terça-feira, outubro 30, 2012

Pós-eleição paulista

Parte de uma entrevista do Diário de São Paulo, parte de um comentário do jornalista Ricardo Kotsho em em seu blog e um texto sobre a complexa gestão de uma metrópole como a capital paulista, soaram a este blogueiro interessante de para serrem compartilhadas:

Do Diário de São Paulo‘Serra veio até minha casa pedir apoio’

"Maluf afirma que um dos motivos de o tucano ter perdido eleições foi por criticar a aliança com PP"

CRISTINA CHRISTIANO  - O deputado federal Paulo Maluf (PP) disse ontem, em entrevista ao DIÁRIO, que o candidato tucano à Prefeitura, José Serra, perdeu as eleições por ter usado o horário eleitoral para criticar o apoio do Partido Popular ao petista Fernando Haddad. “As pessoas que são devotas a mim e não tinham se ligado dessa aliança foram alertadas”, comentou. Maluf contou que Serra esteve duas vezes em sua casa pedindo apoio, apontou erros cometidos pelo tucano e falou da expectativa no novo prefeito.

DIÁRIO_ Domingo o senhor subiu ao palanque do PT para festejar a vitória de Fernando Haddad junto com pessoas que o hostilizaram no passado. Isso não o deixou constrangido?
PAULO MALUF _ Não. Fui muito bem recebido e abraçado por todos. A mídia estranha porque acha que na classe política não existe ética, mas é ético o Serra ir duas vezes à minha casa pedir apoio e depois criticar a minha aliança com o PT?

Por que o senhor escolheu apoiar Fernando Haddad?
Foi por amor a São Paulo. Estou há 45 anos no mesmo partido porque não imponho o que penso, mas imponho o que meus amigos pensam. Essa escolha foi por coerência. Estamos (PP) muito bem representados no governo pelo ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro. As pessoas ainda se surpreenderam porque o Lula e o Haddad foram à minha casa e a imprensa só percebeu após o almoço, quando abri o portão para anunciar o apoio.

Do Balaio do Kotscho
Perderam para Lula em 2002.
Perderam para Lula em 2006.
Perderam para Lula e Dilma em 2010.
Perderam para Lula e Haddad em 2012.
A aliança contra Lula e o PT montada pelos barões da mídia reunidos no Instituto Millenium sofreu no domingo mais uma severa derrota.
Eles simplesmente não aceitam até hoje que tenham perdido o poder em 2002, quando assumiu um presidente da República fora do seu controle, que não os consultava mais sobre a nomeação do ministro da Fazenda, nem os convidava para saraus no Alvorada.
Sobre a gestão da cidade de São Paulo:

"A busca das saídas para São Paulo"

Autor:
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Tome-se o caso do ex-prefeito José Serra. Foi um belo Ministro da Saúde porque encontrou prontos, no MInistério, diagnósticos, conceitos e planos de ações, esperando apenas o empurrão. E atuou politicamente com coragem e determinação.
Na Prefeitura, sem dispor dessa visão completa que havia na Saúde, e aparentemente abrindo mão de qualquer esforço de aprendizado, Serra nada fez. Foi incapaz de pensar diagnósticos, não atraiu pensadores, gestores e, de olho nas campanhas futuras, flexibilizou o sistema de licenciamento de construção em níveis anteriormente só vistos na gestão Paulo Maluf.
Entrou prefeito e, depois, deixou a Prefeitura, sem entender pontos básicos de administração de metrópoles. A ponto de, tempos atrás, num evento em São Paulo - onde estava presente um economista norte-americano especialista em economia das cidades - criticar os ônibus por "atravancarem" o trânsito.
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Haddad entra com outro pique. Com uma formação mais vasta que Serra, já na montagem do seu plano de governo conseguiu trazer de volta para o PT grupos intelectuais que haviam debandado em função do escândalo do "mensalão". E também toda uma geração de urbanistas que desiludiu-se com a prefeitura depois que ela subordinou as principais decisões urbanísticas aos interesses da indústria imobiliária.
***
Haddad assume com a intenção de retomar as rédeas do plano diretor, mas sabendo que a construção civil é um aliado imprescindível para a melhoria da cidade - desde que a prefeitura defina claramente as prioridades. O descontrole imobiliário, atendendo a temas imediatistas, no final do processo acaba sendo ruim para todos, inclusive para o setor imobiliário.
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Um dos pontos centrais da reforma urbana será o de aproximar os moradores do emprego. Haddad já apontou a política fiscal como indutora para levar mais empresas para as regiões pobres da cidade.
Há outros temas mais complexos, especialmente o da segregação de moradias, que faz com que toda a cadeia produtiva das classes de maior poder aquisitivo - empregados domésticos, prestadores de serviços, empregados de comércio - morem a quilômetros de distância do local de serviço.
Há um enorme espaço de reurbanização em zonas de interesse social nas quais se deverá experimentar a convivência de moradias caras com moradias populares.
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Mas o ponto central de uma administração moderna - enfatizada por Haddad em seu discurso inicial - será promover o diálogo com todas as formas de organização que habitam o microcosmo riquíssimo da metrópole.
Tomem-se as Organizações Sociais (OSs) de saúde. Úteis, sim. Mas, a exemplo do PAS de Paulo Maluf, anunciou-se mas não se implementou a perna principal: dar força aos conselhos de saúde, capazes de fiscalizar não apenas a qualidade dos serviços como os gastos de cada unidade.
A promoção dessa diálogo amplo - com intelectuais, especialistas, organizações populares e empresariais - poderá ser o ponto de partida para o reencontro da metrópole com seus moradores."

5 comentários:

Gustavo Alejandro disse...

Se a mídia perde sistematicamente para Lula, para quê controlá-la?

douglas da mata disse...

Gustavo,

Você não é daqueles midiófilos que são incapazes de enxergar que o controle não é sobre conteúdo, mas sim sobre a estrutura na qual a mídia corporativa nacional foi construída que se baseia no monopólio mitigado com o cruzamento de propriedade.

O que se quer na América Latina, embora cada sociedade enxergue este processo de forma específica(sem linearidade), é mais ou menos "copiar" os países que souberam ampliar liberdade de expressão, sem no entanto confundir este liberdade com a permissão para monopolizar o uso político da informação.

Assim, países como França, EEUU, Reino Unido, Itália (em menor grau), têm regras rígidas para impedir que dois ou três grupos centralizem toda a produção de conteúdo, arrecadem todos os valores do mercado, que sejam a voz única, enfim, que submetam toda diversidade cultural aos seus interesses.

As experiências recentes que tivemos na AL com o "descontrole" sobre a concentração de poder da mídia corporativa é nefasta:

Quando descobrem que o povo está desconectado de sua agenda, buscam saídas anti-democráticas para submeter a vontade popular a esta agenda, ou seja, GOLPE.

O que pretendemos, se é que pretendemos melhorar os aspectos institucionais de nossa Democracia, é evitar isto, ainda mais quando sabemos que a mídia pratica a "liberdade" atada a dependência do dinheiro público.

Um abraço.

Gustavo Alejandro disse...

Douglas, me desculpe, mas seria necessário analisar quais seriam as medidas 'anti concentradoras' ou 'anti monopólicas' que se pretendem adotar para determinar a sua verdadeira finalidade.

Porque, lhe adianto, se o que se pretende fazer aqui é o mesmo que está se fazendo na Argentina, onde o governo percebe o Grupo Clarin como o grande inimigo da pátria, estamos falando simplesmente de manobras para calar a imprensa crítica.

Vamos supor, hipoteticamente, que seja implementada esse "controle da mídia" aqui no Brasil. Como ela afetaria a revista 'Veja' por exemplo?

Considerando que ela não é detentora de uma concessão pública, e nem se pode falar de posição monopólica, dada a diversidade de publicações, qual seria a desculpa para 'regulamentá-la', evitando assim que ela continue sendo 'a voz da direita'?

Qualquer opção que me vem à cabeça me soa a censura.



Gustavo Alejandro disse...

Douglas, me desculpe, mas seria necessário analisar quais seriam as medidas 'anti concentradoras' ou 'anti monopólicas' que se pretendem adotar para determinar a sua verdadeira finalidade.

Porque, lhe adianto, se o que se pretende fazer aqui é o mesmo que está se fazendo na Argentina, onde o governo percebe o Grupo Clarin como o grande inimigo da pátria, estamos falando simplesmente de manobras para calar a imprensa crítica.

Vamos supor, hipoteticamente, que seja implementada esse "controle da mídia" aqui no Brasil. Como ela afetaria a revista 'Veja' por exemplo?

Considerando que ela não é detentora de uma concessão pública, e nem se pode falar de posição monopólica, dada a diversidade de publicações, qual seria a desculpa para 'regulamentá-la', evitando assim que ela continue sendo 'a voz da direita'?

Qualquer opção que me vem à cabeça me soa a censura.



douglas da mata disse...

Gustavo, não domino o tema, portanto, dê o desconto para o que direi:

01- Proibição de propriedade cruzada, ou seja, quem tem jornal e revista, não pode dominar concessões públicas de TV e rádio, não pode ter provedor de internet, e TV a cabo.

02- Dinheiro público não pode continuar a financiar a monopolização da mídia, ou seja, no caso de revistas e jornais, é o dinheiro público que garante a "tiragem" que dá escala ao veículo, e por isto, cobram mais caro aos governos por causa de seu suposto alcance(um círculo vicioso).

03- Tributos: o poder do estado soberano se expressa na tributação, logo, se as "majors" querem nos inundar de conteúdo da indústria cultural de massas, ótimo, desde que financiem com o pagamento de impostos a produção de conteúdo independente e a criação de pontos de cultura.

Em relação ao caso revista "óia", diria que ela mesmo vai de matando aos poucos, mas de todo modo, não dá para tolerar que uma empresa privada receba tanto dinheiro público para caluniar e se imiscuir com o crime organizado.

Punição para os crimes cometidos em nome do "jornalismo" e fim da mamata com dinheiro público.

O conteúdo dela é problema dela. Agora, liberdade editorial significa largar a "teta".

E no mais, discordo de que a mídia local faça "críticas". Não conheço da situação argentina.

Ela se porta como partido político, mas quer a prerrogativa de jornalismo.

Críticas são saudáveis e bem-vindas, e sempre disse isto: o governo carece de críticas para melhorar, pois esta mídia e seus sócios da oposição não dão nem para o cheiro.

Eu não advogo a tese dramática, mas do jeito que andam as coisas, parece que o partido da mídia e seus correligionários jogam na desestabilização institucional para ganhar "no tapetão".

No entanto, com tudo isto, como disse Dilma, prefiro o bate-tambor da mídia odiosa ao silêncio das ditaduras.