O impacto das grandes obras sobre a demanda de trabalhadores da construção civil é cada vez maior em nossa região e não apenas em Campos. Quem tem alguma experiência está empregado ou com trabalho de empreitada em fila e com bons ganhos.
Os encarregados estão sendo disputados quase a tapa. Os bons, experientes, com boa liderança sobre equipes e com habilidade em leitura de plantas, estão estipulando salários e mandando mais que engenheiros e até sobre diretores das empresas.
Alguns especialistas em áreas específicas dentro do processo de construção também estão bem remunerados. Ajudantes e auxiliares aos poucos estão se transformando em pedreiros. Gente de fora está sendo recrutada, mesmo para as obras mais simples de construção predial.
Se de um lado a notícia é boa para os profissionais da área, que ficam longe do desemprego e conseguem disputar melhores salários, de outro, é parada indigesta para empresas de menor porte, que tem menor poder de fogo, margens mais estreitas de lucros e desta forma, sofrem com atrasos em seus cronogramas e ameaças constantes dos seus contratantes.
Veja a imagem ao lado feita ontem, na esquina das ruas Dr. Siqueira com Barão no Parque Dom Bosco, em Campos. Uma obra simples de escritórios e lojas com dois andares que ostenta há dias a faixa de "precisa-se de pedreiros".
A dinâmica econômica deste setor, que manteve em Campos, mesmo nos tempos mais bicudos da recessão econômica, uma atividade permanente de obras, com a construção pelo regime de condomínios, agora passa a viver um num novo patamar de negócios.
O setor de construção civil que também vive constantemente sobre pressões e especulações imobiliárias, às vezes criadas pelas próprias, numa lógica de renda de aluguel e de venda com controle sobre o mercado, passou a ter que enfrentar, de forma cada vez mais intensa, a concorrência de construtoras de fora.
Estas empresas estão chegando à região com tecnologias novas e de menores custos. Financiamentos próprios ou articulados por cima, movimentando e buscando domínio sobre este novo mercado que vive, já há cinco anos, sob a égide do que poderá vir a ser um adensamento populacional.
Continuemos observando. Com a palavra os nossos leitores-colaboradores.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
9 comentários:
As empresas pequenas não vão aguentar e isso é péssimo de todos os pontos de vista. Menos de cima para baixo.
Isso obriga as empresas pequenas a reduzir tantos os custos que acaba interferindo nas boas práticas de construção, proteção dos trabalhadores, recolhimento de impostos, qualidade dos materiais, de gestão etc.
No fim, a sociedade tambem paga por isso, de um jeito ou de outro.
Mais uma vez, o poder regulatório cai nas mão do governo que, como todos sabemos, diz que protege a micro e pequena empresa. Apenas diz.
Eu sempre digo que 'a historia se repete em todos lugares, em niveis e esferas diferentes'.
Num futuro nao tao distante, guardadas as devidas proporçoes, iremos ver aqui o "fenômeno" americano: milhares de "mexicanos" (leia-se nordestinos) irão "atravessar as fronteiras" em busca do "sonho dourado" de uma vida melhor.
Se na terra do Obama a taxa de desemprego de 8,5% assusta os americanos, estima-se que mais de 20 mil atravessaram a fronteira em 2011/12 com sucesso.
Lá chegando, nao tendo onde morar, dormir, o que comer - e sem sequer falando o idioma local - aceitam todo tipo de serviço preterido pelos locais - com destaque para a construçao civil, prestaçao de serviços e atendimento em restaurantes.
Em pouco tempo, conseguem estabelecer-se, ter varios beneficios e uma poupança razoavel - mesmo que sempre sob o risco da imigraçao que, muitas vezes, faz vista grossa pq precisa de quem faça tais trabalhos.
Resumidamente falando, o que hj é feito pouco caso pelos trabalhadores locais, em breve será abocanhado por "forasteiros determinados em vencer na vida" - que trazem na bagagem outros tantos "sonhadores que nao pensam no amanha".
O resultado disso, é a desvalorizaçao da mao-de-obra em geral - que, devido ao desespero dos estrangeiros, aceitam receber qualquer valor pelo serviço - e o aumento da violencia, associada ao consumo de drogas e alcool, muitas vezes utilizados por quem veio, se perdeu ou nao se adaptou, entregando-se à depressão e à auto-destruiçao; e pela'queles que querem a "vida facil", de esperar alguem ganhar 1 mes de sacrificio remunerado para usurpar-lhe em poucos segundos no primeiro sinal de transito engarrafado que já se forma.
Lembra da "crackolandia do centro" de Campos, ha poucos dias relatada no blog? Pois é.
Há 5 anos, no Rio, tbm eram só um grupo de 15, 20 pessoas em prédios abandonados. Hoje, já sao milhares e na capa dO Globo a contatação: o Estado nao está preparado para lidar com o problema. 5 longos anos depois.
Aqui, vemos a formação, a proliferação e o descaso: "o mesmo erro se repete, em esferas diferentes".
A mao de obra que hoje falta, seja por despreparo dos trabalhadores locais, defasagem de profissionais ou desdém de quem pode investir no setor mas "acha que isso não é vida", será suprida e dominada por quem vem de fora.
Lembra aquele velho ditado: "tem gente que quer EMPREGO, mas nao quer TRABALHO"? Pois é. Parece que tem mt gente por ai assim.
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Para encerrar, ao comentarista "Splanchnizomai abraçando o amanhã" sua arrogância gramatical tornou tolo o seu comentario, uma vez que o foco do assunto era outro e o que disse nada muda o quadro que vemos.
Pra um país que igualou: "Para" com "pára", precisa-se de mais atitude social que de esnobismo cultural.
Caro Paulo,
Eu não creio que teremos migrações de nordestinos em grandes intensidades como em décadas anteriores com a construção civil, ponte Rio-Niterói e metrô no Rio de Janeiro (década de 70), por um simples motivo, há por lá alternativas de emprego, mesmo que mais concentradas nas capitais e no litoral.
Um exemplo? As obras do Comperj em Itaboraí e outras na região metropolitana. A grande quantidade de jovens trabalhadores nas periferias destas regiões, São Gonçalo, Magé, Caxias e Nova Iguaçu dão conta da demanda ali surgida.
Pontualmente, teremos sim, alguns de outras regiões, em funções mais especializadas e não para outras mais simples.
O adensamento que poderá ocorrer será de jovens (na maioria homens) de algumas cidades do noroeste fluminense e mesmo aqui dos bairros mais periféricos de Campos.
O fato de estarmos vivendo um momento em que muitos projetos estão sendo implantados em diversos estados e regiões ajuda neste quadro.
De toda a sorte tirando a área de construção que no pico de implantação dos projetos empregam e demandam muita gente, a necessidade de mão de obra, para operação, mesmo que todos os projetos anunciados sejam colocados em prática, será menor do que aquilo que hoje se apregoa como forma, de amortecer algumas resistências.
De qualquer forma, há que se conferir estas possibilidades e cabe ao Poder Público, o papel de regular e tentar incluir o máximo de habitantes locais, no baile do crescimento econômico, assim, como buscar o desenvolvimento social e a justiça ambiental de forma a se ter uma vida melhor para todos e não lucro para alguns.
Este é o desafio. Para isto há que conhecer esta realidade e tentar de forma participativa com a população discutir projetos e ações.
Sds.
Respeito em demasia sua colocação, Roberto, mas reitero que "nordestinos" - assim com "mexicanos" seriam citações coloquiais, uma vez que não só pessoas da terra do Chapolin atravessam a fronteira, como tambem brasileiros, argentinos e uma gama sem fim de sonhadores. Da mesma forma que "nordestinos" foi uma forma de generalizar um grupo miscigenado ao extremo de várias localidades.
A essência do meu comentario era que a dominancia externa poderia ser enorme, como ja acontecem em "outras esferas".
Nada disso, no entanto, contrapõe seu comentario, que complementa a a sadia discussao.
Forçar a inclusao dos locais no mercado de trabalho é a mesma atitude que leva o Ministerio da Cultura a "obrigar as redes de Tv por assinatura a disponibilizar 20% da sua programaçao de canais e conteudos nacionais".
Pela falta de qualidade/qualificação presentes em ambos os casos, "exigir" que seja assim nao ajuda mt. Pelo contrario: poderá dar má fama aos que trabalham bem (vide a vergonhosa fama que os campistas tem de serem maus pagadores, nacionalmente reconhecida: "campista? nem à prazo, nem á vista").Voce, ele, eu... nao fomos nós que demos calote, mas a fama nos atinge, assim como poderá acontecer com a má conduta dos trabalhadores - e a famosa "preguiça baiana", que rotula injustamente a maioria da população daquele local.
Novamente, um exemplo de que "a historia se repete em esferas diferentes".
Trabalhei quase dois anos na MRV e pude observar que ao contrario do que o Paulo disse os Nordestinos que a MRV traz para Campos em questão são altamente especializados, cabendo a eles os serviços mais aprimorados. Como vc bem disse Professor nos dias de hoje esta acontecendo o inverso, pelo alto numero de obras no norte e nordeste. O retorno de famílias inteiras para seus estados de origem e algo que o IBGE vem detectando a muito tempo depois da estabilização e crescimento do Brasil. O grande problema é a especulação que estas empresas estão trazendo para Campos, dentro da corretagem da pra perceber que o valor que se cobra por um imóvel em Campos hoje você não consegue apurar nem 0,5% de aluguel. realmente tem sobrevalorização demais para um imóvel novo neste filão que os grandes construtores estão trazendo para Campos, pois o preços deveriam acompanhar a infraestrutura dos bairros e não é o que vemos. Cito o Novo Jockey que esta recebendo quase mil unidade ao custo hoje em torno de R$ 110.000,00 por mais ou menos 45 m², haja valorização com muita especulação, e infraestrutura naquela região e precária ate sem serviço postal em alguns lugares.Francisco
OH! Paulo Maciel, desculpa a vergonha que passei.
Você tem razão.
Tiro o comentário deixando bem claro que o fiz sem intenções maiores.
Desculpa-me.
Concordo sobre o snobismo cultural, pois se você soubesse quanto erro ao escrever, iria até me entender.
Erro pra caramba.
Tô nem aí para a senhora gramática.
O importante é o conteúdo. E o seu é de grande valor. E olha, com uma gramática além da minha altura. Creia.
Anonimo das 1:41 PM:
Desculpe, mas quem investe hoje em imóveis pensando em ter mais de 0,5% de rendimento é um sonhador...aliás, quem continua investindo em imóveis achando que é um "otimo negocio" ou "nunca desvaloriza", deveria estudar um pouco mais sobre como economias com a Espanhola quebraram, com imóveis sendo vendidos a preço de banana, algo que logo logo vamos ver por aqui, pois nosso governo está seguindo exatamente a cartilha espanhola.
Imóvel hoje não é bom investimento nem pra voce morar, para ganhar dinheiro com aluguel então! Para investimento existem dezenas de boas opções de fundos, por exemplo, que rendem muito mais. Só não ganha dinheiro quem não quer.
Quanto a mão de obra, até concordo que a mao de obra especializada para obras da MRV deve vir de fora, mas convenhamos também que as obras da MRV não são nada "estado da arte", são predios simples, qualquer empresa local tem condição de realizar. Entretanto, no açu a conversa é diferente, ja ouvi em conversa informal sobre dificuldade de achar pessoas na região dispostas a trabalhar, e que 90% do pessoal de uma determinada obra é do nordeste sim. E não é por nenhuma complexidade, não são vagas especificas, são as mesmas da construção civil pesada que atua na região. Ou seja: mais um reflexo da politica de assistencialismo da região, afinal, mais vale um bolsa esmola e ficar fazendo "bicos" do que um trabalho fixo o dia todo com carteira assinada, mesmo que este ultimo pague mais, a cultura do "jeitinho" é a preferida.
Para findar minha participaçao no debate, só um parêntese: eu nunca disse que os trabalhadores "forasteiros", figurativamente citados como "mexicanos"/"nordestinos" eram desqualificados.
No paragrafo, eu disse: "A mao de obra que hoje falta, seja por despreparo dos trabalhadores locais, defasagem de profissionais ou desdém de quem pode investir no setor mas "acha que isso não é vida", será suprida e dominada por quem vem de fora."
Se será "suprida" é pq atenderá a demanda. E, mais adiante no mesmo comentario, eu disse: "tem gente que quer EMPREGO, mas nao quer TRABALHO"? Pois é. Parece que tem mt gente por ai assim."
Essa citaçao vem a justamente valorizar a determinação e a dedicação com a qual quem vem de fora exerce seu ofício (ou tem sede de aprende-lo).
No mais, é um prazer prestigiar e participar de embates pares deste.
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