tradicional na produção de açúcar, café e pecuária sentiram
essas alterações de modo profundo. A uma oligarquia de fazendeiros e senhores
de engenho veio se juntar, entre 1870 e 1900, uma nova elite, formada
principalmente, por intelectuais, jornalistas, comerciantes, imigrantes,
profissionais liberais, políticos (FARIA, 2001, p.790).
Foram o espírito
progressista e a força combativa desses últimos grupos, muitos dos quais
pertencentes à maçonaria- instituição da qual tomava parte a maioria de
representantes da política, comércio e intelectualidade local- os responsáveis
pela contribuição, reconhecida nacionalmente, da região campista aos movimentos
republicano e abolicionista.
Desse modo, ao
considerarmos ter sido a criação do Liceu de Humanidades de Campos o resultado
de um projeto de formação de elites intelectuais desde fins do século XIX, a
criação da Escola Normal a ele anexa, pode ser compreendida como um projeto de
formação de professores no interior desse projeto maior de uma fração
oligárquica de Campos, que, além de pensar em formar elites intelectuais que
elevassem a região na política estadual e nacional, tinha o objetivo de transformar a cidade de Campos na
capital da Província do Rio de Janeiro. Esse desejo está manifesto no Relatório
escrito, em maio de 1924, pelo Diretor do Liceu e Escola Normal de Campos,
Sebastião Viveiros de Vasconcellos , quando descreve o prédio do
Liceu
Funcciona o Lyceu de
Campos, inaugurado em 4 de março de 1884 sendo então presidente da Provincia
Dr. José Leandro de Godoy e Benevides, no antigo palacete do Barão da Lagoa
Dourada, proprio municipal, adquirido, em hasta publica, por um grupo de
campistas, para o fim prefixado de ser nelle installado o Lyceu de Campos, ou
servir de residencia do presidente, quando fosse esta cidade a capital da então
Província [...] (VASCONCELLOS, 1924).”
3 comentários:
Já pensou?? Os garotinhos governando um estadão destes???
Roberto. A título de contribuição e em respeito à história devo dizer que o Diretor Sebastião Viveiros de Vasconcellos se equivoca, em parte, quanto ao nome do Presidente da Província à época em que nosso Liceu de Humanidades foi inaugurado (1884). Ele se chamava Dr. José Leandro de Godoy e Vasconcellos.
Atenciosamente,
Véra Passos (liceísta)
Roberto. A título de contribuição e em respeito à história devo dizer que o Diretor Sebastião Viveiros de Vasconcellos se equivoca, em parte, quanto ao nome do Presidente da Província à época em que nosso Liceu de Humanidades foi inaugurado (1884). Ele se chamava Dr. José Leandro de Godoy e Vasconcellos.
Atenciosamente,
Véra Passos (liceísta)
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