sábado, outubro 06, 2012

"Tudo está à venda"

O blogueiro sabe que o interesse maior dos leitores nestes dias é voltado para as eleições. Mas, o tema proposto nesta postagem, não sai tanto assim deste assunto.

Refiro-me a uma entrevista com o filósofo americano de 58 anos, Michael J. Sandel, professor da Universidade de Harvard e autor dos livros "Justiça, o que É Fazer a Coisa Certa" e "O que o dinheiro não compra". A entrevista foi publicada na revista Carta Capital na semana que se encerra hoje.

Não localizei a mesma disponível na rede para apenas fazer o link como sugestão de leitura. Assim, resolvi, trazer para este espaço alguns dos seus trechos:

Sandel critica esta "era triunfal do mercado". "Não temos mais economia de mercado, mas, nos transformamos, de fato, em uma sociedade de mercado". Ele clama pelos "limites morais do mercado e sobre a inexistência de um debate público sobre a onipresença do dinheiro na vida social do mundo ocidental".

"A crescente desigualdade social no mundo gerou uma nova cultura da autoafirmação moral que iguala riqueza com virtude".

"Um dos grandes desafios é o de traduzir crescimento econômico em segurança social que possa de fato afetar a vida dos que vivem no piso da sociedade. Os benefícios do crescimento econômico precisam ser divididos de forma mais ampla. O Brasil é um exemplo de esperança. E, quando afirmo que outros países poderiam aprender com vocês penso em países desenvolvidos, inclusive os EUA".

"Há uma profunda desilusão política e um desprezo geral pelos partidos políticos. As pessoas estão desengajadas e o discurso público abdicou-se de lidar com as questões de fato mais importantes para o cidadão. E o eleitor não é burro, ele vê isso. Eles sabem que a vida pública deveria se dar em torno de temas mais cruciais, para a sociedade, mas isso não ocorre. Por exemplo, não questiona o papel do dinheiro na sociedade ocidental contemporânea".

Sei que estou contra a corrente. Mas também podemos dizer que esse debate nem sequer passa pela mídia, o que aí sim é um abuso. A mídia americana, ao menos, também deixou de ser um fórum efetivo para a discussão de temas sérios de interesse público".

Sobre o aumento do acesso à informação nos tempos atuais, Sandel diz: "é um paradoxo imenso a relação entre mídias sociais e o nível da discussão pública. Tem-se mais acesso à informação do que antes na história, mas nunca o discurso foi tão vazio, tão pobre. Há um diferença entre maior acesso à informação e a criação de estruturas e fóruns voltados para o debate público. Universidades, partidos políticos, sindicatos e associações de moradores, ainda são as estruturas da sociedade civil necessárias para trabalhar, discutir, o que de fato importa. A enxurrada de informações online não ajuda. Ao contrário. Trata-se de uma brutal distração."

Sobre a sociedade de mercado como causa do enfraquecimento democrático ele diz que a Suprema Corte dos EUA aprovou a "marketização das eleições". "O Judiciário colocou a democracia à venda, ao acabar com as restrições às contribuições privadas às campanhas eleitorais. Neste ano o capital ditou a eleição ainda mais que antes."

"Se nos perguntarmos seriamente se há determinados valores que o dinheiro não poderia comprar, na cabeça da lista deveriam estar as instituições democráticas. O mercado não pode comprar e vender votos, o que ainda é proibido. Mas quando você permite que corporações possam controlar, comprar, campanhas inteiras e serem efetivamente donas das candidaturas, a democracia entrou na categoria do "tudo está à venda". Este é um exemplo gritante do quão corrosivo os mercados podem ser para a vida democrática".

Este último parágrafo "negritado" explica mais que os outros, também interessantes, o motivo de trazê-lo para reflexão neste atual momento, mesmo, com os questionamentos que Sandel faz, a meu juízo, corretamente, do paradoxo do vazio e das distrações trazidas pelas redes em detrimento das possibilidades que elas poderiam suscitar.

Se desejar assista a um trecho de uma entrevista do Michael Sandel ao programa Milênio da Globo News:

3 comentários:

douglas da mata disse...

Acabei de ler a entrevista a Eduardo Graça na Carta Capital.

Pensei em publicar algo, mas você me poupou o trabalho...rs.

Muito interessante o tema proposto, e mais interessante é perceber como alguns setores da blogosfera local têm trazido este debate à tona.

Legal saber que, de algum modo, há convergência destes princípios ao redor do mundo.

Claro que no caso do Michael J. sandel, com todo o estofo acadêmico, no entanto, podemos nos orgulhar de, ao menos, provocarmos esta reflexão.

Um abraço.

Roberto Moraes disse...

Olá Douglas,

Li a entrevista faz uma semana.

Separei para comentá-la.

A correria me impediu e como você não faz antes, rs,rs, eu tive que arrumar tempo.

Meu filho Caio é quem havia me apresentado o personagem com o seu primeiro livro "Justiça".

Li partes dele achei interessante a abordagem. Isto me fez ler com mais atenção a entrevista e buscar no YouTube algo mais.

O mais interessante é que sem ser marxista, ele defende a política e a participação como elemento chave para o aperfeiçoamento da verdadeira democracia.

Isto não é pouco para alguns que vivem pegando retalhos e fragmentos para justificar suas falas contra a política.

Além disso, com a entrevista é possível perceber ainda mais a americanização do nosso processo eleitoral.

Abs.

Anônimo disse...

Prof. olha o absurdo

Professoras de Campos usaram dinheiro da merenda para viagem e churrasco
Tribunal de Contas do Estado condenou diretora e adjunta de escola no Norte Fluminense a devolver R$ 137 mil usados ilegalmente. Verba pagou ainda táxis, planos de saúde e celular

http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2012-10-06/professoras-de-campos-usaram-dinheiro-da-merenda-para-viagem-e-churrasco.html