O deputado Garotinho fez, nesta quarta, em seu blog, uma comparação sobre os gastos per capita na área de saúde entre os municípios de Campos e a capital, o Rio de Janeiro, com o objetivo de tentar mais uma vez tirar dividendos políticos no debate eleitoral carioca.
O blog já mostrou neste espaço que aquilo que Garotinho propõe para o município do Rio de Janeiro, ele e seu grupo político não cumprem aqui em Campos. Assim foi na área de saneamento, em que temos tarifas mais caras e com a cobrança da taxa de iluminação pública que implantou em Campos e defende acabar na capital.
Assim, hoje, o deputado mostrou aqui no seu blog que o município de Campos dos Goytacazes gastou R$ 1.057,89 com saúde por habitante em 2011, ou R$ 2,89 por dia contra R$ 466,58 per capita, ou R$ 1,27 por dia da capital a cidade do Rio de Janeiro.
Os dados não estão errados, porém a comparação é equivocada, porque cidades com mais população, não conseguem manter este nível de investimentos por pessoa de cidades com menor densidade populacional.
Além disso, as capitais, dispõem de equipamentos públicos de saúde que são mantidos e geridos pelo estado, como as UPAs, e outras que são bancadas pelo governo estadual e mesmo, pelo federal, como o Hospital Universitário da UFRJ, no Fundão, além de muitos outros.
A explicação aqui não tem a intenção de defender o prefeito Eduardo Paes e nem permite interpretar que a capital do Rio, não precise de mais investimentos em saúde, e não apenas por conta da Copa ou das Olimpíadas, como ele se referiu, mas apara atender e servir melhor o povo do município do Rio de Janeiro.
Desta forma, fui observar os dados de outras capitais, na mesma base de dados citada na nota, o Siops, do Anuário Finanças dos Municípios Fluminenses, produzido pela Editora Aequus.
Lá identificamos no Anuário 2011, com dados de 2010, que São Paulo tem um gasto per capita em Saúde de R$ 462; Curitiba de R$ 486, Florianópolis de R$ 423, além de muitas outras que são consideradas com boa qualidade de vida.
Se fosse para usar a mesma métrica do deputado, veríamos que Campos está perdendo para Quissamã que tem o maior gasto per capita entre todos os municípios brasileiros, com R$ 1.992; Búzios com R$ 1.810; Carapebus com R$ 1.051; São João da Barra com R$ 1.039; Macaé com R$ 986 (para ficar só com os municípios de nossa região), enquanto, em 2010, Campos investiu o valor de R$ 954.
Antes de concluir é interessante ainda lembrar que o a qualidade do atendimento em saúde pública necessariamente, não tem relação direta com o gasto realizado na área.
Campos gasta quase ½ bilhão em saúde, um valor que percentualmente se manteve em relação ao orçamento total nos últimos anos, e que é seis vezes mais do que o que se gastava há uma década. Neste raciocínio, a pergunta que se deve fazer ao cidadão, é se ele acha que a qualidade do atendimento na saúde pública hoje é também seis vezes melhor do que há dez anos.
O presente caso serve mais uma vez para o leitor observar como se tenta trabalhar com dados estatísticos produzindo interpretações equivocadas para iludir a população.
No rádio isto até é possível porque sem recursos ninguém tem acesso a estas mídias, mas aqui na internet isto é impossível, porque, os blogs e as redes sociais permitem fazer o contraponto e esclarecer as pessoas.
O presente caso só não é pior do que a recente situação da nota do Ideb, em que se tentou comemorar como positivo, o fato do município de Campos dos Goytacazes ter tido a pior nota entre todos os municípios fluminenses.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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3 comentários:
Roberto,
Não custa lembrar alguns gastos com saúde sem preocupação com a eficiência: aluguel milionário de ambulâncias (objeto de ação civil pública proposta pelo MP), licença milionária de uso de software de gerenciamento, superfaturamento de leite etc.
Roberto a maior parte dos gastos com as escolas não seria do Governo do Estado? Já que a maioria das escolas são estaduais e não municipais. E já faz algum tempo tb que o estado não faz nenhuma nova escola estadual aqui em nosso municipio, nossa população cresce e nossa escolas cada vez tem menas vagas. Me corrija se eu estiver errado.
Caro Guilherme,
Você está equivocado com relação às escolas. Quase todas as escolas até 8ª série, Ensino Fundamental que eram do estado, foram passadas para o município. Está acontecendo desta forma há tempo. Ficando ao estado a responsabilidade pelo Ensino Médio, aliás, como define a Constituição.
A nota trata da questão da Saúde, cujo financiamento é diverso do da Educação.
Sobre as responsabilidades do estado na Educação há muitas coisa a ser feita tanto nas atuais como futuras escolas de ensino médio e também na educação profissional e tecnológica que no estado é de responsabilidade da Faetec.
Há sim muita coisa a ser feita.
Finalizo repetindo, a nota é mostrar como a informação e comparação do deputado é estapafúrdia.
Sds.
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