A convite da diretoria estive na manhã desta quinta-feira, na delegacia
sindical de Campos do Sindipetro NF para desenvolver um tema dentro do curso para
formação de membros da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes)
promovido pelo Sindipetro-NF.
O objetivo do curso é o de capacitar os cipistas (ou cipeiros) para atuar na
comissão com foco na visão dos trabalhadores sobre a segurança e saúde do
trabalhador.
Interessante a iniciativa da categoria em aprofundar o entendimento do
assunto com vistas a cada vez mais repartir com o empregador as decisões no
ambiente de trabalho.
Na minha ótica, eu sempre defendi que não há como ter uma boa gestão em SMS
(Segurança, Meio Ambiente e Saúde) sem a participação direta e qualificada dos
trabalhadores.
Desta forma é importante que estes trabalhadores usem o seu saber técnico de suas áreas
específicas, para ajudar a planejar as ações que garantam o trabalho seguro e
intervenham na Cipa, e em outros canais dentro e fora da empresa para mudar o
que estiver errado.
Melhor ainda é enxergar o cenário de crescimento econômico do país, do nosso
estado e do setor de petróleo para entender, que se vive no presente, um
momento importante para se garantir melhorias nas condições de trabalho, nos
planos de salários diretos e indiretos, numa nova regulamentação do trabalho
offshore, em formas justas de contratações, na realização de concursos, na
implantação e planejamento de novas tecnologias, enfim na gestão da produção,
que antes de ser um direito do trabalhador é a forma mais inteligente de uma
empresa que é da sociedade brasileira, avançar em sua missão.
Não há como fazer isto bem feito sem ouvir e sem ter a participação do
trabalhador, que não pode ser vista como uma peça de reposição e nem como instrumento de acumulação de
riquezas, mesmo que seja para todo o povo brasileiro.
O maior economista brasileiro Celso Furtado já nos ensinou lá atrás, que crescimento econômico é diferente de desenvolvimento, porque este último pressupõe o desenvolvimento social para além da criação da riqueza, que vista sob o ângulo da economia pode apenas significar acumulação capitalista, mesmo que sob o controle e a gestão do estado.
Este foi o enfoque que usei num interessante bate-papo, em que mais uma vez,
antes de palestrar, eu aprendi. Já tinha sido assim na década de 90 quando
desenvolvi minha dissertação na Coppe/UFRJ, sobre “O Trabalho Offsshore”.
Tentar juntar as peças do tema "Desenvolvimento Regional, Trabalho
Offshore e a política de SMS sob a ótica do trabalhador" foi mais fácil
para um grupo qualificado como o que vi no curso. Eles têm muito o que falar,
ensinar, interferir e participar da gestão sobre produção, sobre o uso e implantação
de novas tecnologias (como do bombeio multifásico e da automação – SBMS, CCO,
etc.), sobre os problemas dos projetos, da operação e da manutenção das
plataformas, dos riscos da terceirização, dos problemas de saúde dos
trabalhadores e dos riscos de acidentes de trabalho e da forma como estão
atuando para impedir novas ocorrências.
É pueril, limitante e ideologicamente covarde desejar que a gestão de toda a produção seja completamente feita prescindindo dos trabalhadores.
A consciência de classe por parte dos trabalhadores pode e deveria ser usada,
para a construção de um diálogo e de uma negociação, num nível que permitisse
melhores resultados, neste momento único da economia brasileira, em que vivemos o
início da entrada em produção da camada pré-sal e de novos ativos da cadeia
produtiva do óleo e do gás em nosso país.
Estes, a quem há muito identifico como os Heróis do Petróleo, merecem mais
espaço para uma atuação mais ampla e inteligente. Novas gerações de trabalhadores
do setor estão sendo incorporados às suas funções sem uma maior e mais qualificada fase de transição, com aqueles que detêm, antes das máquinas e dos sistemas automatizados,
o saber fazer real do cotidiano do chamado chão-de-fábrica.
Tudo isto no exercício de um trabalho (offshore) tão distinto dos demais, quanto o fato
de ser exercido longe do convívio da sociedade, em ambiente confinado em alto
mar, que para uns lembra o lazer, as férias e a aventura e para estes
trabalhadores tem representado o desafio de superar o perigo, a ansiedade e as
síndromes, em troca do trabalho que os remunera, porém, mais que isto, permite
que nosso país, estados e os municípios lucrem e avancem muito para além dos
conhecidos royalties do petróleo.
Agradeço a oportunidade em rever o tema e voltar a ter contato com uma categoria
que nunca perdeu de vista a importância da construção e manutenção da visão de
classe. Sigamos em frente!
PS.: Atualizado e ampliado às 16:52.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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2 comentários:
Prof. é um absurdo o que acontece nesta cidade. Hoje interditaram a ponte da lapa a tarde para um recapeamento asfáltico na ponte. O trânsito da cidade parou. A ponte de Rosinha ficou engarrafada, a General Dutra virou um caos... Por que uma obra dessa não é feita depois do horário de pico no período da noite? E irão interditar amanhã novamente! Isso é um absurdo! Isso é um crime!
Professor, tive o prazer de estar na platéia hoje e concordo que o SMS sem a visão dos trabalhadores não agrega valor nem tão pouco traz qualquer ganho a categoria. Como cipista só tenho a agradecer ao senhor, aos demais palestrantes e ao Sindipetro-NF.
A luta sempre continua.
Léo Ferreira.
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