quinta-feira, outubro 11, 2012

"Clientelismo transclassista: um fantástico aparato em Campos"

O artigo postado pelo José Geraldo, candidato do PRP a prefeito, na eleição de prefeito do último domingo, aqui no blog, suscitou vários e interessantes comentários que valem ser conferidos.

Eles reafirmam o que sempre defendemos: a importância do debate de ideias, do confronto de nossas opiniões e da validade da construção coletiva, num processo permanente e criativo.

Para ver a postagem e todos os comentários clique aqui. Abaixo o blog reproduz parte do comentário do professor George Coutinho:

"Não atinge a totalidade dos indivíduos evidentemente. O que explica os 30% dos votos válidos "descontentes". E nem eu tenho absoluta clareza se os interesses do grupo de "descontentes" é tão diametralmente diverso dos interesses dos "ajustados".. caberia pesquisa aí...Mas, maniqueísmos ou presunção de superioridade moral??? NÃO! Ao menos não para a totalidade dos 30%.

Prosseguindo, este clientelismo transclassista gera laços de dependência inegáveis que vão desde o empresariado até as camadas subalternas. Portanto, a tese dos interesses é válida: agrupamentos sociais pagam suas contas diárias a partir da concessão de favores, trânsito com os grupos de poder local e acordos que invariavelmente transgridem qualquer princípio de "bom governo". A máquina do poder e dos royalties para o núcleo orgânico dos eleitores de Rosinha nesta eleição é tão somente uma via de garantia de sobrevivência material no curto prazo. São keynesianos sem saberem: no longo prazo estaremos todos mortos. Me parece que no médio também. Neste sentido, preocupar-se com as futuras gerações não passa no rol sequer da última das prioridades. A prioridade, no caso da classe A enredada por esta rede clientelista, é pagar as taxas condominiais, IPVA de seus carros importados emplacados no ES, etc..

Por fim, em virtude dos meus argumentos, acho que é um tanto ingênuo apostar que há uma percepção positiva objetiva sobre a qualidade da administração local. Justamente a dependência material diretamente vinculada aos designios de grupo de mandatários no poder impede qualquer avaliação objetiva sobre qualquer coisa. Em suma, os partidários verão as obras do canal Campos-Macaé como "lindas", o trânsito "normal", o baixo índice do IDEB como responsabilidade das crianças, etc.."

8 comentários:

Gustavo disse...

Como sempre, meu amigo George Gomes colocou muito bem a realidade da Rica cidade de Campos. O clientelismo hoje não é apenas em uma classe social, atinge todas. O prefeito de verdade da cidade conseguiu uma forma de manter a quase todos em sua rede, um verdadeiro "networking do mal", afinal, quem ai não conhece pelo menos alguém que viva direta ou indiretamente do poder público municipal?

O questionamento que faço é: como solucionar?

Para mim só existem três opções:

1 - Acabar com os Royalties ou diminui-los. Desta forma não haveria como sustentar a rede de influencia, e apesar do choque financeiro, acredito sim que a cidade sobreviveria. De inicio a quebradeira seria grande, pois as empresas locais estão acostumadas com o "dinheiro facil" e com isso a não necessidade de um padrão de qualidade mínimo. Mas com o tempo sobreviveriam os melhores.

2 - Capital privado. Essa opção eu acho ainda mais dificil de ocorrer do que a 1a. Mas supondo que mais e mais empresas se instalem na região para atender as necessidades do porto do açu, Petrobras (lembrem-se, estamos a apenas 100km de Macaé e não aproveitamos o fato), complexo de barra do furado (se um dia existir), etc, e menos do poder publico local, a rede seria desfeita aos poucos. Novamente, não acredito muito nessa opção pois ja escutei de "empresarios" locais que preferem atender as prefeituras da região do que a Petrobras ou qualquer outra empresa privada (lembrem-se, para entrar nesses mercados existe o tal "padrão Petrobras" inexistente nas prefeituras).

3 - A combinação das duas anteriores.

Enfim, essa é apenas a opnião de um leigo, e este é um tema complexo, ao qual a cidade terá mais 4 anos para pensar.

No mais, parabéns ao blog pela cobertura das eleições, foi através desta que fiquei sabendo como andavam as coisas por Campos nesse ultimo domingo.

abs
Gustavo Pessanha

Anônimo disse...

Um amigo, Roberto Moll, colocou no facebook a seguinte análise: "a política só faz aumentar a pobreza e a pobreza alimenta certo tipo de política."

É bem por aí, né?

E genial a observação da Prof Adriana Facina:
"Sei que muita gente está triste, pq não chegamos no segundo turno. Sobretudo aquela rapaziada que estreou agora na militância, nessa campanha tão bonita e inspirada. Para esses eu queria dizer algumas palavras. Em primeiro lugar, não acreditem que a reeleição do Paes é fruto da burrice ou da alienação,ou mesmo da ignorância do povo. Nosso povo é sofrido e vota com o pragmatismo daqueles que matam um leão por dia pra sobreviver e dar de comer aos seus. Claro que existem os oportunistas, mas são minoria. A desigualdade do tempo de TV, a campanha nojenta da mídia corporativa e antidemocrática, os rios de dinheiros fornecidos por empreiteiras e empresas de transporte tudo isso conta. Mas conta mais o dinheiro no bolso, a promessa de emprego, as expectativas de oportunidades de vida. Essa pauta é mais relevante do que a das milícias ou da ética na política, por exemplo. E há uma lógica nisso que temos de reconhecer e dialogar com ela. Pensem em Gramsci nos cárceres do fascismo, tentando entender a derrota comunista e, mesmo naquelas condições dramáticas, se recusando a dar respostas fáceis e elitistas. O comunista italiano, naquelas condições, afirmava o núcleo de bom senso do senso comum e trazia a máxima radical: todos são intelectuais.
Esse povo que hoje reelegeu o Pae$ é o povo com que faremos a revolução e não outro. É com ele que aprenderemos, é com ele que dialogaremos. Estamos em processo, na luta e com humildade tentando aprender com nossas derrotas. Como diz o grande pensador Carlos Walter Porto Gonçalves, o dia em que conseguirmos nos comunicar com aquelas subjetividades que se entristecem no domingo pq a segunda está próxima, marcando um novo ciclo de exploração do trabalho e de vida sem sentido, faremos a revolução.
Luta que segue. Temos agora a primavera nos dentes. Nada poderá detê-la."

Anônimo disse...

Realmente, o que vem ocorrendo é um clientelismo transclassista.

Mas por que o clientelismo prospera?

Porque a maior parte do povo é ingênuo sim.

É ingênuo porque age de forma imediatista. Visando seus interesses particulares.

Mas, ao proceder assim, a população está sendo ignorante, pois está agindo de forma a perpetuar os governantes que o exploram e se aproveitam disto para enriquecer e para viabilizar seus projetos de poder pelo poder.

Na verdade, aceita-se uma espécie de “rouba mais faz”.

Apenas a minoria da população vota de forma ideológica. E votar ideologicamente é não aceitar corrupção e desvios. Mesmo que o governo esteja fazendo alguma coisa, se o orçamento é malversado, o povo deveria votar contra, pois ele está sendo prejudicado.

Aceitar desvios em troca de interesses particulares imediatos é ser inteligente? Acho que não.

Não é inteligente nem para os mais necessitados e muito menos para os de classe mais altas. Estes, de classe mais alta, inclusive se comportam como espertalhões, elegendo conscientemente os governantes que merecem.

Na realidade, o clientelismo transclassista impera porque a maior parte da população é ingênua sim. Pensa que está levando vantagem, mais vai perder muito mais lá na frente. E os políticos aproveitadores e espertalhões sabem disso.

Ganha o político que consegue mais “clientes”, mais pessoas dependentes, mais pessoas submissas.

Anônimo disse...

Realmente, o que vem ocorrendo é um clientelismo transclassista.

Mas por que o clientelismo prospera?

Porque a maior parte do povo é ingênuo sim.

É ingênuo porque age de forma imediatista. Visando seus interesses particulares.

Mas, ao proceder assim, a população está sendo ignorante, pois está agindo de forma a perpetuar os governantes que o exploram e se aproveitam disto para enriquecer e para viabilizar seus projetos de poder pelo poder.

Na verdade, aceita-se uma espécie de “rouba mas faz”.

Apenas a minoria da população vota de forma ideológica. E votar ideologicamente é não aceitar corrupção e desvios. Mesmo que o governo esteja fazendo alguma coisa, se o orçamento é malversado, o povo deveria votar contra, pois ele está sendo prejudicado.

Aceitar desvios em troca de interesses particulares imediatos é ser inteligente? Acho que não.

Não é inteligente nem para os mais necessitados e muito menos para os de classe mais altas. Estes, de classe mais alta, inclusive se comportam como espertalhões, elegendo conscientemente os governantes que merecem.

Na realidade, o clientelismo transclassista impera porque a maior parte da população é ingênua sim. Pensa que está levando vantagem, mas vai perder muito mais lá na frente. E os políticos aproveitadores e espertalhões sabem disso.

Ganha o político que consegue mais “clientes”, mais pessoas dependentes, mais pessoas submissas.

douglas da mata disse...

George, Roberto e Gustavo: o "futuro é opaco".

Estive fora dois dias, e o debate bombou.

Meus rasos e esfarrapados pitacos:

O "barato é louco e o processo é lento"(Racionais MCs).

Veja que com as opiniões luxuosas de Gustavo e George, ainda temos a falsa dicotomia: honestidade X política, ou: "consciência cívica" ou clientelismo.

Eu não vou polemizar com a nova bandinha da UDN, representada em políticos como o zé geraldo, ou de forma mais "genuína" no herdeiro do clã diniz, e alguns tantos comentaristas por aqui.

Até porque, pelo que vi, o debate com este pessoal é conversa entre "surdos".

O zé é um caso clássico, um "case"(nem sei se o termo é este, rs) como diriam os acadêmicos: Pautou sua atividade empresarial à sombra das verbas públicas, e por desilusão, muda de tom e ataca aquilo que não mais lhe "alimenta".

Se quantificarmos a adesão ao seu "projeto político", revelaremos o quanto "pragmático", ou clientelista são seus pares empresários: como a larga maioria está locupletada no orçamento, zé ficou com 2% do eleitorado.

Seu sucesso depende da extensão do descontentamento dos "clientes de cima", que se fossem privados "das tetas", poderiam inflar o alcance de suas "propostas"(nada mais que um rol de reclamações e slogans semi-éticos)e garantir algum apoio para que fale ao "grosso" da população. Mas esta variável é quase nula, hoje.

Lembram dos tijolos nas casas populares: pois é, uma "liderança" recém-eleita disse que não há tijolos locais nas casas, mas o presidente do sindicato do setor diz que sim. Como disseram o George e Gustavo, o cliente diz: amém, o não-cliente diz: é feio, mas eu quero também.

Continua em outro comentário...

douglas da mata disse...

continuação do outro comentário:

A formulação política da maioria de nós obedece a seguinte lógica: trabalhar com os limites que a realidade nos impõe e fazer as escolhas que garantam satisfação das demandas imediatas, como bem disse o George.

Ou, de outro modo, tentar enxergar o futuro(sempre opaco)para colocar nesta expectativa alguma "poupança política".

Podemos dividir as pessoas em grupos que priorizam mais a primeira alternativa, outros que priorizam a segunda, outros tantos que misturam as duas.

Mas não nos é possível determinar (até que alguém estude isto) a qualidade exata do voto e da ação política, e nem fixar rigorosamente um corte de classe dentro destas variáveis, ou seja: se os ricos e remediados votam pensando no futuro e no bem de todos, se os pobres o fazem, ou ao contrário, se todos votam na troca simples de interesses.

Até porque, o bicho humano aprendeu a querer sem limites, então é muito difícil quantificar a satisfação de uma pessoa ou uma classe de pessoas, e o quanto esta satisfação maior ou menor influencia o que espera de um prefeito, governador ou presidente.

Na minha opinião rasa e esfarrapada, erramos feio quando buscamos "determinar" estes cortes, se buscarmos esta estratificação apenas para cumprir a necessidade de CLASSIFICAR o outro para justificar o fracasso de todos, ou de pelo menos, os que imaginam terem fracassado nas eleições, ou ainda, que o processo democrático é ruim porque o resultado não agrada.

Deste modo, com esta atitude, ao invés de agregarmos o tecido social, rasgamos sua trama, e conferimos aos que detêm a hegemonia sobre a agenda política, o poder de ditar o rumo final na política, pelo isolamento das classes majoritárias daqueles que dizem portar "a esperança de um futuro melhor".

O que temos que fazer é costurar as duas perspectivas: a satisfação de demandas imediatas, todas legítimas, mas desde que processadas dentro do campo do DIREITO UNIVERSAL e não dos "privilégios", com aquelas propostas que buscam planejar estrategicamente os recursos disponíveis.

Este é o mote, e difícil de ser alcançado enquanto candidatos, comentaristas ou setores da política local, se imaginarem "iluminados" e "iluministas", detentores do fogo sagrado do "saber político, da virtude e da fortuna".

Um forte abraço ao George, Gustavo e Roberto.
Por fim, Gustavo, discordo de você sobre a perspectiva de "redenção" pelo capital privado, embora reconheça que o fortalecimento econômico autônomo (desintoxicação dos roylaties)seja desejável.

O capital privado busca lucro, e não bem estar, mas é possível que um Estado forte, politicamente, e até economicamente, determine como, o quê, quando e por quê este capital atuará, revertendo uma parcela dos ganhos privados em lucro social, diminuindo a desordem e os impactos da atividade econômica privada (grande ou pequena), etc, além dos impostos é claro.

Bom lembrar o "exemplo" da franquia "X" no Açu. Um tremendo "abacaxi" que vai estourar os orçamentos municipais.

George Gomes Coutinho disse...

Caríssimo Douglas,

Antes de qualquer coisa, gostaria de agradecer a generosidade dos seus comentários. Assim como os do Gustavo, meu amigo de “Beatles anos atrás”, e o entusiasmo do Roberto em estimular esta boa discussão. Sou grato a todos, inclusive aos anônimos.
Estou anotando algumas das observações feitas para pensar mais detidamente sobre elas no momento oportuno. Como não é viável pela escassez do tempo, muitas das questões aqui apresentadas certamente não terão resposta por agora... E talvez algumas nunca tenham por apresentar cenários estritamente construídos pela imaginação. Os cenários hipotéticos são bons para o exercício intelectual mas, invariavelmente lidam com o “deserto do real” e não se concretizam.
Na verdade, sendo minimamente cuidadoso, acho que algumas das questões, as factíveis, merecem pesquisa posterior. E acho que é esse o combustível do debate: entender um fenômeno, chegar à melhor descrição possível para, então, pensarmos em soluções. A questão das soluções é algo desejável e as mesmas, evidentemente, só podem ter uma resposta política. Em suma: soluções políticas para problemas políticos. Acho que a judicialização realiza uma tarefa republicana interessante, mas, insuficiente diante da complexidade dos problemas apresentados. Afinal, a judicialização não resolve a grande questão que alimenta o cenário político: a nossa cultura política.
Também entendo que mesmo chegarmos a compreender os “inputs” e “outputs” da nossa cultura política é só metade da tarefa... Mas, acho algo importante para descortinarmos algumas incógnitas da Campos dos Goytacazes na Nova República. Alguns pesquisadores da área tem defendido a necessidade de olharmos com mais atenção para as culturas políticas locais visando, enfim, traçar um retrato mais fiel da vida política brasileira. Até porque, estudos sobre os outros entes federativos (gov. federal, estados...) já ocorrem aos borbotões.

Mas, gostaria apenas de fazer uma ressalva no comentário do Douglas sobre a suposta dualidade “honestidade/política” que estaria como sombra pairando em meu comentário. Na verdade, não acredito neste dualismo. A política, em minha leitura, não está acima e nem abaixo da vida em sociedade. Ela reproduz as virtudes e vícios da própria sociedade como um todo. O que a diferencia, enquanto esfera específica, são suas funções. Gera a síntese de vontades coletivas, invariavelmente resultado do embate de projetos e interesses, e as vincula em ações, fundamentos normativos, políticas públicas, etc.. É uma esfera singular e importantíssima. Mas, não estaria blindada de qualquer comportamento que poderíamos julgar como deletério. Nem a política, nem a religião, nem o amor, nem a produção artística poderiam ser blindadas.... Na verdade o fluxo de valores e disposições humanas são o que são.... E medidas restritivas, se geram algum resultado positivo no curto prazo, muitas das vezes esbarram neste animal criativo que é o ser humano.

Não que eu ache que a busca por medidas restritivas eficazes seja algo inócuo. Porém, como disse, funcionam com “prazo de validade”.

Por fim, devemos ter cuidado esses dualismos, concordando com o Douglas. Em tempos de criminalização da política, o outro lado da medalha da judicialização, não devemos ter a leitura de mundo dos “taxistas” como já disse há pouco tempo o Wanderley Guilherme dos Santos. Não por preconceito com esta categoria, mas, por detectar que boa parte da hermenêutica dos taxistas se situa em representações ultra-conservadoras sobre quase todos os assuntos que dizem respeito ao “bem viver”: criminalização do aborto, pena de morte, drogas tratadas como “assunto de polícia”, “mulher é safada e gosta de apanhar”, etc.. E, claro, a política como representação do inferno na terra onde a mesma é pratica por enviados do Satanás.

Forte abraço a todos,

George

douglas da mata disse...

George,

Só um adendo: meu comentário não aduz que suas colocações estejam impregnadas deste dualismo.

Mas como uma análise, ainda que baseada em hipóteses, da realidade, reproduz esta dualidade que é real, porque colocada pelos atores inseridos nela, ou pelo menos, por uma parte deles.

Eu me referi, então, aos comentaristas, que insistem em enxergar esta dualidade, logo, porque é a representação da realidade que eles têm para fazer política.

Ah, claro, não esqueçamos dos cínicos...mas estes são um caso de 'estudo" e separado, rsrs.